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Riscos

Estocagem subterrânea de gás no Pilar acende alerta e gera preocupação

MP investiga impactos ambientais, e moradores temem repetição da tragédia da Braskem em Maceió

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Gilvan Gracindo da Silva diz pescar desde os 10 anos de idade e teme pelos riscos à fauna
Gilvan Gracindo da Silva diz pescar desde os 10 anos de idade e teme pelos riscos à fauna | Foto: Porllane Santos
Projeto prevê injeção de gás em poços desativados no Pilar, onde antes havia petróleo
Projeto prevê injeção de gás em poços desativados no Pilar, onde antes havia petróleo | Foto: Porllane Santos

A empresa Origem Energia apresentou à Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea), na última semana, o projeto de estocagem subterrânea de gás natural a ser implantado na cidade do Pilar, na Região Metropolitana de Maceió. Além das questões econômicas, entretanto, há uma preocupação social e ambiental. O projeto é alvo de procedimento no Ministério Público de Alagoas (MPAL), após especialistas apontarem riscos de vazamento de gás, explosões e contaminação de lagoas e do lençol freático.

Ao determinar a abertura do procedimento, no último dia 13 de agosto, o promotor Sílvio Azevedo Sampaio, da Promotoria de Justiça do Pilar, afirmou que os riscos estariam sendo minimizados nos estudos de impacto ambiental apresentados.

O promotor citou ainda o clima de apreensão da população local, diante do histórico recente do desastre ambiental causado pela exploração de sal-gema pela Braskem em Maceió, que resultou no afundamento de bairros inteiros e na evacuação de milhares de pessoas.

Em nota à Gazeta, a empresa assegurou que o procedimento de estocagem é seguro e não apresenta riscos ao meio ambiente e à sociedade alagoana. Leia a nota na íntegra ao final da matéria.

DEFESA DA EMPRESA

Durante a apresentação na Fiea, a Origem destacou que a prática é utilizada há mais de um século nos Estados Unidos e na Europa. Segundo a empresa, em Alagoas a atividade de injeção e produção já ocorria, sendo novidade apenas a realização em caráter comercial.

O diretor de Estocagem de Gás da Origem, Anderson Bastos, afirmou que o objetivo central é oferecer mais segurança operacional e comercial ao mercado.

“A estocagem proporciona flexibilidade e fortalece a abertura competitiva do mercado de gás, criando condições mais seguras para todos os agentes”, disse.

A gerente do projeto, Danielle Carmo, acrescentou que a atividade seguirá padrões internacionais de segurança.

“Trata-se de uma atividade que já faz parte da história do setor energético, reconhecida internacionalmente pela sua confiabilidade. O diferencial, agora, é que o Estado se insere de maneira estratégica no cenário nacional com a comercialização da injeção e retirada do gás natural”, explicou.

O presidente da Fiea, José Carlos Lyra de Andrade, ressaltou a importância da transparência.
“A apresentação foi extremamente esclarecedora e reforça a segurança da atividade, que se mostra como um verdadeiro vetor de desenvolvimento para o Estado”, destacou.

COMO FUNCIONA
A ESTOCAGEM

O processo consiste em injetar o gás natural em reservatórios geológicos já explorados, onde antes havia petróleo ou gás. As rochas-reservatório armazenam o gás em microporos de forma estável e segura, que pode ser retirado quando houver demanda.

O projeto será desenvolvido no município do Pilar, dentro da concessão do Polo Alagoas, e terá capacidade de armazenar até 50 milhões de metros cúbicos de gás natural, integrados à malha nacional de transporte.

COMUNIDADE DENUNCIA FALTA DE INFORMAÇÃO

O Ministério Público afirma que moradores, pescadores e lideranças comunitárias relatam não terem sido consultados ou informados sobre os riscos do empreendimento, questionando a publicidade da audiência pública realizada em 20 de março.

Também foi citada a alegação de que os planos de emergência apresentados pela empresa seriam genéricos, elaborados para a operação de exploração já existente, e não específicos para a nova atividade.

O presidente da Colônia de Pescadores do Pilar, Josué Félix, cobrou mais diálogo. “A gente não sabe, pode futuramente acontecer o que aconteceu em Maceió com a Braskem, né? Então, o bom seria que eles viessem e conversassem com o pessoal da comunidade para explicar como seria feita essa estocagem de gás”, afirmou.

A aposentada Jane Santos expressou temor. “É muito perigoso isso. A gente vê aí a Braskem, o resultado da Braskem. Não tem como a gente assumir uma coisa dessa”, disse.

Já a dona de casa Roseane Lima Monteiro afirmou viver sob medo. “Eu moro quase praticamente na beira da lagoa. Isso vai prejudicar a comunidade pilarense, os pescadores. Uma explosão desse gás vai acabar com a cidade. A cidade já é pequena. E acontecendo uma coisa dessa é muito, muito perigoso”, destacou.

O líder comunitário Luiz Augusto Peixoto questionou a reutilização de instalações antigas. “Existe uma instalação de 1980 que vai ser reutilizada para isso. São anos de uso para outra função e agora vai ter que ser readaptado. Como é que vai afetar a fauna, vai afetar a flora? Nós temos uma lagoa que é o sustento da cidade. E aí?”, indagou.

PRÓXIMOS PASSOS

O MPAL enviou ofícios ao Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), à Origem Energia, à Agência Nacional do Petróleo (ANP) e à prefeitura do Pilar para apresentação de documentos técnicos, estudos de impacto, planos de emergência e informações sobre a consulta pública.

O procedimento servirá para apurar a regularidade do licenciamento ambiental e verificar se os princípios de precaução, prevenção e informação foram observados, visando garantir a segurança da população e a proteção ao meio ambiente.

O OUTRO LADO

A Origem Energia esclarece que o projeto de estocagem subterrânea de gás natural segue as mais rigorosas normas de segurança internacionais e adota tecnologia segura e consolidada, utilizada no mundo há mais de 100 anos.

A operação consiste em armazenar gás nos microporos das rochas, chamadas rochas-reservatório, que existem na região há milhares de anos - e lá continuarão. Esta operação é exatamente a mesma realizada na reinjeção de gás em campos de petróleo e gás por todo o mundo. Prática esta que é comum e frequente no Campo de Pilar desde a década de 1980 durante a atividade de produção de petróleo e gás natural. Trata-se, portanto, da revitalização do Campo de Pilar, utilizando a infraestrutura já existente para realizar uma atividade comercial que contribuirá para o desenvolvimento socioeconômico da região.

O projeto segue todos os trâmites legais e já tem estudo ambiental, licença prévia e foi apresentado em audiência pública amplamente divulgada, que contou com a participação de especialistas do mundo acadêmico, lideranças políticas e comunitárias, imprensa, representantes do Ministério Público, dentre outros. A empresa permanece à inteira disposição da sociedade e dos órgãos competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários.

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