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Nº 5759
Política

GRUPOS AFRO REFORÇAM LUTA DO POVO NEGRO EM ALAGOAS

Parque Memorial Zumbi dos Palmares, na Serra da Barriga, concentrou no estado os eventos do Dia da Consciência Negra

Por Marcelo Amorim | Edição do dia 21/11/2019 - Matéria atualizada em 21/11/2019 às 06h00

/Grupos de capoeira também aproveitaram para fazer apresentações no Parque Memorial Zumbi dos Palmares

União dos Palmares - Este mês de novembro é dedicado à consciência do povo negro, que de acordo com o IBGE já é a maioria da população brasileira - 56% dos brasileiros se declaram negros. Embora sejam dominantes em número, ainda precisam lutar por mais igualdade, justiça social e respeito às tradições afro-brasileiras. E foi justamente isso que fizeram durante todo o dia de ontem, 20 de novembro, nas comemorações pelo Dia da Consciência Negra. O local teve como cenário o Parque Memorial Zumbi dos Palmares, na Serra da Barriga, no município de União dos Palmares. O local, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) desde 1986 e como patrimônio cultural do Mercosul, em 2016, voltou a ser o centro de resistência da raça e da liberdade do povo brasileiro. Diversos grupos de candomblé, umbanda e outras tradições religiosas e culturais do povo negro percorreram os 8km do trajeto de subida até o platô da serra, que fica a uma altitude de 500 metros em relação ao nível do mar. É neste local que fica o Parque Zumbi dos Palmares. Lá, realizaram suas oferendas, cânticos e danças. Buscavam valorizar suas tradições e transmitir seus ensinamentos aos mais jovens. “Viemos fazer oferendas aos nossos ancestrais com cerimônias desde o nascer do sol. É uma ação de resistência, valorização das tradições e passagem dos ensinamentos dos mais velhos para as crianças, para que reconheçam essa identidade negra e possam dar continuidade a ela”, pontuou Amaurício de Jesus, que faz parte da rede de comunidades tradicionais de terreiros em Alagoas. Ele esteve acompanhado de dezenas de religiosos de Maceió. No parque, além dos tradicionais espaços para oferendas e cultos, haviam áreas destinadas à degustação de comidas de origem africana, além de espaço para a venda de artesanato. Para o presidente da entidade gestora do parque, a Fundação Palmares, Vanderlei Lourenço, o momento também serviu para reflexão sobre a realidade do povo negro, em busca de liberdade e para que deixem de fazer parte dos piores índices negativos no País. “Este dia serviu para refletirmos acerca dos avanços com relação ao combate às diferenças. Para pensarmos a situação dos negros e negras no Brasil”, ressaltou Vanderlei. Para ele, a confirmação de que 56% da população brasileira se declara negra, “isso demonstra que existe uma tomada de consciência dessa população”, considerou, embora reconheça que é preciso avançar ainda mais em programas de capacitação e educação, a exemplo dos ofertados pela fundação por meio de “bolsas permanência”, asseguradas por meio do Ministério da Educação (MEC). “Nós temos avançado e o momento é de celebrar essa participação”, diz. Para quem é negro sem formação profissional por meio da educação, devido a necessidade de sobrevivência e vive o dia a dia em Alagoas, a exemplo do artesão Josenildo Marechal. Há seis anos ele sobe a Serra da Barriga para comemorar o Dia da Consciência Negra e leva sempre consigo peças de artesanato para vender a preços que variavam entre R$ 10 e R$ 30. Para sobreviver, ainda dá aulas de capoeira, sua principal paixão dentro da cultura negra. “Ainda bem que tem pelo menos um dia no ano para essa festa acontecer, mas a situação geral ainda está crítica. Não temos o respeito e a igualdade que merecemos por direito. Somos vistos e tratados como ‘ninguém’, mas vamos lutar, não podemos parar até conseguir essa vitória”, posicionou-se. Ainda conforme dados divulgados esta semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), por meio do estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, em Alagoas, trabalhadores brancos recebem em média 14% a mais que negros. Em Maceió, por exemplo, após um mês de trabalho, o salário recebido por brancos é 47% maior do que o pago a negros.

Atentos a essas disparidades, mas também conscientes de seus valores religiosos, artísticos e culturais, as milhares de pessoas que participaram das comemorações, estimada em um público de 8 mil pessoas que subiram a serra, também contaram em sua programação com a corrida da consciência, apresentações de grupos de capoeira e musicais, como a banda Vibrações, que encerrou as festividades, todos com homenagens a Zumbi dos Palmares, líder negro e símbolo da luta pela liberdade.

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