Mobilização
Greve mantém 50 mil alunos sem aulas na rede municipal de Maceió
Professores rejeitam reajuste de 6,27% oferecido pela Prefeitura; ontem, categoria ocupou a Câmara

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Maceió enfrenta uma das mais graves crises na sua educação pública dos últimos anos. Com uma greve que já dura quatro dias, cerca de 4 mil professores mantêm a paralisação, afetando diretamente a rotina de mais de 50 mil alunos da rede municipal.
O movimento escancara o colapso do setor e expõe o abismo entre a gestão municipal e os profissionais da educação.
A greve, iniciada na última segunda-feira (5), é resultado de um impasse que se arrasta há mais de dois meses. Os professores rejeitaram a proposta da prefeitura de um reajuste salarial de 6,27%, parcelado, exigindo a reposição integral das perdas salariais, que já ultrapassam 12%. A presidente em exercício do Sinteal, Consuelo Correia, afirmou que a categoria aceita negociar valores entre 8% e 10%, desde que o pagamento seja feito em parcela única.
Mais do que uma luta por salários, o movimento denuncia o sucateamento estrutural da rede municipal de ensino. Em reunião com vereadores, os professores relataram obras intermináveis, salas sem climatização, ausência de transporte escolar e a alarmante falta de mais de 4 mil docentes para suprir a demanda atual.
A ocupação da Câmara Municipal pelos grevistas, nessa quarta-feira (7), foi marcada por faixas, cartazes e discursos inflamados. Lideranças da CUT, do Sinteal e de outros sindicatos do serviço público participaram do ato, pressionando os parlamentares por uma resposta concreta. A movimentação levou o presidente da Casa, vereador Chico Filho (PL), a interromper a sessão plenária para receber uma comissão de professores.
A reunião entre manifestantes e vereadores durou mais de duas horas e, embora tenha escancarado a gravidade da situação, terminou sem avanços significativos. O vereador Leonardo Dias (PL), presidente da Comissão de Educação, admitiu que a precariedade nas escolas é real e lamentou a ausência de diálogo com o prefeito JHC (PL) e com o secretário de Educação, Vítor Pereira, que sequer atendeu às tentativas de contato feitas por parlamentares.
A instabilidade no comando da pasta também foi alvo de críticas. Em apenas cinco anos, Maceió trocou cinco vezes de secretário de Educação. Essa rotatividade, somada à ausência de políticas públicas efetivas, contribui para o agravamento da crise e revela a falta de um projeto sólido de gestão para a área.
Os professores relataram ainda que, diante da escassez de recursos, muitos estão arcando com despesas básicas, como a compra de material didático. A falta de transporte escolar, consequência de uma frota sucateada e com problemas mecânicos, compromete a frequência dos alunos — mais de 70% deles deixaram de frequentar regularmente as aulas.
A vereadora Teca Nelma (PT) e outros membros da Comissão de Educação se comprometeram a intermediar o diálogo com o Executivo. O presidente da Câmara, Chico Filho, pediu formalmente a pauta de reivindicações dos professores e prometeu tentar agendar um encontro com a prefeitura. No entanto, a ausência do secretário da Fazenda, João Felipe, foi usada como justificativa para adiar qualquer reunião imediata.
A greve expõe um cenário de abandono e negligência na educação pública de Maceió. Com a proximidade das avaliações nacionais do Inep, a paralisação agrava ainda mais os já baixos indicadores educacionais da capital alagoana, colocando em xeque o futuro de milhares de crianças.
Enquanto o poder público hesita, a crise educacional se aprofunda. A falta de diálogo e o despreparo administrativo deixam claro que a pauta dos professores vai além do reajuste: trata-se da luta por dignidade, estrutura e respeito. A urgência de uma solução é inadiável — mas a resposta, até agora, continua sendo o silêncio das autoridades. Dificilmente haverá encontro entre grevistas e o prefeito JHC (PL) esta semana, admitem os vereadores governistas.