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ELEITORES TÊM DIFICULDADE DE ESCOLHER CANDIDATOS A DEPUTADO

Para cientista política, desconhecimento tem como base o próprio sistema político brasileiro

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Imagem ilustrativa da imagem ELEITORES TÊM DIFICULDADE DE ESCOLHER CANDIDATOS A DEPUTADO

Se os dados da pesquisa do Datafolha refletirem a fotografia do momento, pelo menos sete entre dez eleitores do País ainda não definiram seus candidatos proporcionais: deputado estadual e federal. Na última semana do pleito, esta é a decisão esperada pelos 10.603 candidatos à Câmara Federal. Destes, 184 somente em Alagoas. Há ainda outros 16.735 estaduais. Aqui 282 candidatos querem uma das 27 cadeiras da Assembleia. Os federais almejam uma das nove cadeiras das 513 existentes em Brasília. Tão importante quanto a escolha do governador e do presidente da República, ambos os parlamentos têm por obrigação criar leis e fiscalizar os chefes do Executivo lá e aqui. De acordo com a Constituição, são funções de muita relevância. No modelo do sistema político brasileiro, representarão a vontade de seus eleitores. A constatação do levantamento ocorre em meio à eleição mais polarizada que o País já vivenciou, em primeiro turno, desde a abertura democrática. Ou seja, desde que o povo teve o direito de escolher seus representantes. Mas, entre 37 partidos, poucos com ideologia definida, a “mistureba” de propostas confunde as pessoas. São nomes que vão dos integrantes de famílias tradicionais aos grotescos que tomam as ruas, nos para-brisas dos carros, paredes. Realmente não fica fácil. Em especial para os que não acompanham o noticiário político e, por consequência, a composição dos parlamentos, bem como a atuação dos eleitos. Em geral, são as gestões dos executivos que costumam ganhar visibilidade.

LEGISLAÇÃO

As mudanças na Legislação Eleitoral, que, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se aprimora a cada ano, o tempo de campanha foi reduzido, assim como o guia eleitoral, que agora tem as chamadas inserções nos intervalos comerciais. Em tempos de redes sociais, o eleitor que não for cooptado a companhar os candidatos ou lideranças que podem vir a disputar o pleito é pego, literalmente, de surpresa durante o período de campanha, que agora é de 46 dias. Com um detalhe: os candidatos proporcionais têm, em geral, pouco mais de um minuto e meio para se apresentar. Além disso, do gordo Fundo Eleitoral, destinado exclusivamente para o pleito, os candidatos à reeleição pegam a maior fatia, em detrimento dos novos inscritos. De certa forma isso cria outra barreira para os novatos se tornarem conhecidos, já que até os que já foram eleitos vivem essa realidade.

ESTRATÉGIA

A Gazeta procurou líderes de partidos e coordenadores de campanha. Mas, por causa do tema delicado, ninguém aceitou falar claramente como resolvem esse problema do desconhecimento de algumas candidaturas. Ainda assim, dois especialistas ligados a alguns partidos toparam explicar como resolvem a situação.

Uma fonte ligada ao PSD, que tem como candidato o ex-prefeito Rui Palmeira, explicou que, desde o início, o próprio candidato que comanda a legenda faz o chamado, no guia, para os eleitores votarem nos candidatos da legenda.

“De alguma forma é uma maneira de chamar a atenção das pessoas para que tentem fixar quem são os candidatos do partido ou da coligação que precisam ser notados. Não temos dúvidas de que isso de algum modo deve atrair, até porque o candidato ao governo é muito conhecido, vem de uma família com tradição política e administrou a capital. Mas, não se pode negar que o fato de existirem muitos candidatos e o tempo ser curto, no final cada um acaba tendo que criar suas próprias estratégias”, ponderou a fonte. Um outro grande partido que vive uma situação complexa é o MDB. Com vários quadros com mandato e outros de expressão buscando espaço, o cabeça da chapa do partido, o deputado Paulo Dantas (MDB), não “chega junto” de ninguém. Pelo menos no guia eleitoral. Nas bases, até sai na foto, marcha ao lado nas caminhadas, aparece nas fotos de adesivo, mas nada de personalização. “Seria muito complicado para ele fazer isso, já que, em princípio, todos têm o mesmo espaço e direito à visibilidade. Por isso, o candidato sabe da situação, já viveu isso quando disputou uma vaga na Casa e consegue equilibrar a relação priorizando agendas individuais, mas sem capitalizar isso para a campanha macro, a que vai para a grande mídia”, disse um dos especialistas que trabalha com a coligação. Ele lembrou que, além da própria legenda do majoritário ainda há os partidos da coligação. Então, de algum modo, todos buscam sanar a dificuldade de visibilidade a seu modo, com estratégias próprias. Não é tarefa da campanha central articular essa situação, mas sim apoiar a todos com o mínimo, como presença nos grandes eventos, disponibilidade para gravação para as redes sociais. Porém, sem privilégio para ninguém. Até porque a própria regra do pleito não deixa margem para algo assim.

ANÁLISE

Segundo a cientista política e professora da Ufal Luciana Santana, o problema do desconhecimento do eleitor tem como base o próprio sistema político brasileiro. A quantidade de partidos, em sua avaliação, não ajuda ao eleitor fixar conteúdos, muito menos criar uma identidade partidária. “Você tem um número grande e faz com que as pessoas não tenham identificação partidária. O fato de ser lista aberta amplia a dificuldade porque o eleitor vota em pessoas e não se atentam para as propostas ou o partido. Por exemplo, se está alinhado com o candidato a governador ou presidente”, lembrou Luciana. Outra dificuldade destaca envolve o distanciamento do cidadão com as atribuições dos parlamentares estaduais e federais. Em sua avaliação, isso ocorre por causa de uma “cultura” de se dar maior visibilidade ou destaque apenas às funções executivas. “As pessoas não sabem muito a função de cada um deles. As pessoas acham que os prefeitos, governadores e presidente são quem resolvem a situação. Não compreendem como acontecem a relação que eles têm e o papel importante que o Legislativo possui nas decisões do Executivo”, completou a cientista. Ela também considera importante discutir a essência do que ocorre durante os mandatos. Há uma distância do que pode ser, para o que realmente ocorre durante a atividade legislativa. Para isso cita como exemplo que, por ofício e origem, o legislador elabora projetos a partir de propostas próprias ou de grupos. Mas, na realidade, boa parte do que é aprovado e é realmente efetivado são matérias oriundas do Executivo. “Quando observamos na prática, as chances de um deputado aprovar um projeto dele é muito pequena. No Brasil, os projetos que entram pelo Executivo (presidente ou governador) é que têm maiores chances de tramitar e serem aprovados durante o mandato. A porcentagem de deputados que efetivamente aprovam um projeto de lei de sua autoria é muito pequena. O tempo para que haja uma aprovação é muito maior. O Executivo no Brasil tem um grande poder de agenda de veto. Ainda assim, o Legislativo também tem um papel importante para apresentar emendas, vetá-lo e a própria deliberação sobre o tema. Quem define se o projeto avance e siga adiante são os próprios deputados”, analisou Luciana.

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