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Nº 5759
Política

40 anos depois, alagoanos lembram comício que impulsionou Diretas Já

Movimento se espalhou pelo Brasil e foi consolidado com eleição de Fernando Collor para a Presidência

Por thiago gomes | Edição do dia 25/01/2024 - Matéria atualizada em 25/01/2024 às 04h00

Quarenta anos se passaram desde a tarde chuvosa de 25 de janeiro de 1984, mas as memórias continuam frescas em relação àquele que seria o pontapé de um dos movimentos políticos com participação popular mais importantes da história do Brasil, as Diretas Já. O comício com cerca de 300 mil pessoas (números dos organizadores) na Praça da Sé, no aniversário de São Paulo, serviu de modelo e rapidamente se espalhou pelo País.

Na luta pelo restabelecimento da democracia, estavam engajados, lado a lado, políticos, trabalhadores, intelectuais, artistas, jogadores de futebol, idosos, jovens. O País já tinha presenciado outros atos pelas Diretas, mas o primeiro grande passo rumo à redemocratização ocorreu naquele dia.

Em Alagoas, passeatas e encontros por eleições diretas para Presidente da República, organizados por partidos políticos de esquerda com a finalidade de enfraquecer o regime de exceção, também tiveram engajamento espontâneo da população.

LIÇÕES

Dirigente estadual do PCB (Partido Comunista Brasileiro) à época, o historiador alagoano Geraldo Majella participou ativamente da campanha e diz que os brasileiros tiraram muitas lições daquele movimento, que são refletidas até os dias atuais.

“O momento era bem difícil, com a ditadura firme no Brasil, no governo do presidente João Figueiredo, mas havia indícios de que o processo de transição poderia começar. Em 1982, foram realizadas eleições diretas para governador, a primeira desde o início do regime. A oposição vinha crescendo exponencialmente, assim como os movimentos de rua. Em São Paulo, a eleição de Franco Montoro (pelo PMDB) foi um alento à oposição”, ressaltou Majella.

Segundo ele, a superação daquele período no País a partir da força e da pressão dos movimentos de rua, inclusive sem o apoio da grande mídia, é o maior legado das ‘Diretas Já’. A participação popular impactou o cenário político de tal maneira que rompeu aquele período.

“Isso só provou a todos que a mobilização popular é fundamental para rechaçar qualquer regime como o que vivíamos. Veja o que aconteceu no dia 8 de janeiro do ano passado. A partir da ação das instituições, da população e da mídia, a democracia foi preservada. Nunca é demais manter a sociedade mobilizada”, avalia.

Majella lembra que as manifestações pelas Diretas Já em Maceió ganharam força logo após os primeiros comícios Brasil afora. Elas começaram assim que a emenda apresentada no Congresso Nacional pelo jovem deputado Dante de Oliveira (PMDB) por eleições diretas para presidente foi rejeitada. A campanha foi tão forte que lotou as praças em frente ao Estádio do Pacaembu e à Catedral da Sé, sendo esses comícios os mais emblemáticos da história.
A emenda Dante de Oliveira, cuja votação fora marcada para 25 de abril de 1984, previa a eleição para Presidente da República por voto popular, e não passou pelo Congresso, mas a oposição conseguiu eleger, por via indireta, Tancredo Neves – que morreu antes de tomar posse, sendo substituído por José Sarney. O Brasil realizava, então, a última escolha indireta de um presidente da República. Os brasileiros só puderam escolher diretamente seu presidente em 1989, ano em que Fernando Collor foi escolhido por milhões de brasileiros.

MACEIÓ

O historiador Edberto Ticianeli era vereador e participou do movimento pelas Diretas Já na capital alagoana. De acordo com ele, foram inúmeras as manifestações em Alagoas. Mas o ponto alto foi o comício na Pajuçara com a presença de lideranças políticas de vários partidos, as estrelas da campanha.

“Fui um dos primeiros a falar para a multidão. O clima era de muito entusiasmo, afinal, depois de duas décadas, tentava-se restabelecer as eleições diretas para Presidente da República. As manifestações tinham um enorme simbolismo por representarem a demonstração pública da rejeição ao regime que comandava o País. A Emenda Dante de Oliveira não passou, mas os milhões de brasileiros nas ruas, em protesto, entraram para a história. Orgulho-me imensamente de ter participado dessa luta”, recorda.

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), Vagner Paes, o movimento Diretas Já foi de suma importância para a consolidação da democracia no País. Os 40 anos do comício histórico realizado na Praça da Sé, em São Paulo, lembram a força dos movimentos populares e a importância de respeitar o desejo dos cidadãos, que são os verdadeiros donos da “coisa pública”.

“O Estado Democrático de Direito foi conquistado na democracia na qual vivemos hoje é resultado de muito suor e sangue. Muitos advogados sucumbiram na busca pela liberdade e, por isso, sempre defenderemos a democracia”, destaca Vagner Paes, lembrando nomes como o de Evandro Lins e Silva, ministro do STF afastado da Corte após conceder habeas corpus a presos políticos e que, como advogado, defendeu gratuitamente mais de mil presos pelo regime militar.

Filha do jornalista Jayme Miranda, que desapareceu em 1975, Olga Miranda tinha 23 anos quando a campanha se iniciou. Ela cita que o regime democrático avançou no País, mas ainda precisa de evolução. “Depois da anistia de 1979, esse foi o movimento mais importante para estabelecer eleições diretas e colocar no governo cidadãos civis. Nesses 40 anos, a gente desenvolveu um regime democrático que ainda está incipiente, que precisa de fortalecer. Sempre a sociedade está evoluindo, mas a gente precisa estar atenta aos retrocessos em todos os aspectos, não somente políticos, e atuar no sentido de preservar as conquistas que permitam o avanço”, conclui.

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