Legislativo
Câmara: investigação contra vereador Siderlane avança; Justiça mantém sigilo
Sessão histórica é comandada apenas por vereadoras; presidente Chico Filho se afasta dos holofotes


A Câmara Municipal de Maceió enfrenta uma das fases mais delicadas de sua história recente. Nesta quinta-feira (1º), completa-se uma semana desde que o vereador Siderlane Mendonça (PL) foi afastado do cargo por decisão da Justiça Eleitoral, no âmbito da Operação Falácia. A medida incluiu o cumprimento de 21 mandados de busca e apreensão, entre eles no gabinete do parlamentar, e colocou a Casa no centro de uma crise institucional.
As investigações seguem sob sigilo, mas os indícios divulgados apontam para apurações envolvendo corrupção, desvio de recursos públicos e crimes eleitorais. A promotora Micheline Laurindo Tenório Silveira dos Anjos confirmou que, por determinação judicial, não pode fornecer detalhes sobre o caso.
A ausência de informações oficiais, embora compreensível diante da confidencialidade do processo, alimenta especulações e incertezas no ambiente político.
O próprio Siderlane tem evitado declarações públicas. “Neste momento, não posso falar sobre o meu afastamento”, limitou-se a dizer, por orientação de sua defesa. Sua ausência no plenário e o gabinete fechado e às escuras evidenciam o isolamento político e o clima de apreensão.
Três assessores ligados ao gabinete de Siderlane também foram proibidos de frequentar as dependências da Câmara, o que compromete o funcionamento das atividades parlamentares. A lacuna, embora temporária, agrava a sensação de instabilidade.
Em meio à tensão, a sessão dessa quarta-feira foi marcada por um fato inédito: a condução dos trabalhos ficou a cargo de três vereadoras — Silvânia Barbosa (Solidariedade), Jeannyne Beltrão (PL) e Olívia Tenório (PP).
A presença feminina à frente da sessão simbolizou, ainda que momentaneamente, um sinal de resiliência institucional. O presidente Chico Filho (PL), por sua vez, preferiu manter-se em discreto segundo plano, ocupando as últimas cadeiras do plenário e evitando declarações à imprensa.
A postura de Chico ocorre após dias de forte pressão, especialmente após as declarações do vereador Marcelo Palmeira (PL), que revelou ter sido procurado por colegas da legislatura passada com pedidos para fraudar o concurso da Câmara. Embora tenha recuado das afirmações no dia seguinte, o episódio adicionou um novo elemento de desgaste ao ambiente legislativo.
IMPASSE POLÍTICO E JURÍDICO
O afastamento de Siderlane também abriu um impasse político e jurídico quanto à ocupação da vaga. O presidente da Câmara sustenta que o Regimento Interno permite afastamentos de até 120 dias sem necessidade de substituição. Já a defesa do suplente Caio Bebeto (PL), filho do deputado estadual Cabo Bebeto (PL), deve recorrer ao Judiciário para garantir sua posse.
A expectativa é que uma decisão judicial possa esclarecer o caminho a seguir e evitar o prolongamento do vácuo parlamentar.
Nos bastidores, cresce o debate sobre os impactos políticos da operação, sobretudo pela ligação de Siderlane com o Executivo — ele foi líder do prefeito JHC (PL) na legislatura anterior. A eventual redistribuição de forças na Casa, somada à postura mais cautelosa de Chico Filho, reforça o sentimento de incerteza entre parlamentares e servidores.
Apesar da tentativa de manutenção da normalidade, há apreensão. A possibilidade de desdobramentos da investigação sobre outros gabinetes não está descartada. O silêncio entre os vereadores mais experientes é visível. Muitos optam por evitar entrevistas e restringem comentários, à espera de maior clareza sobre o futuro político da Câmara.
Para alguns, a operação pode representar um ponto de inflexão no Legislativo maceioense. A depender do rumo das investigações, a atual configuração da Câmara pode ser alterada a poucos meses do início oficial da campanha eleitoral. Até lá, o clima é de espera e vigilância.