Religião e política
Igrejas potencializam candidatos em sua base de olho em 2026
Movimentação de lideranças evangélicas em AL sinaliza reconfiguração de alianças e disputas no campo eleitoral


O tabuleiro político de Alagoas começa a se movimentar com vistas às eleições de 2026, e um dos atores de peso nesse cenário é o segmento religioso, em especial as igrejas evangélicas. Segundo o Censo 2022 do IBGE, 22,9% da população alagoana se declara evangélica. Em Maceió, esse número chega a quase 30%. A Assembleia de Deus em Alagoas (AD Alagoas), a maior denominação evangélica do Estado, tem se consolidado como uma força política relevante, com representantes eleitos e uma base de fiéis cada vez mais ativa e numerosa.
O caso mais recente que exemplifica essa interseção entre fé e política é o de Gunnar Nunes Nicácio, filho do pastor-presidente da AD Alagoas, José Orisvaldo Nunes de Lima. Gunnar, que atua como coordenador de Mídia e Relações Públicas Institucionais da denominação, deixou o Partido Liberal (PL) — sigla do prefeito de Maceió, JHC — e filiou-se ao Progressistas (PP), partido comandado no Estado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira.
A mudança, interpretada como um realinhamento político da cúpula assembleiana, provocou repercussões imediatas: mais de 50 servidores comissionados ligados ao deputado estadual Mesaque Padilha (UB), também apoiado pela igreja, foram exonerados da Prefeitura de Maceió.
A disputa reflete a tentativa da Assembleia de Deus de ampliar sua representação política direta. Ainda que a direção da igreja declare manter uma postura “republicana” e “não partidária”, o peso simbólico de um nome ligado à liderança máxima da denominação confere uma visibilidade expressiva.
A movimentação da cúpula da AD rumo ao PP é interpretada por analistas como um gesto estratégico, capaz de reposicionar a igreja no centro das negociações políticas estaduais.
Cientistas políticos observam, porém, que o eleitorado evangélico é diverso e não segue uma única orientação política. Em geral, principalmente no segmento pentecostal e neopentecostal, há uma identificação maior com candidatos de direita e que defendam pautas de costumes alinhadas ao pensamento mais conservador.
A FORÇA DO
VOTO CRISTÃO
Em Alagoas, tanto evangélicos quanto católicos ocupam espaços estratégicos na política. Na Assembleia Legislativa, nomes como Mesaque Padilha e Silvio Camelo (PV) têm ligações com o eleitorado cristão, o primeiro com o segmento evangélico e o segundo, com o católico. No Congresso Nacional, o deputado Fábio Costa (PP) é membro da Assembleia de Deus, enquanto a senadora Eudócia Caldas (PL) é adventista do sétimo dia.
O Governador Paulo Dantas (MDB), que também se declara evangélico, tem buscado maior aproximação com esse público. No ano passado, nomeou a pastora Cláudia Balbino, da Assembleia de Deus Brás, como secretária do Trabalho.
Já o prefeito JHC (PL), embora não esteja ligado a nenhuma igreja específica, mantém diálogo estreito com diversas denominações, reforçado por vínculos familiares com o meio religioso. Nas redes sociais, JHC costuma postar versículos bíblicos com frequência.
Na Câmara Municipal de Maceió, o vereador Siderlane Mendonça (PL) frequenta a Igreja Adventista, enquanto os vereadores Leonardo Dias (PL) e Silvio Camelo Filho (PV) são ligados a movimentos católicos.
NEUTRALIDADE
E INFLUÊNCIA
Enquanto as igrejas evangélicas ampliam sua presença no debate público, a Igreja Católica em Alagoas tem reafirmado a neutralidade institucional. Em 2022, o então arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, divulgou nota orientando padres e diáconos a não se envolverem diretamente em campanhas, nem permitirem o uso de símbolos católicos em eventos políticos.
À medida que se aproximam as eleições de 2026, a tendência é que a presença das igrejas nas articulações políticas se intensifique. Com uma base numerosa e capilarizada, as denominações religiosas têm potencial para influenciar os resultados em disputas majoritárias e proporcionais.
