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Nº 5824
Política

Ap�s virar prefeito, Almeida fecha cl�nica m�dica gratuita

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Por | Edição do dia 30/01/2005 - Matéria atualizada em 30/01/2005 às 00h00

ODILON RIOS Criadas para dar assistência às camadas mais pobres da população alagoana – e a potenciais eleitores –, as três clínicas de atendimento médico gratuito que eram mantidas pelo prefeito Cícero Almeida (sem partido) fecharam as portas há dois meses. Localizadas em dois bairros da periferia de Maceió (Jacintinho e Prado) e usadas para elegê-lo sucessivamente deputado estadual (em 2002) e prefeito (em 2004), perderam a função após a vitória de Almeida. “O prefeito acabou com as clínicas porque está trabalhando para dar uma saúde municipal digna e de qualidade à população, como prometeu na campanha”, disse o assessor do prefeito, Roberto Lopes, explicando que o trabalho “social”, como adjetivou, está agora aos cuidados do secretário de Saúde, João Macário. As clínicas apareciam no guia eleitoral do prefeito durante a campanha e chegavam a incomodar o então candidato governista e vice-prefeito Alberto Sextafeira (PSB), responsabilizado pela situação de caos e superlotação nos hospitais públicos de Maceió. Para endossar a falência do sistema público de saúde, as clínicas de Almeida eram lembradas como ponto de referência de boa gestão de um serviço considerado público. A aparição de Almeida na TV enquanto repórter policial e o suposto “trabalho social” desenvolvido por ele com as clínicas acabaram se transformando em trampolim político de Almeida, com votos garantidos especialmente nas grotas, favelas e áreas mais miseráveis da capital, onde o hoje prefeito era recebido como um “justiceiro”, um homem que com o microfone na mão combatia o crime. O fechamento das clínicas e o fim da fase de repórter policial encerraram este primeira ciclo populista de Almeida. Estratégia antiga A idéia das clínicas não é original. Graças a serviços semelhantes, deputados e vereadores conseguem, com folga, passar no teste das urnas em época de eleição, e muitas vezes se perpetuam, por meio de mandatos sucessivos, nos legislativos municipal e estadual. O vereador Galba Novaes (PL), por exemplo, campeão de votos na capital, mantém um instituto que ajuda a população carente no Tabuleiro do Martins. A vereadora Fátima Santiago (PTB) tem uma clínica nos mesmos moldes das que Almeida mantinha na periferia, funcionando também no Tabuleiro do Martins. O deputado estadual cabo Luiz Pedro (PDT) mantém em seus conjuntos residenciais, também no Tabuleiro do Martins, uma espécie de lei de ordem, em troca dos votos dos menos esclarecidos. Inevitavelmente, os serviços acabam loteando politicamente áreas da cidade e não é por acaso que são montados em áreas pobres. Para tentar aproveitar o vácuo do “trabalho social” desenvolvido nas clínicas, o coordenador das instituições, Nery Almeida, primo do prefeito, se lançou candidato a vereador, mas não teve a mesma sorte do seu parente. “As clínicas faziam parte de um trabalho social e supriam a carência da população”, afirmou Nery, evitando se aprofundar no assunto. “Vocês podem entrar em contato com a assessoria do prefeito e ter mais informações”. Após perder a eleição, Nery ganhou um cargo de Almeida na Prefeitura: uma diretoria da Superintendência Municipal de Obras e Urbanização (Somurb). Controle Em três anos, as clínicas de Almeida atenderam a 70 mil pessoas. Na época da construção da primeira delas, em 2002, o prefeito era vereador da capital e candidato à Assembléia Legislativa. “Não tínhamos controle sobre o atendimento das clínicas porque elas tinham serviços próprios. Isso somente poderia acontecer se surgisse alguma denúncia contra a entidade, o que nunca aconteceu”, diz a ex-secretária municipal de Saúde, Jacy Quintella. “Alguns pacientes eram encaminhados ao Sistema Único de Saúde para pegar remédios nas farmácias”, lembrou, evitando tecer comentários acerca do “trabalho social” desenvolvido pelo prefeito. A iniciativa chegou a ser elogiada pelo PDT nacional, partido ao qual Almeida foi filiado antes de se desligar, há dois meses. Hoje, dois prédios onde funcionavam as clínicas estão completamente abandonados. O terceiro, situado no Jacintinho, deu lugar a um escritório de advocacia. “Eles disseram que dariam férias a todo mundo e não voltaram mais”, disse Manoel Gomes da Silva, 63, dono de uma barbearia em frente à clínica que funcionava no Prado. Nas clínicas, além de clínicos gerais, existiam ginecologistas, pediatras e odontólogos. “Tinha muita gente que era atendida nelas e o povo gostava muito”, lembrou Silva.

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