Interesses internacionais
Aldo Rebelo defende atenção com a Amazônia
Ex-ministro diz que região desperta cobiça em razão de suas terras, recursos naturais e riquezas minerais

A descoberta da Amazônia, ainda nas bancas escolares, aliada a uma sólida formação sobre personagens da história, ajudou a consolidar desde cedo o sentimento de nacionalidade no jornalista, ex-deputado e ex-ministro da Defesa, dos Esportes e ainda da Ciência e Tecnologia Aldo Rebelo.
Mesmo na época em que ainda militava no PC do B, partido que descobriu na juventude e por ele se elegeu deputado federal por São Paulo, o alagoano já flertava com temas nacionalistas e de segurança nacional. Isso foi de extrema importância quando, no governo da Presidente Dilma Rousseff, precisou dialogar com as Forças Armadas na condição de ministro da Defesa.
Foi o que ele próprio revelou em uma hora de entrevista no GazetaNews Entrevista, ancorado pelo jornalista Wyderlan Araújo e com a participação do jornalista Marcos Rodrigues. Isso ficou demonstrado em seu livro “Amazônia: a maldição das Tordesilhas - 500 anos de cobiça internacional”.
Sobre a saída do PC do B e agora a militância no MDB, para onde voltou, ele revela que isso é um processo natural, porque sempre preferiu se manter coerente nas ideias.
“Minha trajetória é muito ligada à questão nacional. Ao nacionalismo telúrico da Viçosa, das biografias que as minhas professoras nos davam de Rui Barbosa, Duque de Caxias, Floriano Peixoto, entre outros. O nacionalismo da juventude nos faz sempre querer viver num país grande, auspicioso, e isso foi uma intenção nossa. Mas também sempre tive a ideia de um país socialmente equilibrado e socialmente justo. Sou de uma região de muita desigualdade social. Aquilo doía. E a aspiração por um país equilibrado com uma escola de qualidade e uma saúde para todos foi sempre um sonho da minha juventude”, disse Rebelo.
Como dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE), ele se orgulha de ter feito parte da luta pela democracia. Hoje, diz acreditar que dá continuidade a esses compromissos com questões que considera relevantes, a exemplo da Amazônia.
“Passei quatro meses na Amazônia e percorri toda a Transamazônica de carro e visitei as principais universidades e centros de pesquisa. Procuro fazer e ajudar o Brasil a entender o porquê de a Amazônia ocupar o lugar de destaque na geopolítica do mundo. É essa explicação que tem que ser dada aos brasileiros com as respectivas consequências. Esse é o tema do meu livro”, destacou.
Ele mergulha na história a partir do descobrimento por Portugal, porém lembrando que os espanhóis já desconfiavam da nossa existência. O que é considerado o marco de Tordesilhas é um meridiano imaginário que sai de Belém descendo na direção de Laguna e tudo que estaria a oeste seria espanhol.
“Isso inclui toda a Amazônia, todo o Pará, Roraima, Rondônia, o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. E Portugal só teria a faixa de Belém e Laguna em Santa Catarina. Todo o Paraná e o Rio Grande do Sul e quase toda Santa Catariana seriam dos espanhóis”, revelou Rebelo.
Ele conta, ainda, que os portugueses, os bandeirantes e os índios romperam o “marco” e avançaram para a presença a oeste de Tordesilhas. E em 1750, quando foi celebrado o Tratado de Madri-Portugal, conseguiu avançar da Ilha de Marajó até Tabatinga, que até hoje é fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.
“O que chamo de maldição é que não conseguimos incorporar o que nos foi de direito o legado da independência. Nós herdamos toda essa Amazônia, só que ela continua sendo o que Craveiro Costa escreveu ‘um deserto ocidental’, porque nunca foi ocupada demograficamente, com a presença humana, economicamente, nem com infraestrutura”.
Em sua avaliação, isso até hoje se constitui num grande risco para a segurança nacional, em especial porque, assim como no passado, o interesse por suas terras, águas, bens naturais e minerais desperta cobiça internacional.