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Desvios ilegais

Parlamentar denuncia furto de água de adutoras no Sertão e Agreste de AL

Grupos organizados estariam fazendo ligações clandestinas para abastecer reservatórios privados

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Wanderley pediu uma força-tarefa do MP para combater furtos
Wanderley pediu uma força-tarefa do MP para combater furtos | Foto: Ascom ALE-AL

A crise hídrica que atinge o Agreste e o Sertão de Alagoas há dois meses ganhou novos contornos ontem, durante sessão ordinária da Assembleia Legislativa. O deputado Doutor Wanderley (MDB) denunciou o desvio ilegal de água das principais adutoras da região e pediu a criação de uma força-tarefa do Ministério Público para combater o que classificou como “crime contra a vida do sertanejo”.

Segundo o parlamentar, grupos organizados estariam “sangrando” adutoras e mananciais para abastecer tanques privados, irrigação irregular e um lucrativo mercado clandestino de caminhões-pipa.

“Sertanejos, donas de casa, vaqueiros e pequenos produtores passam meses sem água na torneira, enquanto o pouco que têm é usado para comprar água desviada”, afirmou. “Quando necessidade vira negócio e direito vira produto roubado, deixa de ser falta e passa a ser crime”.

Wanderley disse que irá solicitar a instalação de uma força-tarefa do Ministério Público Estadual. “Esses crimes não são cometidos por pessoas comuns, mas por grupos orientados, que sabem exatamente o que fazem”, declarou.

O debate mobilizou outros deputados. Ronaldo Medeiros (PT), ex-presidente da Arsal, relatou ter identificado diversos pontos de desvio quando esteve à frente da agência. “Há casos de cisternas gigantes sendo abastecidas ilegalmente para venda em caminhões-pipa. Com esses furtos, mais de 50% da água se perde no caminho”, disse, defendendo o uso de drones para fiscalizar as tubulações.

DESABASTECIMENTO

O cenário descrito na Assembleia reflete o que prefeitos têm relatado nas últimas semanas. Cerca de 300 mil moradores de 25 cidades sofrem com desabastecimento, em meio a temperaturas que chegam a 40 °C e uma estiagem prolongada.

As adutoras da Bacia Leiteira — que atendem 18 municípios — e os sistemas do Bálsamo e de Igaci, responsáveis por outras sete cidades, operam sob forte pressão devido ao aumento dos furtos. O transporte clandestino de água tornou-se altamente lucrativo: um caminhão-pipa com até 12 mil litros pode ser vendido por R$ 500 a R$ 600.

Em cidades como Estrela de Alagoas, o fornecimento urbano está irregular há mais de dois meses. Na zona rural, depender de carros-pipa voltou a ser rotina, e famílias relatam esperar dias para receber água.

Prefeitos enviaram pedidos de socorro à AMA e à Assembleia. O prefeito de Cacimbinhas, Hugo Wanderley (MDB), afirma que o desvio sistemático provocou “um colapso estrutural no abastecimento”. Em Palmeira dos Índios, com 75 mil habitantes, a revolta cresce diante do desabastecimento prolongado.

Até o fechamento desta edição, nem o deputado Doutor Wanderley nem o prefeito Hugo haviam apontado os nomes dos responsáveis pelos desvios.

Para evitar o colapso total, municípios estão contratando entre 10 e 15 caminhões-pipa por dia, além de receber cargas do Exército.

Vídeos publicados por prefeitos nas redes sociais mostram pontos clandestinos de rompimento das adutoras e reforçam o apelo por investigação. Eles defendem a atuação conjunta do governo, da Polícia Civil e do Ministério Público para desmontar grupos que transformaram a água em “mercadoria controlada pelo crime”.

Em nota, a Casal informou que realiza fiscalizações periódicas, em parceria com a Conasa Águas do Sertão, para identificar e coibir ligações clandestinas. A companhia afirma que a rede é extensa e complexa, o que exige colaboração da população. Denúncias podem ser feitas pelo 0800 082 0195 ou pela Ouvidoria no site oficial.

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