No domingo
Protestos contra PEC das Prerrogativas e anistia reúnem multidões nas capitais
Mobilização nacional ganha força com presença de artistas em Maceió, Salvador e Rio de Janeiro


Manifestantes tomaram as ruas das 27 capitais brasileiras nesse domingo (21) em protesto contra a PEC das Prerrogativas, aprovada em votação no Congresso na semana passada. Os atos também contestaram a proposta de anistia a condenados pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro e incluíram críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Assim como no 7 de Setembro, quando manifestações pró-anistia mobilizaram cerca de 42 mil pessoas na Avenida Paulista, os protestos desse domingo mostraram força semelhante. Em São Paulo, levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrapem 42,4 mil participantes — número que se aproxima ao do ato bolsonarista ocorrido no feriado da Independência. No Rio, o público estimado foi de 41,8 mil.
As manifestações começaram pela manhã em Brasília, Salvador, Maceió, Natal, São Luís, Teresina, João Pessoa, Belo Horizonte, Cuiabá, Campo Grande, Manaus e Belém, e ganharam volume à tarde com atos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Vitória e outras capitais. As últimas ocorreram já no início da noite em cidades do Norte, como Rio Branco, Porto Velho, Palmas e Boa Vista.
Convocados por frentes ligadas ao PSOL e ao PT — Povo Sem Medo e Brasil Popular — os protestos reuniram movimentos como MST e MTST e receberam adesão de artistas em várias capitais, o que ajudou a ampliar a visibilidade.
ARTISTAS
Na capital baiana, milhares se concentraram em frente ao Cristo da Barra. A cantora Daniela Mercury e o ator Wagner Moura lideraram discursos contra a PEC e a anistia, acompanhados por gritos de “sem anistia” e “fora PEC da impunidade”. A atriz Nanda Costa também marcou presença.
Em Maceió, a manifestação aconteceu na orla da Pajuçara e teve a cantora Simone como principal voz no trio elétrico. A artista discursou contra a anistia e cantou com os manifestantes a música “Tá na Hora do Jair Já Ir Embora”, que embalou campanhas eleitorais em 2022.
A concentração para o ato aconteceu na Praça Sete Coqueiros, na Pajuçara e reuniu milhares manifestantes, que saíram em caminhada pela orla da capital alagoana.
Presente ao ato, o presidente estadual do PT e deputado, Ronaldo Medeiros, reforçou que a mobilização já tem surtido efeito. “É um movimento vitorioso. Vários parlamentares estão afirmando que não vão votar mais a favor da PEC. Muitos não querem mais nem a anistia. Além disso, o Senado Federal também está se posicionando contra. O trabalhador quer que o Congresso vote as pautas que beneficiem o povo brasileiro, como a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil e a defesa da escala 6 por 1”, disse.
O deputado federal Paulão (PT-AL), que votou contra a PEC na Câmara, chamou atenção para a importância da pressão popular. “A importância do povo na rua é fundamental, é o único momento em que a classe política tem medo. Esse ato é um ato de resistência, em defesa da democracia. Não podemos dar anistia a bandido. A PEC das Prerrogativas, na prática, cria uma elite acima da lei. Espero que o Senado derrube. Meu voto foi contrário”, declarou.
DIVERSIDADE DE CENÁRIOS
De Copacabana, no Rio, onde Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil se apresentaram, à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, os protestos se repetiram em diferentes formatos, mas com pautas convergentes: rejeição à anistia ampla e crítica à blindagem parlamentar. Em várias capitais, as ruas ganharam cartazes com frases como “Congresso da vergonha”, “sem perdão” e “em defesa da democracia”.
A mobilização nacional de domingo mostrou que os protestos contrários à PEC conseguiram rivalizar com os atos da direita realizados no 7 de Setembro. Embora o tom festivo tenha marcado algumas capitais, como Salvador e Maceió, o fio condutor foi a tentativa de se contrapor à narrativa bolsonarista que dominou as ruas em datas simbólicas recentes.