A um ano das eleições, concursos viram trunfo para gestores

A um ano das eleições gerais, a corrida por capital político em Alagoas ganhou um novo ingrediente: os concursos públicos. Historicamente ligados à renovação de quadros, melhoria da gestão e fortalecimento dos serviços, os certames passaram a ser também instrumento de visibilidade administrativa em um período pré-eleitoral decisivo.

O movimento é puxado pelo governo de Alagoas, que lançou recentemente o maior pacote de concursos públicos da história do Estado, e encontra eco nas duas maiores cidades — Maceió e Arapiraca –, onde editais, comissões formadas e anúncios em preparação ajudam a compor um cenário de forte mobilização em torno do tema.

Em um momento de desgaste nacional do serviço público e de forte cobrança social por qualidade nas áreas essenciais, lançar concursos é sinalizar compromisso com planejamento, reposição de pessoal e modernização da máquina. Em ano pré-eleitoral, esse gesto se converte também em ativo político visível, já que atinge diretamente milhares de famílias e gera repercussão permanente entre concurseiros, sindicatos e servidores.

Em Arapiraca, segunda maior cidade do Estado, a prefeitura vive um ritmo intenso de concursos. Certames em 2025 foram uma determinação do prefeito Luciano Barbosa desde sua posse, e a prefeitura vem seguindo o cronograma.

A cidade acaba de divulgar nova data para as provas do concurso da Educação, que teve 26.770 inscritos e será aplicado em 13 e 14 de dezembro. O volume de candidatos obrigou a gestão a readequar locais de prova e ampliar a capacidade logística do município.

O concurso oferece 392 vagas, distribuídas entre professores de diversas áreas, assistentes administrativos e secretários escolares — um dos maiores editais da rede municipal de Arapiraca. O certame soma-se ao concurso para a Guarda Municipal, com 48 vagas, cujos participantes já enfrentaram etapas intelectuais, físicas e psicotécnicas.

O impacto eleitoral é inevitável: a Educação é a maior estrutura municipal e concentra grande parte do funcionalismo, além de forte mobilização social. Ao entregar concursos robustos, a gestão cria narrativa de investimento e responsabilidade — embora o prefeito negue articulação eleitoral.

PRESSÃO

Em Maceió, a disputa tem outro ingrediente: pressão política pública e crescente engajamento de concurseiros. O prefeito JHC (PL), cotado para disputar o governo do Estado em 2026, passou a ser cobrado publicamente pelo vice-governador Ronaldo Lessa (PDT), que o provocou nas redes sociais a anunciar um novo concurso público.

A troca de mensagens se transformou em pauta política. Lessa desafiou JHC a lançar o concurso em troca de subir na roda-gigante da Pajuçara; JHC respondeu a uma publicação, o que foi interpretado como sinal verde e gerou forte expectativa. Nos bastidores, a prefeitura já se movimenta: o Diário Oficial publicou aviso de cotação para contratação de instituição para organizar o concurso da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).

A Semdes é uma das pastas mais estratégicas da capital, responsável por Cras, Creas, acolhimento, proteção social e segurança alimentar — áreas com forte impacto social e grande visibilidade pública.

Outro certame aguardado é o da Guarda Civil Municipal, com 50 vagas. O cargo tradicionalmente atrai milhares de candidatos e possui forte apelo entre jovens.

PACOTE

O pano de fundo de toda essa movimentação é o anúncio feito pelo governo de Alagoas, que lançou o maior pacote de vagas em concursos públicos da história do Estado. O programa envolve múltiplas áreas, diversos órgãos e milhares de oportunidades, e fortalece a tese de que os concursos passaram a ser uma das principais vitrines políticas da gestão estadual.

Esse gesto criou uma espécie de efeito dominó: pressionou prefeituras, reacendeu o debate sobre a necessidade de reposição de quadros e empurrou o tema para o centro da agenda pública.

Os concursos viraram trunfo eleitoral por atingirem diretamente centenas de milhares de potenciais eleitores.