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Nº 5759
Política

O Nordeste ajudando o Brasil

| LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA * Entre 1993 e 1994, percorri 91 mil quilômetros em caravanas pelo Brasil. Por duas vezes visitei toda a região Nordeste, atravessei a floresta amazônica, acompanhei todo o caminho às margens do Rio São Francisco. Foi quando m

Por | Edição do dia 18/12/2005 - Matéria atualizada em 18/12/2005 às 00h00

| LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA * Entre 1993 e 1994, percorri 91 mil quilômetros em caravanas pelo Brasil. Por duas vezes visitei toda a região Nordeste, atravessei a floresta amazônica, acompanhei todo o caminho às margens do Rio São Francisco. Foi quando me convenci de que o Nordeste, sobretudo a parte mais pobre do semi-árido, precisava de um projeto de desenvolvimento regional de longo prazo, estruturante, para os próximos vinte ou trinta anos. Acredito que cabe ao Estado pensar globalmente seu território e se empenhar na redução das disparidades regionais para promover um desenvolvimento mais justo e homogêneo do País. É por isso que agora, na Presidência da República, inspirado no exemplo do presidente Roosevelt, tenho buscado fazer pelo Nordeste brasileiro algo semelhante ao que foi feito no Vale do Tennessee, EUA. Na época, aquela era uma das regiões mais pobres do País e Roosevelt tomou a decisão de priorizá-la em seu projeto de desenvolvimento nacional. Resultado, o Tennessee é hoje uma das regiões mais prósperas do país. Os meus conterrâneos nordestinos merecem a mesma oportunidade. E quem ganhará com isso é o conjunto do País. Foi pensando nisso que expandimos o crédito agrícola no Brasil, antes praticamente restrito às regiões Sul e Sudeste. A safra 2005/2006 dispõe, por meio do Pronaf, de 9 bilhões de reais para trabalhadores rurais de todo o País. Na região Nordeste, comparando-se os anos de 2004/2005 com 2002/2003, o número de contratos dobrou e triplicaram os recursos disponíveis. O Bolsa-Família, principal programa de transferência de renda do governo, concentra a maior parte de seus R$ 14 bilhões nas áreas de maior miséria e desigualdade do País. Sua ação, somada aos recursos do Pronaf, fez crescer fortemente o comércio de bens de consumo das populações de baixa renda – especialmente nas cidades do interior do Nordeste. A nova refinaria de petróleo no Nordeste é um bom exemplo do esforço para reduzir as desigualdades regionais que o meu governo está fazendo. Foi uma decisão técnica, mas também estratégica. Nove estados do Nordeste, além do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, tinham manifestado interesse em abrigar a refinaria. O governo federal e a Petrobras condicionaram a escolha à obtenção de um parceiro para viabilizar sua construção. E a Venezuela, por meio de seu presidente, Hugo Chávez, se dispôs a financiar essa obra em Suape, Pernambuco – Estado que reunia as melhores condições técnicas para o empreendimento. O resultado dessa parceria dos governos do Brasil e da Venezuela com o Estado do Pernambuco é um investimento conjunto de 2,5 bilhões de dólares na região, divididos igualmente entre a Petrobras e PDVSA (Petróleos de Venezuela), e a geração de 230 mil novos empregos. Em novembro estive em Fortaleza para anunciar outra obra fundamental para o Nordeste: a ferrovia Transnordestina, que será responsável pelo escoamento da produção dos estados nordestinos – principalmente Pernambuco, Ceará e Piauí – para os portos de Suape e Pecém. O investimento de R$ 4,5 bilhões será financiado pelo BNDES, o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste e empreendedores privados, e as obras começam no início de 2006. Para gerar empregos e multiplicar as oportunidades de turismo do Nordeste, decidi priorizar também a duplicação da BR-101, a rodovia do turismo, que liga todo o litoral nordestino, de Natal a Salvador. Como esta é uma obra fundamental e o processo de licitação ainda não está concluído, determinei que os batalhões de engenharia do Exército dessem início imediato à construção dos três primeiros lotes da obra – que vai custar ao todo R$ 1,5 bilhão. Na ocasião, em Fortaleza, anunciamos também, em parceria com o governador do Estado, a construção da Siderúrgica do Ceará, outro empreendimento de infra-estrutura que vai reforçar a indústria de base do País. Até 2008, a Petrobras vai investir US$ 1 bilhão no gasoduto Gasfor II para viabilizar o fornecimento de gás natural para os fornos da siderúrgica. À refinaria, à siderúrgica e à renovação das malhas rodoviária e ferroviária Nordestinas somam-se também a construção do gasoduto Gasene, que vai ligar os estados da Bahia e do Rio de Janeiro, com um investimento de US$ 2 bilhões, a construção de uma unidade de querosene de aviação no Rio Grande do Norte, com mais de R$ 151 milhões, e a liberação de verbas federais para os metrôs de Salvador, Fortaleza e Recife, que totalizam R$ 700 milhões. A interligação das bacias do Rio São Francisco com as do Nordeste setentrional vai levar água de beber a 12 milhões de brasileiros. Começamos pela revitalização do rio e a recuperação das matas ciliares às suas margens, uma antiga reivindicação das comunidades ribeirinhas. A próxima etapa será a construção de um canal que irá colher 1% da água do rio para alimentar os açudes do semi-árido nordestino, garantindo segurança hídrica para a região o ano todo. Além disso, já foram desapropriados dois quilômetros e meio de terras às margens do futuro canal para desenvolver a agricultura familiar, garantindo a subsistência de milhares de famílias e contribuindo para o aumento da produção nacional. Por fim, o Biodiesel, que pode colocar o Nordeste brasileiro no mapa da economia mundial. O governo federal vai subsidiar os agricultores familiares para a produção de diesel a partir de oleaginosas como a mamona – uma planta resistente às condições do semi-árido brasileiro. O biodiesel será misturado a todo o óleo diesel do País na proporção de 2% até 2008, chegando a 5% em 2013. Futuramente, o biodiesel brasileiro poderá ser exportado para o mundo todo. Nenhum outro país no mundo tem condições climáticas, geográficas e humanas tão favoráveis a esse projeto. É por isso que o Brasil pode se tornar líder mundial na produção de biodiesel, como já é em relação ao álcool. E a auto-suficiência que estamos atingindo na produção de petróleo vai garantir um excedente ainda maior para exportação. Com o biodiesel, o Nordeste vai oferecer ao mundo uma energia renovável, menos poluente e muito geradora de empregos. Na esteira do desenvolvimento econômico fomentado por todas essas obras, o jovem nordestino terá todas as oportunidades de se inserir no mercado de trabalho local. Para tanto, estamos cuidando para que ele tenha a melhor formação possível. Na Bahia, o meu governo investiu na construção da universidade do Recôncavo Baiano e na criação dos campi de Vitória da Conquista e Barreiras. No Rio Grande do Norte está sendo criada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Também construímos quatro campi em Pernambuco (Garanhuns, Vitória de Santo Antão, Caruaru e Serra Talhada), um no Ceará (Crato) e outro em Alagoas (Arapiraca), sem falar no projeto da Universidade do Vale do São Francisco. Uma pequena revolução está acontecendo no Nordeste do País. Demos passos importantes para que a região contribua cada vez mais com o desenvolvimento nacional. Vivemos hoje no Brasil uma confluência inédita de fatores: crescimento econômico com inflação baixa e aumento vigoroso das exportações com expansão do mercado interno. Não por acaso, como apontou a última PNAD, a miséria e a desigualdade social diminuíram significativamente no País. Com esse conjunto de ações e obras no Nordeste, vamos também reduzir as desigualdades regionais. (*) É presidente da República.

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