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Nº 5759
Política Aumento da vazão do rio São Francisco está dificultando o acesso a povoados no município de Pão de Açúcar

CHEIA DO SÃO FRANCISCO DIFICULTA ACESSO A POVOADOS EM PÃO DE AÇÚCAR

Enquanto isso, em Piaçabuçu, o aumento da vazão leva benefícios com dessalinização do Velho Chico

Por Mariane Rodrigues | Edição do dia 24/01/2023 - Matéria atualizada em 24/01/2023 às 04h00

Se em alguns municípios ribeirinhos o aumento da vazão do Rio São Francisco causa transtornos a comerciantes e moradores em decorrência do aumento do volume de água, como é o caso de Pão de Açúcar no Alto Sertão de Alagoas, a situação muda de figura quando se trata de Piaçabuçu, o último município de Alagoas banhado pelo Velho Chico. Em Pão de Açúcar, houve danos em alguns imóveis, casas de veraneio e, principalmente, aos comerciantes que possuem barracas fixas às margens do rio. Segundo a Prefeitura de Pão de Açúcar, o órgão realocou comerciantes para uma parte mais alta, dando assim condições de trabalho. Por lá, povoados como Santiago, Jacarezinho e Limoeiro, além de localidades do município de Belo Monte, tiveram os acessos dificultados porque a vazão aumentou o volume do rio e este invadiu o Riacho do Farias, obstruindo os acessos. Confirme explica o órgão municipal, as comunidades não ficaram isoladas por causa de outras estradas que precisaram ser abertas. Medida tomada previamente porque era comum as comunidades ficarem isoladas com a vazão. Também devido à cheia do Riacho Grande, em decorrência do volume do Velho Chico, o povoado Ilha do Ferro teve seu acesso dificultado. Desde o dia 5 de janeiro, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Eletrobras Chesf) aumentou a vazão da Usina Hidrelétrica de Xingó para garantir a navegabilidades da procissão fluvial em homenagem a Bom Jesus dos Navegantes, Penedo. O procedimento foi solicitado pela Prefeitura de Penedo e foi encaminhado por meio do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF). Com isso, a vazão da Usina de Xingó passou de 1.500 metros cúbicos por segundo (m³/s); na sexta (6), o volume subiu para 1.800 m³/s; e no sábado, o patamar voltou a 1.500 m³/s. No entanto, a Chesf atualizou os patamares de vazão das usinas hidrelétricas de Sobradinho (BA) e Xingó (AL). Segundo a companhia, o aumento gradual da saída de água dos reservatórios ocorre devido à situação de cheia na Bacia do Rio do São Francisco. A operação segue as regras e diretrizes vigentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com isso, houve o aumento do volume de água de 3.500 metros cúbicos por segundo (m³/s) no sábado e domingo (14 e 15 de janeiro), passando para 4.000 m³/s na segunda-feira, dia 16. A Eletrobras Chesf reforçou que a Bacia do Rio São Francisco se encontra no período úmido, reafirmando, assim, a importância da não ocupação do leito do rio, considerando que a vazão de máxima (de restrição) do vale do São Francisco a partir da Usina Hidrelétrica de Sobradinho é de 8.000 m³/s.

PIAÇABUÇU

A vazão atinge os municípios ribeirinhos de maneiras distintas. Em Piaçabuçu, onde tem a foz do Rio São Francisco, as comunidades quilombolas, prejudicadas pela salinização do rio, aproveitam o benefício do retorno da água doce. Localizado entre o extremo litoral Sul de Alagoas e o Baixo São Francisco, o município com pouco mais de 17 mil habitantes só tem benefícios com a abertura das comportas da hidrelétrica de Xingó. É que por lá, a população tem sofrido com a salinização do Rio São Francisco em Piaçabuçu, em especial as comunidades quilombolas, que veem na vazão o retorno da água doce, nem que seja por alguns meses. “A vazão só traz benefícios em Piaçabuçu, porque a gente tem a foz. Com o nível baixo, o mar entra no rio, salinizando boa parte da água na extensão de Piaçabuçu. E por isso, várias comunidades ficam prejudicadas por falta de água para qualquer tipo de consumo. Com a vazão, o rio ganha mais força, deixando esses povoados com água doce”, explica o coordenador da defesa civil de Piaçabuçu, Sóstenes Santos Ramos.

Duas comunidades quilombolas são diretamente beneficiadas com a vazão: a Potengy, que possui 300 famílias morando no local; e a Pixaim, que tem 50 famílias vivendo às margens do Rio São Francisco. Conforme explica a Defesa Civil desse município, essas famílias quilombolas, devido à salinização do rio, precisam caminhar longas distâncias para conseguir pegar água para uso das necessidades básicas, o que não é preciso ser feito com frequência quando a água fica doce pelo processo de vazão, porque a água do rio passa a ser captada pelas comunidades.

Segundo a Prefeitura de Piaçabuçu, a salinização do Rio São Francisco na região foi provocada por fatores como o assoreamento, a transposição do Velho Chico e pela desmatamento das matas ciliares. O processo danoso à população ribeirinha segundo o órgão, vem ocorrendo há mais de uma década. Por causa desse fenômeno, a prefeitura instalou próximo a essas comunidades equipamento dessalinizador para que as famílias tenham acesso a água própria para uso. A salinização ocorre quando a água do mar invade o rio. Segundo a Prefeitura de Piaçabuçu, a água salgada tem invadido em torno de 8 a 10 km. O aumento da vazão, em termo popular, faz a água do rio ter mais força a ponto de impedir o avanço da água salgada. De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Piaçabuçu, Sóstenes Ramos, a vazão do Velho Chico consegue manter a água doce em Piaçabuçu por dois a três meses.

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