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Nº 5692
Política

ANALFABETISMO E MISÉRIA MARCAM OS 205 ANOS DE EMANCIPAÇÃO DE AL

Às vésperas do primeiro turno das eleições, alagoano percebe que realidade é diferente da propaganda oficial

Por Maylson Honorato | Edição do dia 16/09/2022 - Matéria atualizada em 16/09/2022 às 04h00

Ao celebrar a Emancipação Política de Alagoas, nesta sexta-feira (16), os alagoanos não podem deixar de refletir sobre a situação econômica e social do estado. É nisso que acreditam cidadãos ouvidos pela Gazeta de Alagoas, confrontados com dados que exibem um Estado com o maior índice de analfabetismo do Brasil e marcado pela miséria. Às vésperas do primeiro turno das Eleições, o eleitor está exigente, e percebe que a Alagoas real é muito diferente da apresentada nas propagandas.

Quando o assunto é analfabetismo, Alagoas chega aos 205 anos com o maior índice de analfabetos do País: 17,1%. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso representa 337 mil alagoanos de 14 anos ou mais incapazes de evoluir educacional, profissional e salarialmente no mercado de trabalho. Isso quando têm a sorte de conseguirem um emprego de carteira assinada. Em geral trabalham no mercado informal, vivem de bicos ou se somam aos desalentados, que nem estudam e nem trabalham. “Eu trabalho fazendo bicos e consertando bolsas, que eu aprendi com meu pai. Não tem emprego, não tem muita saída para quem não conseguiu estudar. Agora é esperar que alguma coisa mude”, diz Ítalo da Silva, de 19 anos. O jovem é um dos quase 150 mil desempregados em Alagoas. A taxa de desemprego aferida em Alagoas no segundo trimestre de 2022 é a 10ª maior do Brasil, de acordo com os dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE em agosto. A taxa em Alagoas é de 11,1%, o que significa 149 mil alagoanos estão sem emprego. Em todo o Brasil, a taxa ficou em 9,3%. “O jeito é esperar em Deus e acreditar que alguma coisa vai mudar. Alagoas comemora o aniversário, eu vou trabalhar muito pra poder comer alguma coisa. Os políticos dizem que trabalharam muito pra Alagoas melhorar, mas melhorou onde?”, questiona Ítalo. Alagoas também é o estado em que os casos de insegurança alimentar grave são mais frequentes. Aqui, 36,7% das famílias enfrentam algum nível de falta de alimentos e passam fome, conforme mostra um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), divulgado na quarta-feira (14). A pandemia empurrou para a pobreza extrema mais de 38,6 mil alagoanos, fazendo com que 1,1 milhão (1.190.647) de pessoas, 35,5% da população, vivam em situação de extrema vulnerabilidade social.

A condição da pobreza extrema é atribuída a pessoas que vivem com renda de até R$ 89. Em Maceió, 138.678 pessoas estão nesta situação. Mais de 100 entidades sociais tentam convencer o governo estadual, desde o ano retrasado, a aplicar mais recursos dos R$ 500 milhões do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) em algum tipo de socorro emergencial aos mais pobres.

“Nesta data, eu só comemoro que o alagoano é uma gente de fibra, de fé, de esperança. Mas ainda precisamos melhorar muito em muitas questões, principalmente nessa questão social. Vamos ficar de olho em quem diz que vai resolver tudo, mas não fez nada para resolver a fome do povo”, afirma a alagoana Maria Alice, de 36 anos. Nesses 205 anos de Emancipação Política de Alagoas, os 3,3 milhões de habitantes têm muito pouco a comemorar e muito a se preocupar. Principalmente com o endividamento do Estado, de acordo com o presidente do Sindicato dos Fiscais de Renda (Sindifisco), Irineu Torres. “Os alagoanos e alagoanas precisam permanecer atentos, prestar atenção no crescente endividamento do Estado. Há, inclusive, uma defasagem no que se refere aos pensionistas do Estado, um problema que precisa ser resolvido”, diz.

HISTÓRIA

A emancipação política de Alagoas ocorreu com importantes disputas políticas, que se manifestaram entre a população da época como revoltas populares. Antes, o território já era fértil e produtivo. O que hoje é o nosso Estado, era povoado por indígenas Caetés desde antes do descobrimento do Brasil. Além disso, a costa estava coberta por Mata Atlântica e rica em pau-brasil. A região foi uma das primeiras a ser explorada pelos portugueses para extração da madeira. No ano de 1534, o governo Português instituiu o sistema de capitanias hereditárias. O território alagoano nessa época passou a integrar a Capitania de Pernambuco. Com o tempo, se formam pequenas vilas e o cultivo agrícola da terra tem início, que foi elevado à categoria de comarca no ano de 1710. Mas a independência política só viria em 1817. “Nossa Alagoas é muito rica em cultura, potencial econômico, gente de bem. Mas não temos muito a comemorar. Não podemos só comemorar a história. Queremos melhorias, queremos o futuro. Nessas eleições, vamos ficar de olho”, enfatiza dona Maria Alice.

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