COP30
Lula reforça defesa do fim dos fósseis e tenta destravar negociações
Presidente elogia conferência em Belém, mas evita anúncios sobre financiamento e transição energética


O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ontem que o Brasil “quer mostrar que é possível” avançar nas negociações climáticas, mas frustrou expectativas de anúncios sobre financiamento climático ou transição energética durante a COP30, em Belém. Na coletiva da noite, limitou-se a destacar o papel do País no diálogo internacional e a defender que a conferência “respeitou a soberania” das nações participantes.
Lula rebateu críticas à escolha de Belém como sede, afirmando que a cidade entregou “uma COP melhor do que em qualquer outro lugar”, e elogiou o trabalho da primeira-dama, Rosângela da Silva, Janja, no evento. Mais cedo, ele se reuniu com representantes de organizações, cientistas e lideranças indígenas, que cobraram a inclusão de um roteiro explícito para o fim dos combustíveis fósseis no texto final — ponto ausente no primeiro rascunho divulgado na terça-feira.
Segundo participantes, delegações têm consultado seus governos após conversas com Lula, enquanto países árabes mantêm resistência a compromissos mais firmes. Um grupo liderado pelas Ilhas Marshall, apoiado por mais de 80 países, defende que o documento final estabeleça uma transição clara e irreversível dos fósseis.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirmou que Lula se mostrou “convencido” da necessidade do road map. “Ele disse que vai defender isso aqui, no G7, no G20 e em outros fóruns”, relatou.
PRESSÃO POR ACORDOS
Lula e o secretário-geral da ONU, António Guterres, atuam para destravar três pontos centrais: distribuição dos US$ 300 bilhões prometidos em ajuda climática; barreiras ambientais que podem afetar as exportações brasileiras; e um roteiro global para a eliminação dos combustíveis fósseis. O governo também pressiona pelo avanço do Tropical Forests Forever Facility (TFFF), fundo que busca remunerar países pela preservação de florestas.
Especialistas lembram que metas já pactuadas — como triplicar energias renováveis e cortar o metano até 2030 — poderiam reduzir em um terço o aquecimento global até 2040, ampliando as oportunidades brasileiras no setor de tecnologias limpas.
PAINEL GLOBAL
Lula também recebeu um grupo de cientistas que propôs um painel internacional para desenvolver o mapa do caminho para a eliminação dos fósseis. O climatologista Carlos Nobre afirmou que o grupo defende o fim desses combustíveis até 2040 e que o Presidente “não discordou” da meta.
Segundo Nobre, Lula afirmou que “a COP30 tem que ser a mais importante das COPs”, mas ponderou que avanços dependem de consenso entre países. Ainda assim, garantiu que continuará defendendo o tema nos principais fóruns globais.
O resultado das negociações em Belém deve definir o nível de ambição climática do Brasil e sua posição na liderança da agenda ambiental internacional.
APORTE
A Alemanha anunciou ontem um aporte de € 1 bilhão (aproximadamente US$ 1,15 bilhão) ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa brasileira que incentiva a conservação de florestas em países em desenvolvimento.
O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante entrevista coletiva realizada na noite de ontem, em Belém.
