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Pesquisa abre as portas de Alagoas para o trigo

Com alta produtividade e grãos de boa qualidade, testes iniciais demonstram potencial do Estado para o plantio, que foi melhorado pela Embrapa para se adaptar ao clima quente do Nordeste

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A vocação de Alagoas para o cultivo de grãos se mostra mais forte a cada safra. Neste sentido, diante do sucesso dos cultivares de feijão, algodão, sorgo e soja, a Embrapa Tabuleiro Costeiros fomenta uma série de pesquisas para ampliar ainda mais a área plantada por estas culturas no Estado. Um dos experimentos que demonstrou resultados positivos foi o trigo com testes realizados com o material BRS 404.

Cultivo na área de experimentos do Grupo Santana, maior produtor de grãos de Alagoas, localizada no município de Anadia, o material também foi batizado de ‘trigo tropicalizado’ pela tolerância aos climas mais quentes e diferente dos cultivos de outras regiões do país, a exemplo do Estado do Rio Grande do Sul.

“Desenvolvido pela Embrapa, ele é mais resistente ao déficit hídrico já sendo cultivado em quase toda a área de cultivo do Estado de Goiás e do Distrito Federal. Para se expandir a fronteira agrícola do trigo, que é um material de clima frio, foi preciso melhorá-los geneticamente para que ele pudesse se adaptar as condições climáticas da região, a exemplo do que foi desenvolvido com a soja. Vale destacar que ainda não temos um material específico para o Nordeste, mas ter experimentado este material que teve um bom desenvolvimento, abre portas para novas pesquisas para a região”, declarou a pesquisadora da Embrapa, Lizz de Moraes.

Trigo se torna uma nova aposta para o cultivo de grãos em Alagoas
Trigo se torna uma nova aposta para o cultivo de grãos em Alagoas | Foto: Divulgação

De acordo com ela, como Alagoas mudou o perfil agrícola, favorecendo a produção de grãos, foi realizado um estudo exploratório do trigo no Estado. “Buscamos essa possibilidade de variabilidade de espécies. Testamos e tivemos um bom desempenho agronômico e uma alta produtividade, semelhante a que é obtida em Goiás. O material se desenvolveu muito bem com uma espiga muito bem formada, boa formação de grãos e alta produtividade competitiva no mercado. Por isso, vamos dar continuidade a pesquisa”, reforçou.

A cultivar de trigo BRS 404 foi registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com região de adaptação no DF, GO e MG. Possui folha bandeira ereta, aurículas (folha) coloridas, espiga oblonga e aristada de cor clara. A forma do ombro da gluma é inclinada e dente da gluma longo. A forma do grão é alongada (entre ovalado e alongado), de cor vermelha. A planta é alta 77 cm e conta com colmo largo (entre largo e quadrado).

Segundo a pesquisadora, diante dos resultados, foi contatado que o plantio de trigo em Alagoas é uma aposta viável. “Os primeiros testes foram em áreas de experimentos pequenas. Mas, nos próximos, vamos trabalhar de forma mais amplas com sistema de produção diversificado, além de diferentes épocas. A gente pega a janela de Alagoas, que ocorre no nosso inverno que é chuvoso e quando a gente planta os grãos, no período de abril até setembro. No próximo ano, teremos novos desafios. Vamos ver até onde este trigo se comporta de forma mais adequada e em que regiões ele terá uma melhor qualidade de grãos para que a gente possa fazer futuramente a recomendação de um material com valor agregado e com alta produtividade, ofertando mais uma opção de cultivo para Alagoas”, ressaltou.

O trigo, que conta com um período de 90 a 100 dias para o plantio até a colheita, na área de testes de Alagoas, rendeu mais de quatro toneladas por hectare plantado. “Agora, vamos ver analises do grão para a qualidade de farinha ainda será realizada. Serão necessários, no mínimo, mais dois ou três anos de trabalho de pesquisa. Estamos no caminho certo com um cenário promissor e as portas estão abertas para o desenvolvimento das pesquisas”, afirmou Lizz Moraes, lembrando que o Brasil importa 50% de todo o trigo que o país consome.

“Com mais lugares produzindo este grão, menos a gente se torna dependentes de mercados como o da Argentina, Uruguai e do Canadá, por exemplo. Se a gente consegue uma alta produtividade com um trigo de boa qualidade, a gente está viabilizando a economia do Estado e do país, beneficiando também a indústria que se livra das taxas de importação desse material”, reforçou a pesquisadora da Embrapa.

Pesquisadora Lizz Moraes destaca resultados positivos obtidos em áreas de teste de Alagoas
Pesquisadora Lizz Moraes destaca resultados positivos obtidos em áreas de teste de Alagoas | Foto: Divulgação
BRS 404, plantada em Goiás e no DF, teve alta produtividade em solo alagoano
BRS 404, plantada em Goiás e no DF, teve alta produtividade em solo alagoano | Foto: Divulgação

Trigo: Brasil pode ser um dos maiores produtores mundiais

O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, acredita que o Brasil pode alcançar o posto dos líderes mundiais na produção de trigo.

Ele acredita que nenhum país entre os trópicos tem a competência brasileira na produção de alimentos, fibra e bioenergia em termos de tecnologia. “A cultura tem muito espaço para crescimento no país”, falou.

Moretti destaca que só o Brasil produz trigo tropical. Apesar de serem áreas pouco representativas, as produtividades são consideradas muito boas. “O Ceará planta trigo irrigado bem próximo da linha do Equador. E lavouras nos arredores de Brasília já colhem cerca de 8 toneladas por hectare”, o dirigente destaca que é preciso quebrar barreiras técnicas e burocráticas para crescer ainda mais.

“Há questões comerciais que precisam ser tratadas, mas essa não é nossa seara. Nós da Embrapa desenvolvemos soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro”, disse.

Durante o 26º Congresso Internacional da Indústria do trigo, realizado pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em Campinas, São Paulo, Moretti falou sobre o orçamento da Embrapa que, hoje, depende em grande parte do governo federal. Ele observou, porém, que a empresa busca captação de recursos junto ao setor privado.

Nesse sentido, ele considera importante a aprovação no Senado Federal de um projeto que inclui, entre os recursos da Embrapa, os oriundos da exploração comercial de tecnologias, produtos e serviços desenvolvidos pela empresa. A medida fomenta a pesquisa e favorece um incremento na concorrência no setor.

“Ainda que já viéssemos buscando recursos junto ao setor privado, esses royalties permitirão uma maior robustez da estrutura da Embrapa”, comemorou.

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