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domingo, 09/03/2025 | Ano | Nº 5919
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Depois da pris�o, a volta ao trabalho

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PETRÔNIO VIANA MAIKEL MARQUES IVAN NUNES Repórteres O desembargador federal Marcelo Navarro, do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Recife, determinou, no dia 6 deste mês, a libertação de 15 das 19 pessoas que permaneciam detidas na carceragem da superintendência da Polícia Federal (PF) desde o dia 17 de maio. Essas pessoas foram presas pela Operação Guabiru, acusadas de envolvimento no desvio de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para compra de merenda escolar no interior do Estado. Entre os 15 que foram libertados estavam seis prefeitos: os de Matriz do Camaragibe, Marcos Paulo do Nascimento (PMDB); de São José da Laje, Paulo Roberto de Araújo, o Neno (PPS); de Porto Calvo, Carlos Eurico Leão e Lima, o Kaíka (PSB); de Feira Grande, Fábio Apóstolo de Lira, o Fabinho (PDT); de Canapi, José Hermes de Lima (PDT), e de Igreja Nova, Neiwton Silva (PSB). Além deles, foram soltos os ex-prefeitos Jorge Silva Dantas (PSDB), de Pão de Açúcar; José Valter de Azevedo (PFL), de Ibateguara, e José Aderson Rodrigues (PTdoB), de Japaratinga, os secretários municipais de Finanças de Branquinha, Fernando Baltar Maia (irmão do prefeito Carlos Eduardo Baltar Maia, o Dadado); de Igreja Nova, Paulo Roberto Oliveira Silva, de Água Branca, José Roberto Campos, o empresário José Dacal Nunes e o escriturário da Caixa Econômica Federal José Carlos Batista. Antes, já haviam sido postos em liberdade outros presos, como o ex-prefeito de Maragogi, Fernando Sérgio Lyra, e o gerente da Caixa Econômica Leopoldo Araújo. AINDA PRESOS Permanecem detidos na sede da PF, no bairro do Jaraguá, os prefeitos de Marechal Deodoro, Danilo Dâmaso (PMDB) e São Luiz do Quitunde, Cícero Cavalcante (PMDB), o ex-prefeito de Rio Largo, Rafael Torres, apontado como líder da quadrilha, e o empresário Francisco Erivan dos Santos, o segundo no comando da organização criminosa. EMBARAÇO Dos prefeitos libertados, quatro já retornaram ao comando de seus municípios. A Gazeta visitou, na semana que passou, alguns desses municípios; em outros, as entrevistas foram feitas por telefone. Em todos, um traço comum: o constrangimento que ainda persiste pelos longos 51 dias de prisão, todos juntos na carceragem da PF. São líderes políticos que, agora, estão tendo que explicar a eleitores, amigos e familiares a experiência que passaram e, ao mesmo tempo, administrar seus municípios sem cometer deslizes e tratar de preparar a defesa - porque o processo continua. ### Neiwton Silva: palavra de ordem é rigor O prefeito Neiwton Silva (PSB) tirou 10 dias de férias depois que saiu da prisão e retomou o comando do município de Igreja Nova no último dia 19 (terça-feira), mandando uma palavra de ordem a todos os subordinados: avisou que vai cobrar respeito absoluto aos rigores da legislação sobre a administração pública. Mas ele garante que a obsessão pelo zelo não significa “confissão” de irregularidades. Afirma que sua administração “nada fez de errado” no caso do desvio de dinheiro da merenda. Neiwton Silva sabe que, como os demais prefeitos que foram presos ou estão sendo investigados pela Guabiru, sua administração estará sendo examinada com lupa: ao menor deslize, os problemas podem voltar, e a reincidência agrava a situação. “Fuzilado” “Até hoje não sei do que sou acusado. Não cometemos equívoco algum. Caí numa armadilha quando mantive contato com um cidadão [Rafael Torres] que vinha sendo investigado”, justificou o prefeito, que afirmou à Gazeta ter como provar que “comprou e pagou pela merenda de qualidade”. Para Neiwton, prefeito que mexe na “mixaria” da merenda enviada pelo governo federal “merece ser fuzilado”. “Verba minguada” “Não teríamos razão para mexer numa verba minguada de R$ 15 mil e 900 reais. Geralmente, complementamos para conseguir alimentar os 5.600 alunos de nossa cidade durante os 20 dias úteis do mês. O governo federal só nos manda 3 reais por mês para alimentar cada criança. É muito pouco. É uma vergonha”, critica Neiwton Silva. Embora tenha sido recebido com festa na cidade dois dias depois de sua liberação, Neiwton tirou “10 dias de férias” e só retomou o poder de fato na última terça-feira, quando os nove vereadores da cidade se reuniram para revogar a licença especial prevista para chegar ao fim dia 1º de setembro. O vice-prefeito José Borges repassou o comando do município para voltar à condição do vice que tem o cargo, mas participa das diretrizes da administração. Sem divergência “Ele [Neiwton] não me propôs nenhuma participação”, diz José Borges, que deixa bem claro: “Também não temos qualquer divergência política”. Questionado sobre a participação do vice em seu governo, Neiwton observa: “É homem de confiança. Só assume em caso de emergência”. Neiwton também não fará mudança no secretariado. “Não tivemos problemas. Não há por que promover mudanças”, explicou. A única alteração na equipe aconteceu dias depois de sua detenção, quando solicitou ao vice a nomeação do genro Márcio Peixoto para o cargo de secretário municipal de Finanças. Antes de encerrar a entrevista, Neiwton ratificou sua inocência, e disse ter tirado uma lição do episódio envolvendo sua detenção. “Para evitar surpresas diante de uma legislação que muda todo dia, o prefeito precisa manter atualizados todos os seus subordinados”, explicou o prefeito, que também criticou o governo federal. “O governo deixa os municípios expostos a todo tipo de necessidade. E não envia verba suficiente para a necessidade da população”, finalizou. |MM ### Em Matriz, prefeito fala pouco e não permite fotos O prefeito de Matriz do Camaragibe (no litoral norte, a 70km de Maceió), Marcos Paulo do Nascimento, o Marquinhos, reassumiu o cargo logo no dia seguinte à sua libertação, 7 de julho. Marquinhos vive uma situação curiosa. Seu município foi administrado durante dois mandatos seguidos pelo ex-prefeito Cícero Cavalcante (PMDB), seu padrinho político, que no final do segundo governo renunciou, candidatou-se a prefeito de São Luiz do Quitunde, venceu a eleição - e em maio deste ano foi preso pela Guabiru. Marquinhos, apoiado por Cícero em Matriz - que fez dele o sucessor, para ter influência em dois municípios - venceu a eleição de 2004, tomou posse como prefeito, e com pouco mais de cinco meses no cargo, também foi preso, mas ganhou a liberdade no último dia 6. Na última quarta-feira (20), Marquinhos recebeu a reportagem de Gazeta em seu gabinete, na sede da Prefeitura de Matriz de Camaragibe, mas não quis gravar entrevista nem ser fotografado. “Ainda não estou preparado para conversar com a imprensa sobre esse assunto”, disse, referindo-se ao período em que passou detido na carceragem da PF. “Meus advogados estão tratando da parte jurídica. Não quero fazer declarações para não interferir no trabalho deles”, explicou o prefeito. Mais magro, Marquinhos aparentava tranqüilidade, mas ficou constrangido com a solicitação de ser fotografado pela equipe de reportagem. Nada de fotos “Não quero que façam imagens. Já aparecemos [ele e os demais acusados] tanto nos jornais... Prefiro não ser fotografado por enquanto”, argumentou. Em sua única declaração, Marquinhos disse estar “animado como sempre” para dar continuidade ao trabalho à frente da prefeitura de Matriz. Quando perguntado sobre a reação dos moradores da cidade ao seu retorno, Marquinhos foi evasivo e encerrou a conversa. “Não quero fazer declarações sobre isso. Recebi vocês somente para dar uma satisfação e não para conceder entrevista”, concluiu. apoio nas ruas A população de Matriz demonstrava satisfação pelo retorno do prefeito. O presidente da Associação dos Taxistas do município, Cícero Monteiro, informou que o povo em geral estava feliz com a volta de Marquinhos. “O retorno dele foi uma coisa muito boa. Toda a população deu apoio quando ele voltou”, avaliou Monteiro. O presidente da associação disse ainda que Marquinhos tem cumprido com as expectativas da população e declarou não acreditar no envolvimento do prefeito com o esquema de corrupção. “Ele [Marquinhos] vai provar que é inocente”, comentou Cícero Monteiro. |PV ### Feira Grande: sem pressa de reassumir O prefeito de Feira Grande, Fábio Apóstolo de Lira (PMN), que continua licenciado do cargo, quebrou o silêncio e concordou em falar “por alguns poucos minutos” sobre o seu retorno ao comando do município, hoje administrado pelo vice-prefeito Ademir Silva. “Fabinho da Granja”, apelido pelo qual é conhecido, fez uma exigência durante a curta entrevista: não queria ser fotografado. “Ainda não é o momento ideal para fotografia nem também para entrevista detalhada”, adiantou o jovem prefeito. Ele tem 25 anos e ingressou no mundo da política depois do falecimento de seu pai, Francisco Apóstolo de Lira, morto em acidente automobilístico meses antes de registrar a candidatura ao cargo de prefeito da cidade de Feira Grande. Apontado como um dos participantes do esquema de desvio de dinheiro da merenda, o prefeito Fábio Apóstolo de Lira ficou 51 dias na carceragem da Polícia Federal (PF) e retornou ao convívio de seus familiares no dia 7 de julho. “A Gazeta deveria ter vindo registrar a festa. Foi muito linda! Por que vocês não apareceram?”, alfinetou uma parenta do prefeito. Rapidez A reportagem da Gazeta foi à residência do prefeito e, depois de alguma insistência, obteve da primeira-dama a informação de que Fábio Apóstolo de Lira poderia estar na sede do Poder Executivo. “É melhor vocês irem embora. Acho que ele não vai falar”, sugeriu José Apóstolo de Lira, tio do prefeito. Contrariando o desejo de seus parentes, o prefeito quebrou o silêncio e concordou com uma rápida entrevista. Questionado sobre a data de retorno ao comando do município, Fabinho da Granja primeiro explicou que não tinha tomado decisão, mas adiantou que pode retomar as rédeas da cidade no início do próximo mês. “Talvez reassuma o município dia 1º de agosto”, explicou o prefeito. Ele permaneceu de pé durante os quatro minutos de entrevista e fez uma ressalva: não aceitaria ser fotografado. “No momento oportuno vocês tiram a fotografia”, explicou-se. “Nada a esconder” Quanto às suspeitas de seu envolvimento no esquema de desvio de dinheiro da merenda, o prefeito evitou entrar em detalhes e, bastante sorridente, avisou: “Estou tranqüilo, firme, consciente e certo de minha inocência. Não tenho motivos para me esconder e estou aqui para responder pelo que tiver que responder”, justificou-se. “VAI Ficando aí” Embora continue licenciado do cargo oficialmente até 1º de setembro, Fabinho já despacha com seus assessores e também determina ao vice-prefeito Ademir Silva como o município dever ser administrado. “Continuaremos aliados. Vivemos numa grande irmandade”, disse o prefeito ao ser questionado sobre a participação do vice Ademir Silva em seu governo. Entrevistado por telefone na manhã de quinta-feira, o vice-prefeito Ademir Silva preferiu não comentar se terá ou não participação no governo de Fabinho da Granja. “Não sei te responder se terei participação no governo dele. Acredito que posso contribuir para a gestão do município”, explicou Ademir Silva, que tomou uma precaução: não mexeu no secretariado do titular do cargo. Ademir reproduziu trecho da última conversa que teve com o prefeito: “Ele me disse: Ademir, vá ficando aí. Quando quiser voltar, eu te aviso!”. |MM

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