Política
Reviravolta muda a cara da sucess�o / Parte I

JOSÉ ELIAS A cara da sucessão estadual não é mais a mesma e, com nova fisionomia, seguramente vai modificar todos os prognósticos riscados na mesa pelos analistas de plantão. A possibilidade de retirar a candidatura de governadora, admitida pela senadora Heloísa Helena, sepulta o palanque do segundo turno das eleições de outubro. E vai evitar que os eleitores retornem, novamente, às urnas em novembro. O mistério de Collor acabou, o PL de João Caldas deu um toco no PT, o PDT de Geraldo Sampaio aplicou um balão no PPS de Regis Cavalcante e, desarrumado, o PSB de Lessa se partiu com a indicação de Demuriez Leão como vice de sua chapa. Não aconteceu nada do que se acertou nos bastidores e se especulou nos meios políticos, mantendo atualizada a frase de efeito do deputado Euclides Mello de que em política só não vi boi voar. RENAN E TEO TIRAM ABÍLIO E DERROTAM PSB DE KÁTIA O ex-presidente Collor que, desde o início, acenou para uma candidatura de senador, decidiu ontem na convenção do PRTB disputar o governo. E o Palácio, que lançou o ex-secretário Luiz Abílio, nome tirado do bolso pelo governador, engoliu atravessado o deputado Demuriez Leão, vice da preferência de Renan Calheiros e Teotonio Vilela. Quer dizer, Lessa, Kátia Born, Wellisson Miranda, Jurandir Bóia e uma banda do PSDB perderam a queda-de-braço para os dois senadores. O PTN sustentou o nome de Elias Barros para o governo. A disputa de vice, a rigor, ganhou um cenário à parte, exceção da senadora Heloísa Helena que, desde o início, se concentrou em Eduardo Bomfim, do PCdoB. Na Frente de Oposição, Rogério Teófilo apareceu primeiro, acompanhado de perto por Luiz Dantas, Ziane Costa e Lucila Toledo mas, no desfecho da composição, o deputado Cacalo emplacou na chapa de Collor. O PSB se perdeu na estrada depois que o PL, em nível nacional, resolveu se aliar à candidatura do presidenciável Lula, matando o nome do deputado Celso Luiz, vice de consenso da chapa de Lessa. A partir daí, o carro ficou sem destino e, no caminho, o partido do governo fechou questão com Luiz Abílio. Entrou em ação o grupo dos senadores Renan e Teotonio Vilela que, em silêncio, apresentou uma lista tríplice, com Demuriez Leão, Marcos Ferreira e Raimundo Tavares. Em cima da convenção, ontem, Lessa se rendeu aos dois senadores e abriu uma profunda ferida dentro do PSB. Na bucha, ainda na casa do governador, na Santa Amélia, o presidente do PTdoB, Marco Toledo, pediu a palavra, na aparente festa pela indicação de Demuriez, e fez um discurso de protesto. Considerou a escolha uma decisão antidemocrática e, em nome dos defensores de Abílio, recorreu ao passado, se dirigindo a Lessa: Fui contra a escolha do seu vice Geraldo Sampaio e, agora, espero não estar novamente com a razão. SAMPAIO DESFAZ CASAMENTO COM PPS E SAI PARA GOVERNO O namoro, casamento marcado com a candidatura de Ciro Gomes, em Alagoas, acabou na porta da Igreja porque, de última hora, o PDT apresentou chapa puro sangue, com Geraldo Sampaio governador, Corintho Campelo vice e Hetc César senador. O secretário-geral do PPS, Juca Carvalho, se considerou traído e anunciou, depois da surpresa, que o PPS marcharia com a Frente de Oposição, lançando o jornalista Anivaldo Miranda para o Senado. Em conseqüência disso, acabou a chamada Frente Trabalhista que, no discurso, reunia PDT, PPS, PTB e, agora, o vice-governador Geraldo Sampaio, se o quadro não mudar outra vez, vai caminhar sozinho. Ao seu lado, o PGT do pastor João Luiz que, também no fim da linha, se desgarrou do PT e tomou rumo diferente, surpreendendo o deputado Paulão. Mas o PT registra hoje à tarde no TRE a ata da sua convenção, mantendo a assinatura da aliança colocada no livro pelo PGT e, como protesto, sem a presença do PL, contrariando decisão nacional do partido. Vai aguardar, até o dia cinco, sexta-feira que vem, em clima de expectativa, a reação da direção nacional. Se Lula e Zé Dirceu, dirigentes maiores do PT, decretarem intervenção em Alagoas, a resposta será dura e implacável que, com certeza, terá repercussão nacional. De uma só canetada, o partido promoverá ato público e, na manifestação popular, anunciará renúncia coletiva, ou seja, todos os candidatos majoritários e proporcionais sairão do páreo, deixando o PL, sozinho, cuidando da campanha de Lula no Estado. Do contrário, arma o palanque na praça pública e, como se nada tivesse acontecido, seguirá em frente com a candidatura de Heloísa e Bomfim para o governo. A senadora Heloísa Helena não saiu ontem de Maceió e, durante todo o dia, se reuniu com a cúpula do PT que, em bloco, fechou questão contra a coligação com o PL. Segue à noite para Brasília e, amanhã, no Senado, faz um discurso mostrando a realidade eleitoral de Alagoas. - Estou de coração partido. Mas prefiro a tristeza do coração partido a perder a dignidade. Não me dobrarei às conveniências de quem quer que seja. Ela disse que se o PT nacional obrigar a aliança com o PL, fica sem chapa em Alagoas. E, em outro desabafo, declarou que no dia que usineiro tentar botar um cabresto em meu pescoço para dizer qual o destino a seguir, perco a autoridade de olhar para os olhos dos meus filhos. E fez nova ameaça: - Se o PT nacional quiser fazer a intervenção, faça e aguente as conseqüências.