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Pós sal-gema

Braskem mantém operação em Maceió e aposta em novo modelo produtivo

Empresa passa a focar no processamento de dicloretano, utilizado na indústria de transformação

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Apesar do fim da extração de sal-gema, Braskem descarta desmonte de fábrica em Alagoas


Braskem. A única petroquímica integrada de primeira e segunda geração de resinas termoplásticas no Brasil.
Foto:@Ailton Cruz
Apesar do fim da extração de sal-gema, Braskem descarta desmonte de fábrica em Alagoas Braskem. A única petroquímica integrada de primeira e segunda geração de resinas termoplásticas no Brasil. Foto:@Ailton Cruz | Foto: @Ailton Cruz

Ao contrário do que vinha sendo especulado nos últimos meses, a Braskem continuará operando em Maceió, mantendo ativa a planta industrial localizada no bairro do Pontal da Barra.

A estrutura será redirecionada para o processamento de dicloretano (EDC), um dos principais produtos químicos utilizados pela indústria de transformação em todo o mundo.

Com a mudança, a companhia encerra definitivamente o ciclo de mineração de sal-gema em Alagoas e inicia uma nova fase de operação com base industrial mais sustentável.

As informações foram repassadas com exclusividade à reportagem por executivos da empresa em Alagoas. Eles detalharam que, apesar do encerramento das atividades de extração mineral, a Braskem não deixará o Estado e seguirá investindo no parque do Pontal da Barra como ativo estratégico para suas operações no Brasil.

A informação ocorre após a empresa comunicar oficialmente à Agência Nacional de Mineração (ANM) a desistência da exploração da jazida de sal-gema localizada entre os municípios de Maceió, Paripueira e Barra de Santo Antônio.

A região abrigava uma das reservas mais puras do mineral no mundo, mas a extração, iniciada em 1974, deu origem à maior tragédia urbana já registrada em Alagoas, com o afundamento de bairros inteiros da capital.

A decisão é definitiva, segundo os representantes da companhia, e põe fim a especulações sobre eventual retomada da mineração. Além disso, a direção rechaça qualquer possibilidade de desativação ou transferência da planta industrial de Maceió para outros estados.

O novo foco será o processamento de EDC, insumo utilizado na fabricação de plásticos, fármacos, produtos agroquímicos e outros derivados industriais.

A Braskem explica que o insumo continuará sendo importado, como já ocorre desde 2019, quando a produção de soda-cloro passou a depender de matéria-prima externa.

Com o fim da mineração, a empresa também encerrará a produção de soda cáustica e cloro a partir de 2026, desativando a Unidade de Cloro-Soda (UCS). A Algás – Gás de Alagoas S.A. – já foi notificada oficialmente sobre a mudança, o que pode impactar a dinâmica do mercado de gás no Estado.

Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) revelam que, no acumulado de janeiro a julho de 2025, o Terminal Portuário do Pontal registrou movimentação de 229.978 toneladas, uma queda de mais de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A Braskem defende que o redirecionamento produtivo visa preservar empregos, manter a importância econômica do parque e adaptar-se à nova realidade judicial e ambiental.

A operação da planta ainda movimenta aproximadamente R$ 5,1 bilhões por ano, gera cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos e injeta R$ 960 milhões anuais na economia local.

O Ministério Público Federal (MPF) ressalta que o novo perfil da operação não altera os compromissos judiciais assumidos pela empresa.

Permanecem válidos os acordos firmados desde 2020, que incluem o fechamento das 35 cavidades subterrâneas e o pagamento de indenizações às famílias afetadas. A força-tarefa do MPF segue acompanhando os desdobramentos do caso.

SITUAÇÃO DAS MINAS

A Defesa Civil de Maceió informou que parte das cavidades já foi preenchida com areia (backfilling), enquanto outras foram fechadas naturalmente ou estão em processo de intervenção. A previsão de conclusão das ações é dezembro de 2026.

A Prefeitura de Maceió já recebeu R$ 1,7 bilhão em indenizações referentes às perdas de arrecadação tributária, pagas pela Braskem, mas ressalta que as ações de compensação ambiental e urbanística ainda estão em andamento junto ao Ministério Público Federal e à Justiça Federal.

A região das minas é vista pelos técnicos como “zona de monitoramento permanente e risco indeterminado”, e a previsão é que não haja reocupação da área pelos próximos dez anos.

Já o deputado estadual Inácio Loiola (MDB) sugeriu que o local seja transformado em um parque memorial.

A decisão da Braskem de manter a operação industrial ativa, ao mesmo tempo em que encerra a exploração mineral, representa um marco simbólico para o estado.

Segundo ambientalistas e economistas ouvidos pela reportagem, a transição de um modelo extrativista para uma base produtiva sustentável impõe novos desafios à economia local, mas também sinaliza uma tentativa de reconstrução da confiança com a sociedade alagoana.

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