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Falta de chuva ameaça canavial

Sem receber a quantidade necessária de água, cana começa a perder qualidade ainda no campo; expectativa de crescimento da safra 19/20 começa a ser revista para 17 ou até 15 milhões de toneladas

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Canaviais são penalizados pela falta de chuva e que reduz produtividade da planta
Canaviais são penalizados pela falta de chuva e que reduz produtividade da planta | Foto: Divulgação

O otimismo de fornecedores de cana e usinas de que a safra 19/20 seria mais uma moagem que consolidaria a retomada do crescimento do setor sucroenergético em Alagoas, começa a dar lugar a um sentimento de preocupação. O principal motivo para o sinal de alerta ter sido ligado está na escassez de chuvas na região canavieira do Estado.

Diante de uma estiagem que vem perdurando praticamente desde o quarto trimestre do ano passado e que vem maltratando a cana no campo, com a planta perdendo qualidade, a expectativa de inicial de beneficiar neste ciclo mais de 18 milhões de toneladas de cana, passa a ser revista para algo em torno de 17 ou até 15 milhões de toneladas.

“Em dezembro havia um tempo já de estiagem. Mas, não era nada que nos preocupasse tanto assim. As chuvas estavam ocorrendo de forma regular e a gente acreditava que ela iria continuar. Mas, para a nossa surpresa, que não foi muito boa, a chuva parou”, afirmou o presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Estado de Alagoas – Asplana, Edgar Filho.

Segundo o dirigente, há registros de municípios, principalmente na região sul do Estado, onde há mais de 50 dias que não há ocorrência de chuvas. “Fomos informados que há previsão de chuva, mas se ela não ocorrer teremos um comprometimento muito grande e talvez não vamos conseguir fazer as mais de 18 milhões de toneladas de cana que estavam sendo esperadas. A cana de último corte, que a gente espera dar um aumento na produtividade, ela está secando por falta de água, evitando que a planta crescesse de forma suficiente. O que tinha para ser perdido, já foi”, alertou.

Diante de um quadro de seca, o presidente da Asplana também afirmou que o quadro atual prejudica não apenas a safra em andamento como também terá reflexos já no próximo ciclo da cana em Alagoas. “Sem chuva, a socaria não está rebrotando e a cana pronta do inverno passado que esta secando. Isso prejudica muito e se tivermos mais 20 ou 30 dias sem chuvas, haverá sim um comprometimento alto para o próximo ciclo da cana em Alagoas”, reforçou Edgar.

Apesar do cenário, o presidente da Asplana afirmou que o setor está em processo de recuperação e que ainda deve ter uma moagem acima da ocorrida no ciclo 18/19. “Se este quadro persistir ainda assim não será uma safra ruim. Estamos em processo de recuperação. Na última moagem foram processadas 16 milhões de toneladas de cana e nesta deveremos superar esta marca. Também estamos tendo uma retomada de preços. A Índia teve seca na região mais produtora de cana com a produção recuando em até 20% e isso vai ter reflexo para nós. Com isso, a nossa expectativa é que o fornecedor e nem o industrial percam o otimismo de continuar plantando por questões climáticas”, afirmou Edgar, lembrando que nesta safra 100% das usinas pagaram os fornecedores de cana, não havendo atrasos. “As usinas estão mais enxutas e equilibradas. O setor está mais viável e sólido”, destacou.

Edgar Filho aposta que mesmo com estiagem safra 19/20 será de crescimento
Edgar Filho aposta que mesmo com estiagem safra 19/20 será de crescimento | Foto: Divulgação
Pedro Robério declarou que usinas observam com atenção o andamento do clima
Pedro Robério declarou que usinas observam com atenção o andamento do clima | Foto: Divulgação
Henrique Acioly e Ricardo Paiva, da Copervales, afirmam que safra pode ter redução de até 15% nesta safra
Henrique Acioly e Ricardo Paiva, da Copervales, afirmam que safra pode ter redução de até 15% nesta safra | Foto: Divulgação

Usinas

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas (Sindaçúcar-AL), Pedro Robério Nogueira, a parada abrupta de chuvas de verão a partir de novembro passado e a ausência de pluviosidade até o momento estão deixando, por hora, as usinas em alerta.

Segundo o dirigente do setor, existem indicações de precipitações, não confirmadas, de chuvas no final de janeiro e no mês de fevereiro, que se ocorrem poderão regularizar a situação, caso o volume seja suficiente para reverter o quadro.

“A coleta de expectativas colhidas nesta quinzena e sob o efeito da ausência de chuvas nos remete uma estimativa um pouco acima dos 17 milhões de toneladas. Contudo, estamos constatando um rendimento industrial acima da safra passada”, afirmou Nogueira.

Safra

Apesar da estiagem, a safra de cana em Alagoas segue a pleno vapor. Dados do Sindaçúcar-AL, divulgados no último boletim quinzenal (nº 08), informam que foram processadas - até o dia 31 de dezembro - mais de 11,6 milhões de toneladas de cana.

Uruba

De acordo com Henrique Acioly, fornecedor de cana e um dos integrantes da Copervales , que arrendou a usina Uruba, localizada no município de Atalaia, a redução das chuvas já prejudicou a produtividade da safra 19/20 e também do próximo ciclo.

“O comprometimento com a nova safra 20/21 pode chegar até 20% da moagem e no ciclo atual de 15%. Mas, a gente tem que continuar trabalhando. O índice de pluviosidades, nos meses de setembro e outubro, que são meses que definem safra, foi muito abaixo”, afirmou Acioly.

Segundo ele, a usina está investindo no melhoramento e ampliação da linha elétrica para que possam ser feitas ramificações, disponibilizando energia para os cooperados para que eles possam irrigar no período de seca.

“A gente acredita e espera por dias melhores. Temos aqui nessa região um solo que retém mais a umidade e contamos, por ano, com um índice médio pluviométrico de 1.800 milímetros/ ano. Mesmo com estes números, com essa estiagem, o canavial sentiu. A cana, que está sendo moída desde dezembro passado, está muita seca, perdendo peso. A cana que foi colhida em setembro teve uma boa brotação, mas agora a planta está sentindo a falta da chuva. Mas, se a chuva chegar nos próximos dias, a planta consegue reagir. Contudo, com a produtividade comprometida”, afirmou o fornecedor.

Henrique esclareceu ainda que em uma área que teve produtividade de 93 toneladas por hectare, se a chuva tivesse ocorrido na quantidade e tempo certos, a produtividade no próximo ciclo seria de 85 toneladas por hectare. “Mas, com essa escassez, deve cair para 75 toneladas por hectare se não tiver chuva logo. Com o estresse hídrico, a gente perde tanto no peso da cana, quanto na socaria”, disse.

Segundo ele, para evitar perdas maiores, estão sendo irrigadas áreas onde a cana foi colhida a partir de dezembro e em áreas de plantio de inverno onde a planta estava sentindo a falta de chuva. Sem água, ela não brota. Estamos promovendo uma irrigando de salvação para não perder a cana. Se não houver irrigação, as perdas podem chegar até 40%. O custo para renovar uma área de plantio de cana é altíssimo e pode chegar a R$ 6 mil por hectare”, ressaltou, acrescentando que, na irrigação, por hectare, o custo médio de uma lamina chega até a R$ 400.

Henrique afirmou ainda que a Uruba está trabalhando um projetos para a construção de barragens para que em épocas de seca, o fornecedor tenha uma opção a mais para irrigar o canavial com a energia da própria usina.

Para Ricardo Paiva, gerente geral da Copervales, a seca vem castigando a região da Zona da Mata. “A média de chuva de safra é de 300 mm. Este ano, de setembro a janeiro temos acumulados apenas 100 mm. O menor das ultimas três safras, gerando uma redução de produção neste ciclo. A expectativa da usina esperada para esta safra era de 950 mil toneladas e agora está sendo revista para 850 mil e o motivo foi a chuva de verão. No Estado, a safra deve ser de 15 milhões. Até novembro, a moagem transcorreu bem. A cana agora está muito seca mesmo. Como a safra esta encerrando nos próximos 15 dias, nossa preocupação agora é fazer a socaria do próximo ano, irrigando o plantio e a socaria”, destacou ele.

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