Sem confronto
Lula cobra explicação sobre maus-tratos a deportados
Avaliação do governo brasileiro é que embate político só interessa a presidente dos Estados Unidos

O governo Lula não quer transformar a questão dos deportados brasileiros em um cabo de guerra com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em reunião realizada ontem entre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Mauro Vieira, ficou decidido que o Itamaraty cobrará explicações da diplomacia norte-americana sobre o que ocorreu no voo que trouxe 88 brasileiros deportados na sexta-feira, 24, com algemas e correntes nos pés. Mas adotará tom cauteloso e evitará confrontos com Trump.
Na avaliação do governo brasileiro, é preciso uma reação firme às denúncias de que os imigrantes ilegais foram maltratados durante o voo de repatriação, que também apresentou problemas no ar condicionado. Nada, porém, que pareça um embate político com Trump porque, no diagnóstico do Itamaraty, a polarização é tudo o que o novo presidente dos Estados Unidos quer.
A ordem é também não partir para o enfrentamento com os EUA na reunião de emergência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). O encontro foi convocado pela presidente de Honduras, Xiomara Castro, que comanda a Celac, e será realizado em Tegucigalpa, capital daquele país. Castro atendeu a pedido do presidente da Colômbia, Gustavo Petro.
Desde 2021, o Brasil tem reiterado aos EUA, em reuniões consulares e por meio de notas diplomáticas, que algemas em deportados somente são aceitáveis em “casos de extrema necessidade”, quando há imigrantes condenados por crimes dentro do voo.
Na lista dos 88 brasileiros que desembarcaram em Manaus na sexta-feira, 24, no entanto, não havia condenados. Passageiros relataram que foram agredidos por agentes norte-americanos, impedidos até de beber água. Mulheres e crianças passaram mal. A Polícia Federal apura as denúncias de maus-tratos.
A aeronave teve de pousar em Manaus por problemas técnicos e muitos desceram em solo brasileiro algemados. Por ordem de Lula, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi acionado para levar os deportados da capital do Amazonas até Belo Horizonte.
Embora o caso das algemas nos voos de repatriação tenha vindo à tona com mais evidência agora, outros brasileiros chegaram ao País nas mesmas condições durante o governo de Joe Biden.