app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5759
Política Maceió, 11 de dezembro de 2023
Pescador da lagoa Mundaú em Maceió. Alagoas - Brasil.
Foto:@Ailton Cruz

SEM RENDA E COM AS CONTAS ATRASADAS

A pesca na Lagoa Mundaú continua vedada na maior parte de sua extensão por causa dos riscos que envolvem a mina 18, desde o final de novembro. Impossibilitados de obter o sustento, os pescadores estão sem renda e com as contas em atraso.Sem ter para quem

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 16/12/2023 - Matéria atualizada em 16/12/2023 às 04h00

A pesca na Lagoa Mundaú continua vedada na maior parte de sua extensão por causa dos riscos que envolvem a mina 18, desde o final de novembro. Impossibilitados de obter o sustento, os pescadores estão sem renda e com as contas em atraso.

Sem ter para quem apelar, eles demonstram muita preocupação com o que pode acontecer com sua fonte de sustento, que, durante anos, garantiu sua sobrevivência e a de sua família.

Um deles, Cícero Feitosa, 66 anos, pai de oito filhos, mas que atualmente só vive com a esposa, diz estar passando necessidade. A conta de água chegou acima de R$ 300 e já está em atraso. Enquanto fazia manutenção na rede de camarão, ele contou que espera ansioso o seguro defeso prometido desde a semana passada.

“Pra quem sempre viveu dessa lagoa, que quando não dá o que é pra vender, no mínimo garantia o que comer, a situação tá difícil”, desabafou.

Com uma vida dedicada à pesca desde a adolescência, Cícero conta que da lagoa sai o camarão, camorim, bagre e siri.

“Esta lagoa aqui é uma mãe. Sempre dá o que a gente precisa. O camarão mesmo, no final da tarde na lua de quatro (quarto minguante), é sempre farto. Antes a pessoa podia fazer uma dívida na rua que conseguia tirar o sustento. Mas, desde que começou esse negócio do sal da Braskem, estamos aqui sem saber o que fazer. Já estou pedindo ajuda aos filhos, mas eles também já têm suas famílias”, explicou Cícero.

O fim do ano sempre é um período em que a venda de pescado sobe um pouco mais por causa da procura. Este ano, porém, a situação mudou. A “roupa da festa”, como disse o pescador, ficou para trás, porque o que entra de dinheiro é só para comer.

O pescador diz que o defeso vai servir para colocar as contas em ordem, se sair antes do Natal, e garantir uma janta boa e guardar um pouco para manutenção da canoa. Ele conta que, por causa do contato direto na água e da umidade, há sempre necessidade de colocar cola para vedar as emendas da madeira, além de cuidado com o motor da canoa. Isso é o que garante buscar o peixe em pontos mais distantes.

A esposa, que também o ajudava a despinicando o sururu, que é retirada manual da casca, também não tem mais o que fazer, porque o molusco também já vinha sumindo aos poucos, e este ano foi um dos piores para a sua retirada.

“Sou um pescador completo. Sei pegar ele também porque ajuda na comida e na venda. Mas não tem muito o que fazer. Tenho fé que Deus, se quiser, pode mudar tudo e voltar como era antes, mas os homens têm que fazer sua parte também. De conversa, hoje em dia, nós já estamos cheios”, desabafou Cícero.

PREOCUPAÇÃO

Depois de tentar e não pescar nada, após jogar a rede em quatro pontos diferentes, Márcio André Galvão de Oliveira, 45 anos, desistiu. Quando voltava para casa pela margem da lagoa, aceitou falar escondeu sua indignação.

“Veja se cobra aí para o dinheiro do defeso sair, porque não temos mais a quem apelar. Minha mãe, que tem uma aposentadoria do meu pai e que nem sai toda, porque ele antes de morrer fez empréstimos, é quem tá ajudando a manter a feira. Graças a Deus os meninos ainda estão estudando e a escola dá a merenda. Mas daqui a pouco param às aulas e aí como é que vai ficar a situação?”, indagou Márcio.

A geladeira que ele havia prometido para a mãe no final do ano vai cada vez ficando um sonho distante. Morador do Bom Parto, ele conta que sua casa entrou na linha de indenizações e que havia uma promessa de receber R$ 40 mil de danos morais, mas até o momento nada.

“Deixei minha casa. Estou morando em outro local. Falaram em indenização. Fomos no advogado lá pras bandas do bairro do Farol, mas até agora ninguém viu a cor do dinheiro. Disseram que era outubro, depois novembro, chegou dezembro e nem a bermuda do Natal eu comprei. Os meninos já estão cobrando roupa também e a geladeira que prometi a minha mãe, que é quem me ajuda, tudo indica que não vai sair”, lamentou Márcio.

Mais matérias
desta edição