Ticianeli cai da Secretaria de Cultura

| ODILON RIOS Repórter O secretário estadual de Cultura, Ediberto Ticianeli Pinto, foi exonerado ontem do cargo, depois de desentendimentos com secretários do governo, conforme apurado pela Gazeta. Em seu lugar assume o advogado Eduardo Bomfim, que já foi secretário na mesma pasta em 2002, mas no ano passado deixou a função porque foi chamado pelo então ministro de Articulação Política, Aldo Rebelo, para ser secretário-executivo do ministério. Bomfim deixou o cargo em Brasília há dois meses. Antes, Eduardo Bomfim já havia sido presidente da Fundação Cultural Cidade de Maceió, equivalente à Secretaria Municipal de Cultura, na gestão da então prefeita Kátia Born (PSB). Bomfim também já exerceu três mandatos eletivos: deputado estadual (1983-1986), deputado federal constituinte (1987-1990) e vereador em Maceió (1993-1996). RECADOS De acordo com fontes governamentais, o governador Ronaldo Lessa (PDT) havia enviado, pelo menos três vezes, recados ao PCdoB, partido que ocupa a pasta, pedindo a saída de Ediberto Ticianeli do cargo. Semana passada, entre quarta e quinta-feira, o governador chegou a ligar para Bomfim, explicando a ele que o secretário ?criava arestas? e ameaçou: ou Ticianeli saía da função ou a vaga na Secretaria de Cultura seria entregue a outro partido. Há duas semanas, na entrega da Comenda Floriano Peixoto a várias personalidades, inclusive ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB) e ao próprio Bomfim, no Palácio Floriano Peixoto, Ticianeli reuniu um grupo de secretários e fez duras críticas ao governo, segundo relatos de pessoas presentes à reunião paralela. Outro episódio, considerado a gota d?água, foi a ida de um artista a uma rádio, na semana passada, para cobrar o pagamento de R$ 700 por uma apresentação patrocinada pela Secult. Ele disse que tinha ido cobrar o dinheiro ao secretário Ticianeli, e que o próprio secretário lhe afirmara que a pasta não tinha recursos por causa do governador. A revelação não foi desmentida. ?Pequena mudança? Ontem, Ticianeli não foi trabalhar na secretaria. Uma funcionária, tentando minimizar a exoneração, disse que haveria uma ?pequena mudança? na Secretaria ? mas a demissão de Ticianeli já estava publicada no Diário Oficial, sem a expressão ?a pedido?, ou seja, o ex-secretário perdeu o cargo contra sua vontade. A Gazeta tentou ontem, mas não conseguiu contato com Ticianeli. ### Governador evita comentar demissão O governador Ronaldo Lessa (PDT) empossou, em uma concorrida solenidade no final da tarde de ontem no salão de despachos do Palácio dos Martírios, o novo secretário estadual de Cultura, Eduardo Bomfim (PCdoB), no lugar de Ediberto Ticianeli. Lessa não quis comentar os motivos que o levaram a exonerar Ticianeli, mas confirmou que a decisão teria partido dele e não do PCdoB, e lembrou as qualidades do novo secretário. Bomfim retornou de Brasília no mês de maio, onde ocupava o cargo de secretário-executivo do Ministério da Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República. Na opinião de Ronaldo Lessa, a decisão de substituir Ediberto Ticianeli não vai provocar qualquer conflito interno no PCdoB. ?A decisão foi minha. Esse é problema do PCdoB. Eu não provoco racha em canto nenhum. Quando o Bomfim voltou, eu declarei em público que a vaga era dele?, argumentou Lessa. O ex-secretário demitido não compareceu à solenidade, causando constrangimento aos presentes. O governador disse ainda que, caso Eduardo Bomfim optasse por assumir uma outra secretaria, como a de Ciência e Tecnologia, seria designado. ?Ele [Bomfim] tem uma experiência que o recomendava para qualquer dos dois cargos?, disse. Segundo o governador, o ex-secretário Ediberto Ticianeli foi comunicado da substituição pelo secretário geral de governo, Pedro Alves. Antes de aceitar o convite, Bomfim teria entrado em contato com a direção nacional do PCdoB. Em conversa com a imprensa, o novo secretário comentou a crise política nacional e manifestou seu posicionamento em relação às denúncias contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?Eu penso que a luta pelo poder é legítima, desde que não desestabilize as instituições democráticas. Nós fazemos parte do campo do governo Lula. Temos críticas, mas essa é hora de resistência de todos que fazem o governo Lula. Nas turbulências também deve-se permanecer governo?, avaliou Bomfim. PV