Rural
Pimenta alagoana conquista o mundo
Em maio, em uma ação conjunta entre a CAPA e a Righetti Agrícola, 26 toneladas da pimenta do reino, tipo ASTA, saíram de Alagoas com destino ao continente europeu, mais precisamente para a Espanha

Quando se fala em exportação do agronegócio alagoano para o mundo, o açúcar VHP é o primeiro produto que servem a mente. Contudo, outro produto começa a também disputar um espaço neste cenário de transações comerciais com outros países, a Pimenta do Reino Preta.
O produto, que é uma das especiarias mais antigas e valiosas há séculos, é considerada a rainha das especiarias e chegou a ser conhecido como o “Ouro Negro”.
Este ano, em uma ação conjunta entre o Grupo CAPA de Arapiraca e a Righetti Agrícola, localizada no município de União dos Palmares, 26 toneladas da pimenta, tipo ASTA, saíram de Alagoas com destino ao continente europeu, mais precisamente para a Espanha.
“O padrão ASTA é o melhor que existe. Foi uma exportação indireta por meio de um grande exportador brasileiro com sedes em São Paulo, Pará e Espírito Santo. A pimenta foi embarcada via Porto de Suape, no início de maio. A carga de 590 g/litro foi composta por 15 toneladas da Capa e 11 toneladas da Righetti Agrícola”, informou o produtor Aluysio Righetti, lembrando que a Capa e a Righetti participam desde 2018 de cursos e treinamentos para a exportação com o CIN da Casa da Indústria e com o Sebrae-AL.
“Neste caso, a empresa nos propôs uma compra para exportar para o Marrocos. Porém, quando viu a qualidade da pimenta decidiu mudar o destino para a Espanha. Já tínhamos até etiquetado a sacaria com o destino do Marrocos e tivemos que refazer tudo. A logística foi bem simples, apenas entregar no Porto de Suape. As condições eram sacaria nova, lisa, com 25 kg e etiquetadas”, reforçou Righetti.
Segundo ele, como a safra alagoana ocorre no meado do segundo semestre há previsão de novas exportações a partir do final desse ano e início de 2021. “E por causa das etiquetas já temos até alguns nomes e contatos dos compradores finais. Nesse momento, a maioria dos produtores de Alagoas já vendeu sua produção e praticamente já não há pimenta suficiente para novos embarques. Quem não vendeu deve segurar, pois há expectativa de melhora dos preços. Saliente-se que a produção nacional de pimenta do reino é muito superior à demanda, sendo a exportação um caminho necessário e lógico”, destacou.
O produtor afirmou ainda que a pandemia da covid-19 acabou influenciando na logística. De acordo com ele, por se tratar de um produto que vinha com preços baixos há quatro ou cinco anos, os grandes importadores do mundo não se preocupavam em manter estoques. Com a parada mundial dos portos devido à pandemia, surgiu a necessidade desses importadores de reposição. Diante deste cenário e para a surpresa de todos, se constatou que o estoque mundial não era tão grande como se pensava.
Com isso, mesmo com o dólar batendo recordes, a pimenta não subia de preço. Porém, em apenas um mês, a situação está se invertendo com os preços aumentando rapidamente.
“Além do mais, a China está comprando o que pode. Assim ficou famoso o dia 29/05/20, quando o preço da pimenta do reino subiu 50% em um único dia no Vietnam, que é o maior produtor mundial. Em seguida, vieram grandes aumentos de preço na Índia, Malásia, Indonésia e agora no Brasil”, destacou Righetti.

Produção
Atualmente, o Brasil exporta 70% da pimenta do reino que produz. O preço nacional é atrelado ao preço mundial. O país é o segundo maior produtor de pimenta do mundo e o terceiro maior exportador, sendo o Vietnam o primeiro produtor e exportador e a Alemanha, que não planta um pé de pimenta, o segundo exportador, comprando e vendendo.
Em Alagoas, ocorre o mesmo em escala nacional. Como os grandes produtores são o Pará e o Espírito Santo, acompanhasse os preços desses Estados, apesar da produtividade local ser menor que a deles, o que torna o custo de produção em Alagoas maior.
Em solo alagoano, a produção de pimenta do reino tem um maior desenvolvimento no litoral norte do Estado, se estendendo também para Atalaia, Arapiraca, Anadia, Marechal Deodoro, Tanque D’arca, Viçosa e União dos Palmares. Por safra, que ocorre uma vez ao ano, há estimativas de que sejam produzidas até 450 toneladas do produto.
Parte da produção local é vendida às indústrias e Ceasas de outros Estados, a exemplo de Sergipe, Pernambuco, Paraíba e até São Paulo.
O Estado conta ainda com produtores de mudas de pimenta do reino, o que facilita a vida de quem quer iniciar um negócio em uma escala menor.

Preço
Como todo e qualquer produto agrícola, quanto maior a oferta, menor o preço, a pimenta não seria diferente. O preço médio histórico é de US$ 4,00 a US$ 5,00/kg. Entre 2002 a 2010 houve uma super oferta do produto no mundo, deixando o preço em torno de US$ 1,50/kg. Com isso, muitos produtores abandonaram a cultura, gerando menor oferta. Já no período de 2011 a 2016 os preços reagiram, chegando a atingir US$ 11,00/kg em 2015 e 2016.
“Como era de se esperar, o mundo todo voltou a plantar pimenta. Como ela demora de dois a três anos para iniciar a produção, a partir de 2017 a produção duplicou e os preços voltaram a cair, chegando em março desse ano de novo aos US$ 1,50/kg. Entendo que os preços chegaram ao fundo do poço e devem voltar a reagir. Essa reação foi acelerada pela pandemia, que por um motivo ou outro, gerou boa demanda para o produto. Esperamos melhores preços para as próximas safras”, salientou Righetti.

Mercado
Para o produtor, uma das metas para quem produz pimenta no Nordeste deve ser a exportação, pois o consumo brasileiro é muito menor que a demanda e os grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais são abastecidos pelo Espírito Santo, que produz 45% da pimenta no Brasil.
Para muitos produtores menores, que não conseguem exportar, a exportação feita pelos médios e maiores produtores é uma saída já que enxuga o mercado local do produto, abrindo caminho para vendas a pequenas indústrias, Ceasas e feirantes.
No Brasil, os segmentos que mais consomem a pimenta são as indústrias de temperos e embutidos, assim como os grandes cerealistas de São Paulo, que repassam para restaurantes, supermercados.

Chuvas
Em Alagoas, a época das chuvas é também, a época do plantio e de enchimento dos cachos, principalmente, no litoral norte. Infelizmente, devido aos baixos preços dos últimos anos, não houve estímulo para os produtores manterem todos os tratos culturais dos pimentais. Com isso, apesar da melhora do mercado, está sendo estimada uma safra inferior em comparação ao ano passado.
“Aliás, no mundo todo. A pimenta é uma planta que gosta de água, mas não de encharcamento, não sendo interessante grandes volumes de chuva em pouco tempo, como aconteceu na última semana. Mas, acho que o fundo do poço já aconteceu e iniciaremos na safra 20/21 uma recuperação dos preços”, finalizou o produtor.