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Nº 5885
Política

AMBIENTALISTAS COBRAM PROTEÇÃO LEGAL DA CAATINGA

Bioma está ameaçado pela desertificação e órgãos ambientais dizem ser necessário aumentar a repressão contra ações predatórias

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 24/06/2023 - Matéria atualizada em 24/06/2023 às 04h00

Alagoas é um dos Estados mais afetados do Brasil pela desertificação, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Os dados mostram que o Estado tem 32,8% de sua área total afetada pelo fenômeno, conforme levantamento divulgado pela Universidade Federal de Alagoas. Os pesquisadores, meteorologistas e biólogos das universidades do Nordeste afirmam que o fenômeno avança na região semiárida por conta das agressões ambientais como desmatamentos, queimadas e lamentam também que não há nenhuma ação prevista pela maioria dos órgãos de defesa ambientais para marcar o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca e conscientizar Estados, prefeituras e predadores sobre o agravamento do problema. A Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas e o Instituto Estadual de Meio Ambiente afirmam que mantêm a fiscalização para conter ações predatórias, desenvolvem política ambientais, ações de preservação de recursos hídricas e admitem que o fenômeno da desertificação é um desafio que precisa ser mais estudados pelo corpo técnico dos dois órgãos. O pesquisador e professor da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco Frederico Brandão, que desenvolve estudos em Hidrologia e recuperação de áreas degradadas, confirma que há um avanço no fenômeno da desertificação por falta de instrumentos legais contra as ações predatórias e por fatores climáticos. “O bioma da caatinga é o que menos tem proteção legal. A Mata Atlântica tem leis e um trabalho forte de conscientização social. A vegetação da caatinga carece desses instrumentos legais e sociais. Isto favorece ações predatórias como desmatamento, queimadas e outras que contribuem para o agravamento da desertificação que ocorre no semiárido Nordeste”. O professor Frederico observa, porém, que o desequilíbrio climático por causa do aquecimento global também é uma das consequências do avanço da desertificação no semiárido nordestino. O meteorologista, cientista do solo e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Humberto Barbosa, em entrevista à Gazeta em junho de 2021, revelou que as temperaturas extremas põem em xeque a sobrevivência no semiárido de micro-organismos. “A vegetação não crescia mais ali, independentemente se chovesse 500 mm, 700 mm ou 800 mm. Não fazia mais diferença, pois toda a atividade biológica do solo não respondia mais”. alertou O professor do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), monitora a situação da região desde 2012. De acordo com Humberto, Alagoas chegou a registrar 48°C em solos degradados há dois anos. As previsões climáticas, por causa do fenômeno El Niño, indicam que a estiagem a partir de agosto será prolongada e com temperatura elevada no semiárido dos nove Estados do Nordeste, constatam também os cientistas da Ufal. Além de ameaçar a vida nativa, esse fenômeno pode agravar o processo de desertificação, por causa dos crimes ambientais como o desmatamento desordenado, preveem os meteorologistas. Os outros estados mais afetados pelo fenômeno desertificação observada pelos pesquisadores são: Paraíba (27,7%), Rio Grande do Norte (27,6%), Pernambuco (20,8%), Bahia (16,3%), Sergipe (14,8%), Ceará (5,3%), Minas Gerais (2%) e Piauí (1,8%). Ima e Semarh A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que o instituto estadual de Meio Ambiente desenvolve trabalho de pesquisa, preservação do bioma da caatinga e monitora o processo de desertificação. A Semarh gerencia o Canal do Sertão, que serpenteia 123 quilômetros das regiões mais áridas do alto Sertão com água da transposição do Rio São Francisco. O canal abastece e irriga as plantações de 2 mil agricultores familiares e mais mil estão na fila para conseguir a outorgar (autorização). Os técnicos desenvolvem ações para evitar irrigações inadequadas que podem comprometer a fertilidade do solo e agravar o processo de desertificação na região, revelou recentemente o secretário Gino César. No IMA existe um trabalho forte de implantação de Unidades de Conservação, inclusive no semiárido, para aumentar a proteção dos biomas. O que causa a desertificação é uma junção da ação predatória do homem e o fenômeno natural decorrente de sazonalidades climáticas. Devido às mudanças climáticas, uso inadequado do solo e desmatamento, ocorre o aumento da fragilidade do solo principalmente na região semiárida do Nordeste e particularmente em Alagoas. IsSo aumenta a preocupação com a desertificação, destacou o gerente de Unidades de Conservação do Instituto Estadual do Meio Ambiente, Alex Nazário. O processo de desertificação em Alagoas ocorre em região semiárida, nos municípios de Mata Grande, Delmiro Gouveia e em outros prontos do alto Sertão. Ele não soube precisar a extensão dos danos. Os técnicos do IMA e da própria Semarh admitem a necessidade de aprofundar os estudos geológicos nas regiões mais afetadas para delimitar a área. O coordenador Alex Nazário explicou que tem trabalhado com atividade de alerta com Educação Ambiental, abordando temas como desmatamentos, queimadas, mal uso do solo, promovendo fiscalização para conter ações predatórias e as não autorizadas. “A criação de áreas de proteção ambiental é outra forma de prevenir e conter o processo de desertificação principalmente no semiárido”. Alex revelou que foi criada a APA da Caiçara, no semiárido, para proteger a região. “Estamos com técnicos do Ima trabalhando para conter os processos de degradação e melhorar o monitoramento do bioma”. O Instituto trabalha também em conjunto com técnicos da Universidade Federal de Alagoas no campo da biologia, conservação do solo e estudos do semiárido, engenharia florestal e agronomia. “É fundamental conhecer do ponto de vista ecológico a situação para poder desenvolver políticas públicas a fim de conter os impactos negativos de ações como desmatamento, queimadas e adotar estratégias que vão ajudar a reduzir a desertificação, também influenciada pelo desequilíbrio climático”, alerta o pesquisador e professor Rafael Vasconcelos, do Laboratório de Ecologia, Conservação e Evolução Biocultural do Campus de Engenharia e Ciências Agrária da Ufal. Segundo Rafael Vasconcelos, a Universidade atua em diversas linhas de pesquisa no semiárido. “Porém, promover novas pesquisas, fomentar políticas públicas ambientais e ter linhas de financiamento para estudos naquele bioma que tem um papel importante no clima e de biodiversidade, é fundamental neste momento”. Destacou também que no Estado há preocupação em financiar as pesquisas via Fundação do Estado de Amparo a Pesquisa. “O processo de desertificação aumenta por diversos fatores. Identificá-los é fundamental. A Fapeal neste sentido tem sido uma grande parceira da Ufal. Mas, é preciso mais pesquisas e políticas públicas na região para conter ações predatórias”, defende o pesquisador ambiental.

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