Discussões
Novo Plano Diretor de Maceió é inspirado em modelo colombiano
Projeto implementado em Medellín é reconhecido no mundo inteiro por ter revertido décadas de degradação social


A inspiração de Maceió no modelo de urbanismo social de Medellín, na Colômbia, não é exatamente uma novidade. Em 2021, o próprio prefeito JHC (PL) visitou a cidade, acompanhado de assessores e do então delegado Thiago Prado, hoje vereador, para conhecer experiências bem-sucedidas de transformação urbana. Agora, o tema volta com força à pauta da Câmara de Vereadores, que deverá receber nos próximos dias a minuta do novo Plano Diretor da capital alagoana.
Segundo o presidente da Casa, Chico Filho (PL), o documento mira uma ruptura com o modelo urbanístico ultrapassado que há 20 anos rege o desenvolvimento da cidade.
A principal referência, afirma ele, vem do Plano de Desenvolvimento Integrado de Medellín, reconhecido mundialmente por ter revertido décadas de violência e degradação social por meio de investimentos robustos em mobilidade, educação e espaços públicos de qualidade.
Durante cinco dias da semana passada, Chico Filho e o vereador Cal Moreira (PL) estiveram em Medellín e outras cidades colombianas a convite do Sebrae. Ao retornar, Chico defendeu que a experiência vivida reforça a necessidade de Maceió adotar um planejamento urbano mais inclusivo, moderno e sustentável. “Em Medellín, tudo funciona. As grotas de lá são dez vezes maiores que as de Maceió. Se eles conseguiram transformar, nós também podemos”, disse ontem (18) o vereador.
De epicentro do narcotráfico nas décadas de 1980 e 1990, Medellín tornou-se referência global em urbanismo social. A cidade foi premiada internacionalmente por seu sistema de transporte integrado, pelas bibliotecas-parque, por escolas de excelência nas periferias e por intervenções arquitetônicas que transformaram comunidades antes estigmatizadas.
Para Chico Filho, o que mais chama atenção não é apenas a infraestrutura, mas o sentimento de pertencimento gerado entre os moradores. “Antes, eu defendia privatizações. Depois de ver Medellín, mudei de ideia. A gestão pública bem feita funciona, desde que se eduque e fortaleça o compromisso da população com a cidade”, afirmou.
Apesar do discurso otimista, os próprios vereadores reconhecem que experiências anteriores de aproximação com o modelo colombiano não geraram avanços efetivos na capital alagoana. Projetos pontuais, como as ‘areninhas’ e a regulamentação do comércio informal, surgiram como reflexos desse intercâmbio, mas ficaram muito aquém de uma transformação estrutural.
Enquanto a minuta não chega oficialmente ao Legislativo, a Câmara realizou, nos últimos dias, capacitações internas. Mais de 60 assessores parlamentares participaram de palestras técnicas sobre os eixos do novo Plano Diretor, que irá nortear o desenvolvimento urbano da cidade pelos próximos dez anos.
O jornalista Luiz Vilar, assessor parlamentar, explicou que a proposta prevê, entre outros pontos, critérios mais rigorosos para adensamento populacional, preservação ambiental, ampliação da acessibilidade e reorganização dos espaços urbanos. “O plano busca corrigir distorções e planejar uma cidade mais funcional e inclusiva”, disse.
A base do plano anterior, de 2005, será mantida em aspectos formais, como a divisão de oito regiões administrativas. No entanto, todo o conteúdo passará por reestruturação. Entre as inovações está a previsão de revisões periódicas a cada dois anos, com balanços gerais até 2040 — uma tentativa de impedir que o documento, como o atual, fique obsoleto por décadas.
A assessora parlamentar Carol Dias ressaltou a importância do debate antecipado. “Esse período de preparação foi essencial. Agora, quando a minuta chegar, teremos condições de discutir, propor ajustes e votar com responsabilidade”, avaliou.
Adotar Medellín como referência é uma decisão ousada e carregada de expectativas. O verdadeiro desafio será aplicar na prática o princípio central que norteou a transformação da cidade colombiana: um urbanismo que promova justiça social, participação popular e dignidade nas periferias.
