Política
Ex-secretário denuncia furto de documentos da antiga Salgema
Em depoimento à CPI, José Geraldo Marques diz que arquivos referentes à mineradoras sumiram de seu acervo

Secretário Executivo de Controle da Poluição do Governo de Alagoas na década de 1970, o pós-doutor em meio ambiente e ativista em ecologia, José Geraldo Marques foi o primeiro a ser interrogado na CPI da Braskem, na manhã dessa terça-feira (5). Ex-morador do Pinheiro, ele disse, emocionado, que virou um refugiado ambiental, deixou para trás uma longa história de vida e denunciou que teve a biblioteca de casa com documentos da antiga Salgema saqueada.
Na qualidade de testemunha técnica, Geraldo Marques foi convocado para expor o que sabe sobre o desastre na capital. À CPI, ele disse que foi defenestrado do cargo público após sofrer várias pressões e ameaças por ter mantido o posicionamento ferrenho contra a instalação da indústria de cloro-soda em área de restinga em plena zona urbana.
“Fizeram uma reunião no palácio do governo para me defenestrar do cargo de secretário, mas eu não dei ousadia para isso acontecer. Escrevi um bilhete dizendo que a partir daquela data eu não tinha nenhuma responsabilidade ambiental no Estado de Alagoas. No dia seguinte, o encontro aconteceu”, relatou. E acrescentou que um dos participantes desta reunião chegou a lhe pedir desculpas, formalmente em uma carta.
Quando as primeiras rachaduras foram descobertas no Pinheiro, Marques lembra que foi obrigado a se mudar às pressas e sem direito a subsídio pago pela petroquímica. Teve que pagar aluguel durante seis meses por conta própria e vender uma propriedade no município de Feira de Santana (BA) para cobrir os gastos.
“Tive que abandonar a minha linda casa no Pinheiro. Mandei a minha família primeiro e fiquei com a minha biblioteca. Levamos o essencial, chorei muito com essa despedida. Chorei até não poder mais. Um dia, pedi um táxi e fui embora, para nunca mais voltar”, comentou o técnico, sem esconder a emoção.
Ele revelou que guardava em seu acervo bibliográfico um vasto material contendo arquivos relativos à Salgema em Maceió. Quando deixou o imóvel, percebeu que os documentos haviam sido levados de maneira misteriosa. “Um dia, à noite, entraram na casa, na biblioteca, e depredaram o material a pauladas. Não restou livro raro sobre livro raro. Todos os documentos relacionados à Braskem sumiram. Houve uma retirada seletiva”, denunciou.
Ao se referir à petroquímica como ré do que considera ser um crime ambiental, Geraldo Marques diz esperar a condenação e a responsabilização total da companhia pelos danos ‘irreparáveis’ aos bairros e às famílias afetadas pelo afundamento do solo. “Contamos com uma decisão favorável até agosto no tribunal da Holanda, que julga o caso. Pelos próximos 10 anos, Maceió terá que conviver com rachaduras e tremores até a possibilidade de uma tão sonhada estabilidade”, comentou.
Quanto ao colapso da mina 18, no Mutange, ocorrido em dezembro do ano passado, e a hipótese de o problema se repetir em outras cavidades, o pós-doutor classificou o caso como escandaloso e inesperado, citando como exemplo que o antigo campo do CSA, seu time do coração, foi inundado.
“E, pasmem, agora, depois do desastre, a Braskem conseguiu mais sete autorizações para fazer a prospecção de minério na zona norte de Alagoas”, citou, no interrogatório.