Família acusada de torturar, matar e queimar auditor será julgada
Crime aconteceu em 2022, enquanto a vítima fiscalizava estabelecimento e flagrou irregularidades
Por Da Redação | Edição do dia 30/10/2024 - Matéria atualizada em 30/10/2024 às 23h39
Será realizado hoje o julgamento, por júri popular, dos acusados pelo assassinato do auditor fiscal da Receita Estadual João de Assis Pinto Neto, que foi encontrado morto em uma região de canavial, perto da rodovia AL-405, em agosto de 2022. O julgamento terá início às 8h, no Fórum do Barro Duro, e será conduzido pelo juiz Geraldo Amorim.
Serão julgados pelo crime os irmãos Ronaldo Gomes de Araújo, Ricardo Gomes de Araújo da Silva, João Marcos Gomes de Araújo, além de Vinicius Ricardo de Araújo Silva, todos por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e corrupção de menor.
Já Maria Selma Gomes Meira, mãe de Ronaldo, Ricardo e João, será julgada pelo crime de ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor. Ela teria limpado o sangue da vítima da cena do crime e auxiliado na retirada do veículo da Secretaria de Estado da Fazenda de Alagoas (Sefaz) do local.
“O que aconteceu foi um crime hediondo, eles praticaram tortura, foi muito triste. A forma foi brutal. Ele não teve como pedir socorro, travaram o portão do local. Foram vários golpes de faca no pescoço e na cabeça, fraturou até o crânio dele”, declarou a viúva Marta Magalhães Pinto, que pede justiça.
O crime aconteceu durante uma inspeção realizada por Assis. Ele havia flagrado irregularidades no estabelecimento fiscalizado, um depósito de bebidas no bairro do Tabuleiro do Martins. O local era investigado por compra e venda de mercadorias roubadas. A vítima foi torturada e morta brutalmente pelos acusados.
Segundo os autos, João de Assis foi espancado, asfixiado, apedrejado e esfaqueado. Após o crime, os réus utilizaram gasolina e papelão para carbonizar o corpo do auditor em uma área de matagal.
Mesmo após o ocorrido, os réus fecharam apenas uma parte do estabelecimento e continuaram atendendo clientes enquanto Maria Selma limpava as manchas de sangue do local, com ajuda de um menor de idade.
O laudo da Polícia Científica apontou que João de Assis teve 95% do corpo carbonizado. A morte foi provocada por Traumatismo Cranioencefálico (TCE) a partir de instrumento contundente.
Familiares destacaram que o auditor fiscal era um homem alegre, brincalhão e sorridente, além de solícito em ajudar as pessoas. Eles também lamentaram a ausência dele. Antes de ser aprovado no concurso, Assis ficou quatro anos desempregado e reuniu a família para falar sobre a bênção que tinha sido o resultado.
JUSTIÇA
Ontem, o Governador Paulo Dantas declarou total apoio à família e disse acreditar que a justiça será feita. Ele informou que encaminhou um projeto para a Assembleia Legislativa do Estado em que solicita uma pensão complementar para a viúva.
“João de Assis era um homem sério, responsável, dedicado, transparente, correto e gozava do respeito de todos nós do governo de Alagoas. Eu confio na justiça e tenho certeza absoluta que os culpados serão exemplarmente penalizados e cumprirão sua pena em regime fechado”, afirmou Paulo Dantas.
João de Assis nasceu em Minas Gerais e tinha 62 anos. Havia mais de duas décadas atuava como auditor fiscal da Receita Estadual, na Secretaria da Fazenda de Alagoas (Sefaz-AL).
O ingresso ocorreu em 2002 por meio de concurso público. Ao longo de sua trajetória, João de Assis se destacou na Central de Operações Estratégicas e Fiscalização Interna (Coefi).
O secretário especial da Receita Estadual, Francisco Suruagy, destacou a conduta exemplar do servidor, sempre comprometido com suas atribuições e disponível para colaborar.
“João de Assis era um colega que desempenhava suas funções com excelência, correção e dignidade. Para nós, ele é e sempre será um exemplo de servidor público. Essa memória permanecerá viva entre nós, como um legado de dedicação e integridade”.
ATO
Ontem, os servidores da Sefaz fizeram um ato em frente o prédio do órgão, pedindo justiça no caso de João de Assis. “Estamos reunidos para clamar por justiça por nosso colega, vítima de uma ação cruel e covarde. Ele foi assassinado enquanto cumpria seu dever em nome do Estado. Pedimos que toda a sociedade alagoana se solidarize com este caso e que os responsáveis respondam proporcionalmente pela gravidade do crime. Convidamos a todos para acompanhar o julgamento”, afirmou Francisco Suruagy.
Os manifestantes estavam vestidos com uma camisa branca e a foto de João de Assis estampada na frente, e uma grande faixa com frases como “por João de Assis, queremos Justiça. Auditor fiscal assassinado no exercício de sua profissão”.