Política
Alagoas tem mais de 300 mil eleitores analfabetos

FÁTIMA VASCONCELLOS Dos 1.600.092 eleitores de Alagoas, 300.221 são analfabetos. Nesse segmento, predomina a pobreza, com o agravante do desemprego, mas a briga pelo voto desses cidadãos é grande, apesar da ampla chance de cometerem erro diante da urna eletrônica. E o pior: a maioria desconhece quem é candidato a quê. Se a situação não melhorar a partir da propaganda na televisão, muita gente vai chegar ao dia da eleição, 6 de outubro, com dificuldade em fazer a escolha dos nomes a serem postos na urna. Em Maceió, perambulando por praças e calçadas dos estabelecimentos comerciais, na mendicância ou sobrevivendo de biscates, homens e mulheres revelam a apatia pelo processo eleitoral. Para essa legião de excluídos, é como se não fizesse diferença a vitória de candidato A, B ou C rumo ao cargo de presidente da República, governador, senador e deputado. Numa enquete realizada por nossa equipe esta semana, no centro da cidade, boa parte das pessoas abordadas errou o nome dos candidatos majoritários e dos proporcionais. Para alguns, o nome dos presidenciáveis está gravado na memória, mas com partido errado e a pessoa nem sempre associa o nome à figura do candidato. A atrapalhação é ainda maior quando se pergunta o número do candidato. Interesse O servente de pedreiro José Juarez dos Santos, por exemplo, disse que não tem emprego fixo e sobrevive de bico nas obras, sobrando pouco tempo para se interessar por política. Para mim é tudo farinha do mesmo saco. Todo mundo diz que é bom, que vai melhorar a vida dos pobres. Entra ano sai ano e nada muda, só para pior. Não quero saber de político. Só voto em que pagar e olhe lá. Ainda vou ter que decorar o nome do sujeito. Se o candidato não fizer algo por mim antes do voto, depois é que não vai mesmo fazer nada, afirmou. Exclusão Em Alagoas apenas 29.007 eleitores têm curso superior completo e 17.238 possuem nível superior incompleto, de acordo com o TRE. Entre os alfabetizados, 485.144 apenas sabem ler e escrever: 447.508 têm o Ensino Fundamental incompleto; 139.048 têm o Ensino Médio incompleto; 108.354 têm o Ensino Médio completo; 71.312 concluíram o Ensino Fundamental. Num reduto eleitoral com essas características: alto índice de exclusão e baixa escolaridade, é comum haver apatia política como diz o sociólogo Sávio de Almeida, observando que onde falta tudo não há motivação em nenhum aspecto da vida. Ele afirma discordar do velho ditado de que cada povo tem o governo que merece. No processo de construção do poder, uma série de variáveis faz interferência; a relação não pode ser tomada de modo tão direto; eu tenho muito medo das generalizações. É claro que alguns dirão isso, mas não sei quanto. Se essa frase fosse na realidade o comportamento comum e continuado, não se veria mudanças na qualidade do voto conforme tem acontecido, sustentou. Já a escritora Leda Almeida, autora do livro O Impeachment de Suruagy, o povo tem apatia pela informação e pela política porque essas questões são tratadas de modo descolado de sua realidade ou da realidade que desejam. Após um dia de trabalho quase sempre estressante, as pessoas ligam a TV não para assistir a cenas de violência ou discursos de políticos cuja prática está longe de legitimá-los. Penso que seria desinteressante. Por outro lado o futebol e as novelas, ainda que de péssima qualidade, têm sido mais atraentes, analisa. Jovens No perfil do eleitorado alagoano consta, também, que 40.698 têm abaixo de 18 anos de idade. Mas na enquete que realizamos nas ruas, nem os mais jovens revelaram domínio de conhecimento sobre os candidatos. A estudante Maria Verônica de Souza, 18, que trabalha como babá durante o dia e estuda supletivo à noite, identificou o nome dos candidatos, olhando as fotografias, entretanto, desconhece quem concorre a quê e enfatizou que vai votar em quem fizer algo por ela. Não interessa saber a vida do candidato porque isso não muda minha vida. Todos são ruins. Posso dar um voto em quem me ajudar. Cada um pensa só em si mesmo. Infelizmente a gente é obrigado a votar. Já os idosos acima de 69 anos somam 80.273. Predomina eleitor entre 25 a 34 anos (são 428.566); entre 18 a 24 são 345.086. Entre 35 e 44 anos são 311.877 eleitores e de 45 a 59 anos são 294.823. Já entre 60 a 69 anos Alagoas tem 98.769 eleitores e acima de 69 são 80.273.