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Tremores

Sobe para 350 número de casas com rachaduras em Craíbas

Mais de 100 imóveis já foram condenadas pela Defesa Civil; problema coincide com o início das operações de mineradora

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Os 26 mil habitantes do município de Craíbas (distante 146km de Maceió) estão assustados e preocupados com tremores de terra na região. Em 2020, o número de imóveis com fissuras naquele município do Agreste alagoano não passava de 50; hoje são mais de 350.

O problema nas casas estava restrito ao Sítio Torrões, mas avançou para mais três povoados, conforme constataram técnicos da Defesa Civil Estadual e Municipal.

As rachaduras começaram a ser percebidas por proprietários de 10 casas na comunidade Torrões. Eles reclamavam do aparecimento repentino de fissuras nas paredes e afundamento do chão dos imóveis. Pouco tempo depois, o número de reclamações subiu para mais de 50. Os proprietários faziam obras paliativas.

Além de Torrões, os sítios Canaã, Capim e Lagoa do Mel têm muitas casas cheias de fissuras. Entre os imóveis, mais de 50 foram condenados pela Defesa Civil e podem desabar a qualquer momento. Os moradores, como o agricultor Genival Agripino da Silva, casado e com três filhos, foram aconselhados a sair o mais rápido possível.

Com os olhos marejados, Genival mostra a casa construída em 2005, com as paredes e até o alicerce rachados. “A Defesa Civil diz que eu tenho que sair da minha casa. Mas eu vou para onde?” pergunta.

O problema coincide com a entrada em operação da Mineradora Vale Verde, que, em março de 2020, iniciou a atividade de extração de cobre na região. Naquela época, um pequeno grupo de moradores do Sítio Torrões reclamava que as explosões para a extração do minério poderiam provocar rachaduras.

A empresa esteve no local, vistoriou alguns imóveis e, em reuniões com a prefeitura local e com vereadores, negou ser responsável pelo problema.

A população protestou e cobrou da prefeitura e da Defesa Civil explicações a respeito das causas dos tremores. Com o tempo, o número de casas com rachaduras e fissuras começou a aumentar.

Um dos primeiros a chamar a atenção para o problema foi exatamente o agricultor Genival Agripino da Silva. Na época, foi chamado de “agitador” e “louco”, conta.

Hoje, os imóveis vizinhos do agricultor estão em situação crítica. Os proprietários fazem obras paliativas e “amarração” de alvenaria. Mas nada adianta. A casa da agricultora Maria Lúcia Rodrigues da Silva, por exemplo, foi reforçada, mesmo assim as fissuras aparecem em outros pontos.

“Nunca foi assim. O pessoal da Defesa Civil, da mineradora, esteve na minha casa, nas dos vizinhos e não nos deram um laudo definitivo da situação”, disse Maria Lúcia, que mora no imóvel há 50 anos e diz que há quatro apareceram as rachaduras.

Cerca de 10 famílias do Sítio Torrões preferiram não arriscar, fecharam os imóveis e se mudaram para municípios vizinhos.

Somando as reclamações de moradores dos sítios Canaã, Capim e Lagoa do Mel, são mais de 350 imóveis com aumento na largura das fissuras. Emocionado, o agricultor José Silvestre, de 60 anos e com 8 filhos, mostrou a casa dele com os cômodos escorados para não cair. “A minha mãe (Maria Correia), com medo, abandonou tudo e foi embora”. Agora, dona Maria mora com outro filho, em Arapiraca.

As casas de mais 30 vizinhos estão na mesma situação. “Os tremores continuam. Dizem que nós somos culpados porque não construímos as casas direito. Moro aqui desde criança e nunca foi assim”, desabafou José Silvestre.

Os depoimentos dos agricultores são comoventes A maioria não quer sair do lugar onde nasceu. “Nossos avós, pais nos criaram aqui. Nossos netos estão chegando. Por que temos que sair?”, questiona Belarmino dos Santos.

Os pequenos pecuaristas também reclamam que, além de casas rachadas, aumentou a quantidade de animais mortos no período de reprodução. Um dos prejudicados é o líder dos pequenos criadores, Tancredo Barbosa. Morador do Sítio Lagoa do Mel, ele revelou que os prejuízos de quem cria gado aumentou com os abortos. Ele perdeu três vacas e a mãe dele, dois animais.

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