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Nº 5759
Política

MACEIÓ ESTÁ NA ROTA DE FENÔMENO QUE PODE ACELERAR COLAPSO EM MINAS

Projeção de meteorologista da Ufal mostra que, em caso de chuvas intensas, áreas afetadas pela mineração podem sofrer novos abalos

Por thiago gomes | Edição do dia 09/12/2023 - Matéria atualizada em 09/12/2023 às 04h00

Não se trata de uma previsão astrológica, nem de uma profecia bíblica, mas o cenário meteorológico em Maceió, atualmente, se assemelha ao de 2018, quando uma chuva intensa nos bairros afetados pela mineração antecedeu um tremor de terra de magnitude 2,5 na escala Richter na região, expondo as primeiras rachaduras nos imóveis.

Caso chova uma média de 200 milímetros no intervalo de 10 horas, ou de forma moderada durante três dias consecutivos na capital, com concentração na área de afundamento geológico, o risco de novos abalos sísmicos acontecerem com o consequente desmoronamento do solo é muito elevado.

Essa é a projeção feita pelo meteorologista Humberto Barbosa, fundador e coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O professor monitora o desastre desde o começo e, agora, intensificou as pesquisas diante do alerta emitido pela Defesa Civil de possível colapso da mina de sal-gema número 18, da Braskem, localizada no bairro do Mutange.

Um artigo publicado pelo Instituto Letras Ambientais, de Alagoas, detalha o quadro atual e faz um comparativo com os primeiros meses de 2018, quando a população do Pinheiro foi surpreendida com um terremoto e, a partir dele, percebeu as primeiras fissuras, rachaduras e quebramentos nos imóveis e ruas daquele bairro.

Consultado, o professor alertou que o cenário atual é muito parecido. Em fevereiro de 2018, a movimentação do solo em Maceió se deu após fortes chuvas. Em março daquele ano, a situação piorou, novamente com associação às precipitações em grande volume, seguidas de um tremor de terra, sentido pelos moradores.

Barbosa informou que, na época, um dos sistemas que influenciaram as chuvas intensas foi a presença de um fenômeno meteorológico chamado Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), interagindo com a circulação anticiclônica sobre o continente, denominada Alta da Bolívia, causando a passagem do vento em altos níveis sobre Maceió.

Coincidentemente, outro fator se aliou: a Zona de Convergência do Atlântico Norte (ZCAS), que se configura em uma faixa de nuvens que atuou por mais de 10 dias entre a Bacia Amazônica e o Atlântico Sul. Tudo isso junto justificou a enorme quantidade de nuvens de chuvas sobre a capital.

Em dezembro e janeiro, período da pré-estação chuvosa na região, esses sistemas meteorológicos causadores de fortes chuvas no Nordeste são mais comuns. O principal deles é o VCAN. E, de acordo com o coordenador do Lapis/Ufal, o fenômeno El Niño, que atua no Brasil com muita força em 2023, amplia a frequência e intensidade dos VCANs.

Vórtices ciclônicos são fenômenos atmosféricos que se alimentam de calor, que podem durar semanas e cobrir a área de vários estados. Seu centro é uma área de alta pressão, que comprime, esquenta e seca o ar. Já as bordas têm baixa pressão, com ventos poderosos e chuvas torrenciais.

Para o professor, esses sistemas podem gerar chuvas fortes, capazes de provocar desmoronamentos de terra nos bairros de Maceió e levar as minas da Braskem ao colapso.

Pela explicação dele, a alta umidade e infiltração de água no solo pode ser um gatilho para desabamentos em Maceió. O solo aquecido pelas altas temperaturas, combinado com a chegada de grande volume de chuva, pode representar perigo para as áreas de risco na capital.

EL NIÑO

Humberto Barbosa, acrescenta que neste ano, o mais quente já registrado, o El Niño se soma ao aquecimento da atmosfera, que também favorece a formação de VCANs. A cada 1 grau Celsius de elevação da temperatura, aumenta em 7% a disponibilidade de umidade na atmosfera. Há, assim, o combustível necessário para extremos meteorológicos.

Foi um VCAN que provocou chuvas superiores a 300 mm em 24 horas em Natal na semana passada. Se tivesse chovido da mesma forma em Maceió, o risco de desmoronamento seria muito aumentado, diz Barbosa.

“É um possível gatilho. Não sabemos qual é a resistência dessas áreas sob alta taxa de umidade e infiltração. Não existe um limiar de resistência conhecido para o tabuleiro de Maceió”, afirma Humberto Barbosa, também coordenador do grupo de degradação do solo do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Um VCAN sobre o Nordeste foi detectado em fevereiro de 2018, quando Maceió foi castigada por grande temporal. Na última quarta-feira (6), um deles estava sobre o nordeste de Goiás, provocando apenas chuva fraca em Maceió. Na quinta, o sistema se deslocou para o sul do Pará.

Segundo o professor, a duração e a intensidade das chuvas são fatores decisivos para provocar deslizamentos de terra, especialmente na área onde estão localizadas as 35 minas da Braskem. Isso acontece por uma combinação de motivos: a umidade do solo aumenta o peso e reduz a resistência às tensões, enquanto o nível do lençol freático afeta a pressão da água nos poros.

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