Política
PSDB usou esquema de Marcos Val�rio

LUIZA BARREIROS Repórter O senador Teotonio Vilela Filho (PSDB) afirmou ontem que durante os cinco anos (1996 a 2001) em que presidiu o PSDB nacional, o partido não contraiu empréstimos nem fez qualquer tipo de triangulação com o objetivo de arrecadar recursos. A afirmação do senador tucano foi feita ao defender seu partido das denúncias contidas em reportagem publicada ontem no jornal O Globo, na qual o PSDB de Minas Gerais foi acusado de ter usado, em 1998, o esquema hoje supostamente comandado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para beneficiar o PT. O esquema do PSDB teria como beneficiário principal o então governador e candidato à reeleição, Eduardo Azeredo, atual presidente nacional da legenda (ver matéria nesta página). Na época, o senador Teotonio Vilela Filho era o presidente nacional do PSDB. O procedimento, que pode configurar caixa 2 de campanha eleitoral, seria muito parecido ao identificado com o PT, no qual empresas do publicitário contraíram empréstimos para repassar recursos ao partido e parlamentares de legendas aliadas. É diferente Para o senador Téo Vilela, a semelhança apontada na reportagem não está clara. No caso do PT, o próprio partido contraiu o empréstimo no Banco Rural e teve Marcos Valério como avalista, que inclusive pagou prestação vencida e não paga pelo PT, observou. Na denúncia publicada pela imprensa não há nenhum empréstimo feito pelo PSDB, comparou. Para o senador, ligar uma operação entre a agência de Marcos Valério e o Banco Rural, sem participação do PSDB, parece uma tentativa de desviar o foco das investigações contra o PT, uma espécie de cortina de fumaça. Apesar disso, por haver a participação de personagens como Marcos Valério e membros do PSDB em Minas Gerais, sede das empresas do publicitário, Téo Vilela defende que haja apuração da denúncia. Tenho certeza de que não há essa semelhança, mas nem por isso o fato deve deixar de ser investigado. Até mesmo para o PSDB é importante que tudo seja esclarecido. O senador que ontem estava em Alagoas e passou a manhã no interior do Estado disse ter ficado sabendo do conteúdo da matéria de O Globo pelo noticiário da televisão. Tentei falar com o próprio Azeredo e com o Arthur Virgílio [líder do PSDB no Senado], mas não consegui porque eles estavam cumprindo agenda fora de Brasília. Mas defendo que seja investigada qualquer coisa contra qualquer partido e que, se for comprovada responsabilidade por algum ato ilícito, que seja punido exemplarmente, principalmente se for um tucano, disse. ### Jornal mostra: esquema era o mesmo Reportagem publicada ontem pelo jornal O Globo mostra que tomar dinheiro em bancos, usar como garantia contratos com governos e repassar recursos a candidatos é um esquema que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão do PT, comanda há pelo menos sete anos. A direção nacional do PT recorreu ao chamado valerioduto logo depois das eleições de 2002, provocando a pior e mais grave crise do governo Lula. A reportagem do Globo, sob o título PSDB-MG usou valerioduto em 1998, demonstra, com documentos, que Marcos Valério já tinha feito uma triangulação parecida em 1998 com a coligação que apoiava o tucano Eduardo Azeredo, candidato à reeleição no governo Minas Gerais. Em 19 de agosto de 1998, a agência DNA Propaganda, de Marcos Valério, contraiu um empréstimo de R$ 11,7 milhões no Banco Rural, em Belo Horizonte. É o mesmo banco envolvido, sete anos depois, no escândalo com o PT. A agência de publicidade ofereceu como garantia os créditos decorrentes de contratos assinados com as secretarias de Estado de Comunicações e de Governo de Minas Gerais para a produção e a veiculação de peças publicitárias. A previsão era de que o empréstimo seria pago em 28 de outubro (três dias depois do segundo turno das eleições), com juros de 1,55% ao mês. Repasses Logo em seguida, uma outra empresa de Marcos Valério, a SMP&B, repassou dinheiro para pelo menos 70 políticos ou pessoas ligadas a políticos mineiros que pertenciam à coligação que apoiava Eduardo Azeredo. Os repasses, somados, ultrapassam R$ 1,6 milhão. Constam da lista de beneficiados dez deputados estaduais de Minas, que tiveram mandatos nas duas últimas legislaturas, e dois prefeitos do interior do estado: Marcelo Gonçalves (Pedro Leopoldo) e Sebastião Navarro (Poços de Caldas). Na lista dos beneficiados aparecem os deputados federais Romel Anizio Jorge (PP), que teria recebido R$ 100 mil; e Custódio de Mattos (PSDB), que teria ganhado R$ 20 mil. Custódio disse anteontem que recebeu o dinheiro mas que seu entendimento foi todo com a coordenação da campanha de Azeredo. Também aparece na lista Paulo Abi-Ackel, filho do relator da CPI do mensalão, deputado Hibrain Abi-Ackel. Ele recebeu R$ 50 mil. Antônio Marum, assessor da ex-senadora Júnia Marise, recebeu R$ 125 mil. Em 1998, Júnia foi candidata à reeleição pelo PDT em substituição ao candidato da coligação ao Senado Hélio Garcia (PTB), que desistiu da candidatura. Dois atuais conselheiros do Tribunal de Contas de Minas Gerais, que na época disputavam vaga na Assembléia Legislativa, Elmo Braz e Wanderlei Ávila, também receberam dinheiro da SMP&B, segundo os documentos. Acordo O empréstimo não foi pago. Por causa do não cumprimento do contrato, o Banco Rural executou a dívida e pediu a penhora de bens dos sócios da empresa, Marcos Valério, Cristiano Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso, que assinaram o contrato como devedores solidários. Em 29 março de 2001, o banco enviou oficio à 1ª Vara Cível de Belo Horizonte comunicando que estava em curso uma negociação e solicitando a suspensão do processo por seis meses. Em um acordo feito em 11 de abril de 2003, a ação foi encerrada. Com os encargos, a dívida chegou a R$ 13,9 milhões. O Banco Rural aceitou receber apenas R$ 2 milhões para liquidação do débito. Em nota oficial, o banco informou que o acordo liquidou a dívida junto à instituição e que não poderia fornecer mais detalhes para não desrespeitar a lei do sigilo bancário. Já os diretores da DNA afirmaram que o empréstimo foi pago na íntegra, incluindo juros e multas. A primeira campanha da DNA em Minas foi na década de 90, com o então governador Hélio Garcia. Depois, a agência participou do governo Azeredo, de 1995 a 1998, ficando de fora na gestão de Itamar Franco (PMDB), entre 1999 e 2002. A SMP&B voltou a ganhar contratos no atual governo, do tucano Aécio Neves, suspensos depois do escândalo com o PT. Tramita no Supremo Tribunal Federal denúncia do Ministério Público de Minas sobre o governo de Azeredo que, por contrato feito pelas estatais mineiras Copasa e Comig com a SMP&B, em 1998, patrocinou o Enduro da Independência, em 7 de Setembro do mesmo ano, no valor de R$ 3 milhões. De acordo o processo, o então governador Azeredo e o atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade (eleito em 2002 pelo PFL, mas hoje no PL), teriam se beneficiado do contrato nas eleições daquele ano. Clésio foi sócio de Valério na SMP&B, de onde saiu para ser candidato. ### Senador alagoano pediu para sair da CPI do Mensalão O senador alagoano Teotonio Vilela Filho foi designado pelo líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), para integrar, como membro titular, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão - um suposto esquema de pagamento de mesadas para parlamentares apoiarem projetos do governo no Congresso Nacional. A CPI do Mensalão foi instalada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros, mas terá os trabalhos iniciados apenas na próxima segunda-feira, 1º de agosto. Mas Vilela disse ter pedido ao líder tucano para ser substituído na CPI, porque, segundo afirmou, não gosta desse tipo de atividade parlamentar. ponto final Apesar disso, Teotonio Vilela Filho disse ter ficado sabendo que a lista com nomes de supostos beneficiários do esquema do mensalão, obtida pela Justiça Federal de Minas Gerais e encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), deverá ser o ponto final no assunto. A lista teria sido obtida a partir do cruzamento de dados da quebra de sigilo bancário das empresas de Marcos Valério, o publicitário mineiro que, segundo as investigações, seria o operador do esquema do mensalão. Jobim Não sei a razão de a lista ter sido encaminhada diretamente para o STF e o motivo da demora para o ministro Nelson Jobim [presidente do STF] encaminhá-la para a CPI, questionou Téo. A lista foi encaminhada para o Supremo Tribunal Federal devido à presença de dois deputados federais (portanto, detentores de foro privilegiado) entre os supostos beneficiários. |LB