Política
Canal do Sert�o � reiniciado sob desconfian�a

Roberto Vilanova Delmiro Gouveia Foguetório, discursos e novas promessas políticas tornam a embalar o sertanejo, no ano eleitoral, com o anúncio festivo, ontem, da retomada das obras do Canal do Sertão. O ministro da Integração Nacional, Luciano Barbosa, assinou o documento simbólico autorizando a recomeçar a obra, que foi iniciada em 1994 pelo então governador Geraldo Bulhões e paralisada em 95 (governo Suruagy), sem explicação plausível. Ressabiado, o fazendeiro e comerciante Genivaldo Oliveira Guerra Nininho dono da tradicional churrascaria de Delmiro Gouveia, pôs as barbas de molho. Tenho 55 anos de idade e desde menino ouço falar em Canal do Sertão. Anunciar a obra este ano, às vésperas da eleição, dá margem às dúvidas. Espero que concluam a obra, o Sertão precisa, mas tenho também as minhas dúvidas, observou. Histórico Iniciado em 1994 pelo então governador Geraldo Bulhões, o Canal do Sertão foi orçado em 200 milhões de dólares ( preço de 1994) e deveria beneficiar a dezessete municípios sertanejos. Bulhões chegou a iniciar a estação elevatória e abriu treze quilômetros de canal. Em 95 ( governo Suruagy), a obra foi paralisada, a pretexto de o projeto ser submetido à avaliação de uma comissão de alto nível, formada por engenheiros, geólogos e economistas a comissão concluiu pela viabilidade da obra, mas Suruagy não acatou a recomendação e deixou virar ruínas quase 50 milhões de reais em maquinários, tubos e concreto, aumentando o prejuízo com a paralisação, o que já soma mais de 130 milhões de reais. José Aderaldo, 38, um dos agricultores assentados no projeto dos sem-terra, que ocuparam a área destinada ao perímetro irrigado do Moxotó, também tem dúvida sobre o real interesse do reinício da obra. Alagoas é o único Estado do Nordeste sem irrigação pública. Na Bahia tem, em Pernambuco tem, no Piauí, em Sergipe... só não tem em Alagoas, porque falta governo, desabafou com a autoridade de quem fez irrigação por conta própria sem apoio do Estado e hoje produz frutas e hortaliças na caatinga alagoana. Nós mostramos que é possível produzir tudo isso aqui. Se em Sergipe produz, por que a gente não pode produzir?, indaga o agricultor. Eu tenho dúvida porque exatamente agora, no ano da eleição, eles se lembram de retomar a obra. Novo custo Alagoas é o único Estado banhado pelo Rio São Francisco que não dispõe de projetos públicos de irrigação no semi-árido. Em 1994, no final do mandato, o governador Geraldo Bulhões iniciou a obra e foi criticado por isso a idéia do canal foi lançada em 1947 pelo então deputado Rui Palmeira, mas só Bulhões a colocou em prática. Através de release distribuído à imprensa, o ministro da Integração Nacional, Luciano Barboas, informou que foram disponibilizados no Orçamento da União, para este ano, 21 milhões de reais destinados às obras do Canal do Sertão, que está orçado agora em 611 milhões de reais. Projeto revolucionário, promessa mirabolante Delmiro Gouveia - Um canal de 287 quilômetros, rasgando o semi-árido alagoano para fazer escoar a água do Rio Moxotó e abastecer 40 municípios, beneficiando um milhão de pessoas. O sonho está no papel exposto à curiosidade pública, embora a maioria dos sertanejos prefira desconfiar da esmola grande, principalmente em ano eleitoral. Um projeto dessa envergadura, nem Minas Gerais, nem a Bahia, nem Pernambuco possuem. Mas, em todo caso, vamos aguardar os acontecimentos, afirmou um dos coordenadores do assentamento dos sem-terra, Antônio Bonfim, outro que fez irrigação por conta própria e hoje produz mamão, banana, tomate, quiabo e feijão irrigados à beira do Moxotó. As terras eram do governo, tudo isto aqui pertence à Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Nós chegamos aqui há cinco anos e mesmo sem o apoio do governo do Estado conseguimos colocar a terra para produzir. Com canal ou sem canal, nós estamos produzindo. Gostaria que o canal fosse construído, porque iria gerar empregos na região. Mas nós temos o nosso próprio projeto, que nos garante a sobrevivência. Tivemos a ousadia de fazer, não ficamos esperando os políticos, que aparecem agora com esses acenos. Desconfiados Bonfim, como os demais assentados, alegam que não precisam do governo para sobreviver, mas torcem para que o Canal do Sertão seja executado tal como está no papel. Eu já trabalhei em Petrolina (cidade pernambucana à margem do Rio São Francisco) e posso garantir que o projeto daqui é quatro vezes maior, completou Bonfim, que é natural de Águas Belas e foi selecionado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para invadir áreas do lado alagoano por medida de segurança, há esse intercâmbio, de modo que os alagoanos que moram na divisa invadem terras do lado pernambucano. Segundo release distribuído pela assessoria do ministro Luciano Barbosa, o Canal do Sertão vai captar 32 metros cúbicos de água por segundo, na barragem formada pelo Rio Moxoto no release é citado, erroneamente, o Rio São Francisco. O canal de 287 quilômetros de extensão vai fazer a água chegar até Arapiraca, permitindo a irrigação de 45 mil hectares de terras no sertão e no agreste. Diz o release: A água será utilizada na irrigação de 45 mil hectares ao longo do canal, atendendo à demanda de propriedades com atividade pecuária e consolidará a produção econômica da Bacia Leiteira de Alagoas. Além disso, vai proporcionar a implantação da piscicultura na região e estimular a instalação de indústrias em diversos segmentos.