NOVIDADE
Novo mapa de dano da Braskem pode mudar rumo da tragédia em Maceió
Avaliação é da Defensoria Pública, que divulgou nota técnica incluindo Flexais entre as áreas afetadas


Além de causar surpresa aos moradores dos Flexais, Marquês de Abrantes e Levada, a divulgação recente de uma nota técnica, elaborada em 2022, pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), pode alterar a compreensão oficial sobre a extensão dos danos e as áreas afetadas pela exploração de sal-gema pela Braskem, em Maceió. A novidade pode mudar a compreensão oficial da tragédia.
O documento veio à tona pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas e tem potencial de alterar o rumo da história, incluindo áreas que, até então, não haviam sido adequadamente monitoradas, como avalia o defensor público Ricardo Melro. Ele ressaltou que o relatório original já apontava a possibilidade de que a região atingida estivesse subdimensionada, com indícios de subsidência – ou afundamento do solo – além da zona oficialmente reconhecida.
“Esse é o ponto mais crítico e precisa ser urgentemente atualizado”, afirmou Melro. Segundo ele, a situação nas bordas da área reconhecida, especialmente nos Flexais, é severa, o que reforça o alerta feito pela CPRM de que a tragédia pode ser ainda maior do que o inicialmente considerado.
A preocupação do defensor também se estende à metodologia de monitoramento utilizada. Ele criticou a falta de ferramentas mais precisas, como o Laser Scanner e a topografia detalhada, para detectar e medir os deslocamentos do solo. “A verdade precisa ser esclarecida. O povo de Maceió não pode continuar sofrendo enquanto o problema é tratado como menor do que realmente é”, concluiu.

Enquanto isso, a Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), que representa os moradores das áreas afetadas, divulgou uma carta aberta denunciando a exclusão dos Flexais, Marquês de Abrantes e Quebradas do plano de compensação financeira da mineradora. Na carta, a entidade lamenta a não divulgação da Nota Técnica 04/2022, do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), e critica a falta de reconhecimento dos danos sofridos por essas comunidades.
Os moradores apontam que, embora enfrentem as mesmas patologias estruturais que motivaram a remoção de famílias de outros bairros, como Pinheiro e Mutange, os moradores dos Flexais foram injustamente deixados de fora do plano de compensação.
Para eles, o relatório técnico, agora divulgado pela Defensoria Pública, confirma que há subsidência, embora em taxas pequenas, nas áreas dos Flexais, e que o monitoramento atual, utilizando interferometria, não é suficientemente preciso para delimitar com segurança a abrangência do fenômeno.
A carta aberta também destaca a crítica feita pelo geólogo Thales Sampaio, da CPRM, durante a CPI da Braskem, questionando a situação dos Flexais. Sampaio desafiou publicamente qualquer um a provar o contrário, ou seja, que o afundamento do solo não afeta as áreas de Flexais e que a responsabilidade da Braskem não é clara. Esse desafio, segundo os moradores, nunca foi aceito por aqueles que insistem em negar os direitos das vítimas.
Tanto a Defensoria Pública quanto a associação que representa os moradores dos Flexais pedem uma revisão urgente do plano de compensação, com base nas novas informações que surgem, e a implementação de métodos mais eficazes para monitorar os danos.
O que está em jogo, segundo essas entidades, não é apenas uma questão de compensação financeira, mas também de justiça social e ambiental, considerando que as populações mais vulneráveis de Maceió seguem sendo as mais afetadas pela tragédia.
“Hoje, três anos depois, nossas vistorias de campo confirmam danos severos exatamente nessas bordas. O que pedimos à CPRM, que tem credibilidade e respeito, é a atualização desse estudo com os equipamentos corretos, sem interferência de outros órgãos públicos e da Braskem, para garantir que todas as áreas afetadas sejam reconhecidas e que medidas urgentes sejam tomadas. A verdade precisa ser esclarecida. O povo de Maceió não pode continuar sofrendo enquanto o problema é tratado como menor do que realmente é”, reforçou Ricardo Melro.