Nas últimas semanas, casos de violência em escolas do País e ameaças de ataques em unidades de Alagoas têm colocado educadores, famílias e toda a comunidade em alerta para a problemática envolvendo o ambiente escolar, que deveria ser marcado pela convivência harmônica, colaboração, aprendizado e espírito de equipe, e não, pela insegurança e intolerância. Em decorrência disso, psicólogos reforçam a importância de prestar atenção ao bem-estar emocional e mental de adolescentes. Em Alagoas, a rede municipal de Maceió conta com 64 psicólogos e 93 assistentes sociais, enquanto a rede estadual possui quatro assistentes sociais e três psicólogos.
Segundo Aldynne Fernandes, psicóloga clínica e escolar, a situação nas escolas está muito fora do comum, impulsionando o debate sobre a saúde mental de adolescentes, assim como o impacto das redes sociais nestes episódios. “Estamos vivenciando um caos na educação, um momento difícil que nunca imaginaríamos passar. Isso tem gerado pânico e preocupações em toda a comunidade escolar. Precisamos de estratégias de segurança e resolução do problema, a exemplo de investimentos em relação à prevenção e promoção da saúde mental dos alunos. É necessário haver um acompanhamento psicológico, projetos voltados para os pais e preparação de estudantes e professores para situações de conflitos”, avaliou. A escola precisa ser um ambiente acolhedor e que perceba comportamentos de risco nos alunos.
“O papel do psicólogo na unidade de ensino é justamente facilitar processos. As pessoas ainda têm a falsa ideia de que o trabalho do profissional é voltado para solucionar problemas, porém, o foco é a prevenção e promoção da saúde mental”, destacou a psicóloga. A família, na visão da psicóloga, também tem papel fundamental para colaborar com a construção de uma cultura de paz nas escolas. ”Os pais precisam acompanhar de perto os seus filhos, ter um vínculo, dialogar mais. A família também precisa ficar alerta aos conteúdos que são consumidos pelos menores na internet e se eles estão apresentando comportamentos de isolamento, por exemplo”, acrescentou.
GRUPOS DE REFERÊNCIA
A psicóloga e psicoterapeuta Yana Marques explica que o cenário de intolerância e violência visto nas escolas pode ser explicado de maneira multifatorial. “Aqui, destaco dois pontos relevantes para essa eclosão no cenário atual: primeiro, a influência de grupos de referência de valores, crenças e formas de comportamento é uma motivação, sobretudo os que estão inseridos no mundo digital. Um dos motivos pelos quais os jovens aderem às gangues como modelos a serem seguidos pode ser explicado pela necessidade da busca de respostas para suas necessidades humanas, despertando sentimento de pertencimento, a busca pela construção de sua identidade, a autoestima e proteção. Nesse caso, o comportamento violento pode surgir como uma 'solução' para os seus problemas em curto prazo. Segundo, a violência também pode ser desencadeada pelos estereótipos dos adultos em relação ao jovem e ao adolescente e pelos preconceitos, discriminações e estigmas que, embora sejam de origem social, adentram o espaço escolar”, destacou. O diálogo constante entre a escola e os alunos também é defendido pela profissional como uma das principais ferramentas contra a violência no ambiente escolar. “As unidades de ensino precisam criar um ambiente acolhedor, em que crianças e jovens se respeitem, estimulando conversas sobre as emoções, valorizar a diversidade, combater o bullying e a agressividade, diminuindo, assim, a chance de tragédias como as que vêm ocorrendo”, ressaltou