Disputa
Militância do PT de Alagoas decide seu rumo neste domingo
Com três candidatos, partido chega dividido à eleição que definirá o novo presidente da sigla no estado



Neste domingo (6), quando as urnas forem abertas, os petistas alagoanos conhecerão o novo comando do PT em Alagoas — e, com ele, os rumos que o partido tomará no Estado. Três chapas disputam a direção, mas o embate central se dá entre a sindicalista Dafne Orion, da situação, e o deputado estadual Ronaldo Medeiros, da oposição.
A chapa encabeçada por Dafne, batizada de “Coração Petista”, é apoiada pela tendência Construindo um Novo Brasil, liderada nacionalmente por Lula, e tem o aval do deputado federal Paulão, que comanda o diretório estadual há quase duas décadas. Dafne é secretária de Formação do partido e, se eleita, será apenas a segunda mulher a ocupar o cargo em Alagoas, num partido que defende a paridade de gênero.
“Trago a força das mulheres do PT e da sociedade. Somos o partido que mais luta pelos seus direitos e pelos dos trabalhadores. Nosso compromisso é manter o diálogo com o povo contra o fascismo e a extrema-direita, que tenta barrar pautas como a redução da jornada 6x1 e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil”, afirmou Dafne.
Do outro lado, Ronaldo Medeiros, líder da Resistência Socialista, é o principal nome da chapa “Renova PT”. Fundador do partido no Sertão, Medeiros reuniu força especialmente no interior e na capital, onde filiou cerca de 20 mil novos militantes.
Medeiros denuncia um suposto uso irregular de recursos partidários nas eleições passadas, o que levou à rejeição das contas do diretório estadual. “O partido encolheu. Foi o único do Nordeste que não cresceu. Reduzimos nossa bancada e perdemos espaço nas prefeituras. Ficamos acanhados e inexpressivos”, criticou.
Segundo ele, a atual direção se afastou das bases e do povo. “Virou um partido de gabinete. Aliás, nem isso. Nossa sede ficava fechada a maior parte do tempo”, disparou. Também criticou a atuação de Dafne na direção: “Ela só se mobilizou quando teve que me enfrentar nesse processo. Antes disso, não promoveu nenhuma ação efetiva”, afirmou.
A disputa reflete diretamente no futuro do deputado federal Paulão, que pela primeira vez em 20 anos vê ameaçada sua hegemonia no PT e sua pretensão de disputar o Senado. Embora o diretório tenha recomendado seu nome ainda no fim da gestão de Ricardo Barbosa, a continuidade de sua influência depende do resultado desta eleição.
Dafne o defende com entusiasmo: “Lula precisará de senadores que enfrentem o fascismo. Paulão sempre esteve do lado certo. Precisamos de representantes que não traiam os interesses dos trabalhadores”.
Medeiros, por sua vez, afirma que o foco é a reeleição de Lula e que os nomes para as disputas majoritárias nos estados devem ser debatidos conforme as diretrizes nacionais, sem imposições. “Não somos contra Lula. Somos contra o modo tímido como o partido tem sido conduzido. O PT precisa voltar a ser projeto de cidade, de estado e de país. E isso exige debate real, não acomodação”.
FRAGMENTAÇÃO
E ALIANÇAS
A terceira chapa, liderada por Paulo Henrique, da tendência Diálogo e Ação Petista, tende a ter participação minoritária na disputa.
Apesar da tensão, tanto Dafne quanto Medeiros sinalizam disposição para unificar o partido após o pleito. “O debate ajuda a construir. Passada a eleição, todas as chapas terão representação proporcional na direção. Seguiremos juntos pelo principal projeto: reeleger Lula”, disse Dafne.
Medeiros concorda com a necessidade de unidade, mas cobvra mudanças: “Temos que aprender a ouvir e administrar os conflitos internos. O grupo atual impõe, não dialoga. Isso precisa mudar”.
Apesar das divergências, ambos os candidatos apoiam a reeleição do senador Renan Calheiros (MDB). Medeiros chegou a militar ao lado de Renan quando esteve fora do PT e reconhece a importância do emedebista para a sustentação do partido no estado. Hoje, o PT ocupa duas secretarias no governo estadual, em aliança com o MDB.