Mudança
Estado assume Mercado de Jaraguá e projeta espaço gastronômico
Governo desmente informação divulgada por vereador; gestão JHC e oposição travam novo embate em meio ao cenário eleitoral


O cheiro de feijoada, o milho assado, o som das zabumbas e o colorido das bandeirinhas anunciam a temporada junina no Mercado Público de Jaraguá, em Maceió. Em meio à animação do período, o clima entre os mais de 30 permissionários e cerca de 100 trabalhadores diretos é de alívio temporário — mas também de apreensão. O motivo é o boato sobre o fechamento do mercado, divulgado nas redes sociais pelo vereador David Empregos (UB), o que provocou reação imediata do governo estadual.
O Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Alagoas (Ideral) classificou a declaração como fake news e garantiu que não há nenhum plano de encerramento das atividades no espaço. Ainda assim, a incerteza se espalhou entre trabalhadores, fornecedores e frequentadores do tradicional polo gastronômico.
Segundo David, o governo estadual pretende retomar o controle do mercado com o fim do contrato de cessão à Prefeitura, o que implicaria na desocupação dos boxes e o fechamento dos negócios. A afirmação caiu como uma bomba na Câmara de Vereadores e entre os trabalhadores, que já enfrentam problemas como falta de água, banheiros precários e infraestrutura defasada.
Parlamentares do PSB e do MDB reagiram com veemência. O presidente do Ideral, Davi Maia, foi categórico ao negar o fechamento: “Não há plano para encerrar o mercado. Queremos modernizar e ampliar o horário de funcionamento”. Em entrevista à Gazetaweb, ele explicou que, como a Prefeitura não demonstrou interesse em renovar o contrato de cessão — que se encerra em outubro de 2025 — a gestão retornará ao Estado. A ideia, segundo ele, é manter os contratos dos permissionários e ampliar o horário de funcionamento para todo o dia, transformando o local num centro gastronômico.
O debate, no entanto, ultrapassa as questões administrativas. No pano de fundo está a disputa política entre o PL, partido do prefeito JHC, e o MDB do Governador Paulo Dantas.
Na Câmara, o clima esquentou. O vereador Allan Pierre (MDB) acusou David Empregos de “terrorismo político” por espalhar informações que causaram pânico entre os trabalhadores. David, por sua vez, apresentou uma notificação que, segundo ele, indicaria a desocupação total do mercado — interpretação rebatida por seus colegas.
Diante da polêmica, o presidente da Câmara, Chico Filho (PL), anunciou que colocará em pauta uma audiência pública solicitada por Allan Pierre para discutir o futuro do mercado.
Enquanto políticos trocam acusações, os permissionários aguardam respostas. Muitos têm contratos de mais de 30 anos e sustentam suas famílias a partir dos negócios no mercado. Eles reivindicam reformas estruturais, mas temem perder o direito de continuar trabalhando ou ver o espaço descaracterizado.
O principal temor gira em torno de uma possível elitização do mercado. A transformação do espaço em um “centro gourmet de alto padrão” pode agradar ao turismo, mas ameaça a essência do local: a comida popular, os preços acessíveis e o atendimento familiar.
Durante reunião com comerciantes e representantes do governo de Alagoas na sexta-feira, o vereador Leonardo Dias defendeu que o local seja transformado em um polo gerador de emprego, renda e turismo para a capital.
“Mais do que um ponto de comércio, o Mercado do Jaraguá é um patrimônio do povo de Maceió. Ele precisa estar a serviço da nossa economia e tem um enorme potencial turístico e cultural. Mas isso só será concretizado se ouvirmos quem entende do assunto e já discute esse tema há anos, como o Instituto de Planejamento de Maceió, Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, a Associação Brasileira de Agentes de Viagens, Maceió Convention e todo o Trade”, afirmou Dias.
Fundado em 16 de dezembro de 1916, o Mercado de Jaraguá é símbolo da cultura popular maceioense e do sustento de centenas de famílias. O desafio, agora, é equilibrar modernização com tradição, eficiência com inclusão.