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Nº 5813
Política Maceió, 04 de outubro de 2021
Visata aérea dos bairros do Bom Parto e Pinheiro, afetados pelo afundamento do solo associado à mineração de sal-gema em Maceió. Alagoas - Brasil.
Foto:@Ailton Cruz

MINA DA BRASKEM NO MUTANGE AFUNDA 53CM POR DIA, REVELA DEFESA CIVIL

Em 48 horas, deformação do subsolo chegou a 1,10m, numa velocidade média de 2cm por hora

Por Da Redação | Edição do dia 01/12/2023 - Matéria atualizada em 01/12/2023 às 04h00

A mina de número 18 da Braskem localizada no bairro do Mutange, na capital alagoana, está afundando 53cm por dia, segundo revelou a Defesa Civil de Maceió ontem, durante reunião online com o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad).

De acordo com o órgão, em 48 horas o subsolo da região já afundou 1,10m, a uma velocidade média de dois centímetros por hora.

Segundo Victor Gama Carnaúba Azevedo, da Defesa Civil de Maceió, o órgão vem monitorando a região da cavidade 18 da Braskem com mais intensidade desde o dia 2 deste mês.

Ele conta que, a partir do dia 21, os sismos na região tiveram um aumento significativo, migrando de 200 para 500 metros de profundidade, numa área localizada entre o antigo campo do Centro Sportivo Alagoano (CSA) e as antigas instalações da Casa de Saúde Dr. José Lopes, em Bebedouro.

“A partir do dia 21 até ontem, a gente já observava uma variação de velocidade. Hoje, a velocidade [de afundamento é] de 53 cm por dia. Diante da deformação que tínhamos antes, de 26cm por ano, é uma variação muito alta”, alertou. Ele deixou claro também que essa velocidade é irreversível, ou seja, a tendência é que ela aumente nos próximos dias.

Azevedo contou que a aferição do afundamento do solo é realizada por meio de um método chamado de inverso da velocidade, usado para estimar a estrutura do subsolo a partir de dados de ondas sísmicas.

Em imagens aéreas do terreno onde está localizada a mina da Braskem, já é possível ver algumas fissuras no solo.

DOLINAMENTO

A reunião, que contou com órgãos municipais, estaduais e federais, entre eles o Serviço Geológico Brasileiro (SGB), Ministério Público Federal, Instituto do Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros de Alagoas, Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) e Instituto do Meio Ambiente (IMA), discutiu a situação da região e o que vem sendo feito para minimizar os danos que venham ocorrer em consequência de um eventual dolinamento do solo.

“Há hipótese do não dolinamento, mas há uma deformação muito grave na região. O solo afunda dois centímetros por hora, sem nenhum sinal de melhora”, alertou Victor Carnaúba. Dolinamento é um fenômeno geológico que ocorre quando o solo afunda, formando uma depressão circular ou oval.

Como 60% da cavidade 18 da Braskem está sob as águas da lagoa Mundaú, a Capitania dos Portos, que também participou da reunião de quarta-feira, passou a monitorar a região, por terra e por água, e sugeriu ampliar o isolamento da área para um raio de 1km, em vez dos 500 metros atuais.

Temendo que algo possa acontecer, a Prefeitura de Maceió disponibilizou 7 escolas do município para possíveis abrigos à população da região. Além disso, todas as unidades básicas de Saúde do município estão de prontidão, com 20 ambulâncias à disposição para qualquer eventualidade.

FATO RELEVANTE

Ontem, o governo de Alagoas emitiu Fato Relevante alertando o mercado e as instituições nacionais sobre o que considerou preocupante agravamento dos desastres ambientais causados pela Braskem em Maceió, em meio a tratativas sobre a venda de parte da empresa para o fundo árabe ADNOC.

“O Estado reitera a sua posição irredutível em defesa dos interesses de Alagoas, dos municípios da região metropolitana de Maceió e de cerca de 150 mil vítimas do maior crime ambiental urbano do mundo, provocado pela petroquímica, que vem sendo acompanhado pelo Grupo de Trabalho de Combate ao Crime da Braskem”, diz o documento.

O governo alerta que as consequências do que considera megadesastre estão longe de uma solução, como se vê com o colapso das minas de sal-gema. “O governo de Alagoas já demonstrou a existência de um passivo em torno de R$ 30 bilhões da petroquímica, conforme estudo recém-concluído. ”Qual a razão por trás deste ‘esquecimento’, que soa como uma manobra proposital, uma possibilidade de logro em curso lesando o estado e nossa gente?”, questiona.

“Este Fato Relevante serve para mais uma vez advertir as autoridades federais competentes da nossa preocupação e firme intenção de ir às últimas consequências institucionais e legais para fazer prevalecer os direitos dos credores alagoanos, já supracitados, que sorrateiramente se tenta ignorar”, prossegue.

Mais cedo, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, que esteve em Alagoas para o lançamento da Caravana do Brasil sem Fome, informou que o Presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, determinou a várias áreas do governo cuidar da situação em Maceió. “Trata-se de responsabilidade de uma empresa privada, mas o governo federal está dando as mãos com o governo do Estado, com município e sociedade, pra gente cuidar de quem precisa”, disse.

O encontro de ontem foi conduzido por Tiago Molina Schnorr, coordenador do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), vinculado ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Outra reunião está prevista para acontecer na manhã de hoje (1º), com o objetivo de passar novas informações sobre o caso.

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