Rural
Programa do Leite é suspenso em AL
Secretaria de Agricultura informou que Programa do Leite deve ser retomado ainda neste mês de julho; apesar da crise, setor leiteiro alagoano está com mercado aquecido, o que elevou o preço do litro de leite pago ao produtor. Há quase seis meses governo está em débito com os mais de três mil agricultores pelo leite fornecido ao programa e que atende mais de 80 mil famílias carentes de Alagoas

Ao longo de 18 anos, desde quando foi criado em 2002, o programa do leite enfrentou várias crises. Mas em nenhuma delas houve registro de uma parada tão longa.
Sob a justificativa de que é necessário promover uma reformulação, a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura - Seagri suspendeu as entregas do programa de leite.
Cerca de 80 mil beneficiários estão sem receber os quatro litros que tem direito semanalmente, cada um, desde a segunda quinzena de junho.
A Seagri-AL tem explicado que a parada foi necessária para ajustes no programa. E a promessa é que as entregas devem ser retomadas ainda este mês.
Para retomar o programa nos moldes em que ele funcionava, com o leite sendo fornecido por agricultores familiares organizados em cooperativas, será preciso superar alguns entraves.
Um deles é a regularização dos pagamentos aos produtores, que está com quase seis meses de atraso. Desde a segunda quinzena de janeiro deste ano, os agricultores estão sem receber a contrapartida pelo leite que foi entregue desde janeiro deste ano.
Outro problema a ser superado é o preço do leite. No momento, o mercado de lácteos está em alta. No mercado privado, o produtor está recebendo R$ 1,40, no mínimo, pelo litro de leite, enquanto o valor do programa é de R$ 1,28.

Prazos
O secretário de Agricultura de Alagoas, João Lessa, informou que espera regularizar pagamento aos agricultores do programa até o final da próxima semana, mais precisamente, até a próxima sexta-feira dia 24.
De acordo com o secretário, o conselho do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep), que garantirá recursos destinados a contrapartida para a manutenção do Programa do Leite em Alagoas, deve se reunir na próxima quarta-feira, dia 22.
Na reunião do Fecoep, devem ser aprovados os recursos para o pagamento dos valores atrasados, que somam mais de R$ 10 milhões e mais os recursos de contrapartida para a execução do convênio do PAA Leite, entre julho de 2020 e março de 2021. A contrapartida é de pouco mais de R$ 5 milhões.
“O Programa do Leite é mantido em convênio com o Ministério da Cidadania. Nós conseguimos um aditivo, com a ajuda da bancada federal, de quase R$ 20 milhões para execução do PAA Leite entre julho deste ano e março do próximo. Para isso, o governo do Estado se comprometeu a dar uma contrapartida e pagar todo o atrasado, o que soma cerca de R$ 16 milhões”, declarou João Lessa.
Novo sistema
Apesar do atraso no pagamento e da suspensão da entrega, o secretário João Lessa fez uma live, na sexta-feira (11) para lançar “o novo sistema do Programa do Leite em Alagoas”.
Segundo a assessoria da pasta da Agricultura em Alagoas, “a ferramenta foi desenvolvida com o intuito de diminuir a burocracia, reduzir o excesso de documentos físicos e assegurar que o leite seja entregue com rapidez ao beneficiário”.
De acordo com o secretário, o programa será abastecido por instituições e órgãos públicos que fazem a distribuição do leite para beneficiários e por cooperativas e associações que representam os produtores – em módulos separados.

Mercado
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Alagoas (Sileal), Arthur Vasconcelos, destacou que a situação atual do Programa do Leite ocorre em um momento em que o mercado está aquecido por conta da demanda em alta.
“E isso não foi pelo fato do Programa do Leite ter parado ou não. Se fosse em dias normais, o preço do leite poderia ter caído bastante. Mas, estamos vivendo momentos diferentes. O programa teve esse desajuste e teve essa pausa quando o mercado está aquecido. Contudo, para o programa ser reativado, vai ter que seguir o que está ocorrendo no mercado. O governo não pode voltar com o programa e pagar pelo preço do leite que não condiz mais com a realidade do mercado atual”, destacou.
Preços
De acordo com o presidente do Sileal, houve um aumento do preço do leite por conta da demanda. “É a lei da oferta e da procura que rege o mercado. Então, houve, à princípio, um impacto com o início da pandemia, levando a queda dos preços de leite e dos produtos em meados de março para abril. Mas, em maio, houve uma pequena reação do mercado. Acreditamos que tenha sido pelo aquecimento da demanda com a baixa oferta”, declarou.
Segundo o dirigente do setor em Alagoas, o aquecimento também pode ter sido provocado pelas ações do governo federal com a injeção de recursos na economia. “Isso fez com que as pessoas comprassem de imediato derivados de consumo e os do leite estão entre eles. A mudança de hábitos nas famílias, devido a quarentena, também aumentou o consumo. Todos estes fatores reunidos, fizeram com que houvesse esse aumento na procura. Como a oferta havia sido desestimulada, assim como o produtor e a indústria, os estoques estavam em baixa e não tinha produto para atender essa demanda imediata”, reforçou.
Vasconcelos afirmou ainda que a alta do dólar, que favorece a exportação, levou o mercado nacional de lácteo a exportar. “Isso influencia no nosso mercado já que começam a chegar menos produtos vindos do sul do país. Todos estes fatores, que levaram uma falta de produtos, somado a demanda alta, fizeram os preços do leite e derivados subirem”, reforçou ele, lembrando que o mussarela foi um dos produtos com maior aumento de preço.
O presidente da Sileal afirmou também que há preocupação do setor de uma futura queda de preços dos produtos e do leite, caso os incentivos do por parte do governo federal sejam encerrados. “Com isso, vai ser importante trabalhar uma política de proteção para que a gente consiga manter esses preços”, destacou.



Produtores
O presidente da Associação do Criadores de Alagoas (ACA), Domício Silva, destacou que a reação do mercado com o aumento de preço não é exclusiva de Alagoas e vem ocorrendo em todo o país. “Houve um aumento de consumo de lácteos e a diminuição da produção nas regiões Sudeste e Sul. Com isso, houve diminuição da oferta e houve um aumento do preço do leite pago ao produtor como reação nos últimos dias”, afirmou.
Domício lembra que não houve excesso de leite em Alagoas por conta da suspensão do programa do leite. “O leite que vem do programa tem pouca interferência no volume do Estado. O programa – como vem sendo conduzido hoje – não tem ajudado aos pequenos produtores, seja por questões de atraso e pelo preço defasado pago ao produtor. Mas o volume é muito pequeno e não interfere no mercado”, esclareceu.
Segundo o presidente da ACA, o setor passa por um momento de aquecimento do mercado com uma procura maior que a demanda. “Houve uma reação no mercado por conta da falta de leite e derivados, principalmente no queijo. Isso também interfere no preço pago ao produtor. Os laticínios alagoanos têm procurado mais do que eles têm recebido de leite”, reforçou.
Domício destacou ainda que Alagoas é um estado exportador de leite. “Existe uma parte do leite produzido aqui que segue para Pernambuco ‘in natura’. Também tem ido para Sergipe. É um bom momento que os produtores alagoanos estão vivendo atualmente. Mas, ele ainda está abaixo do que acontece na região Sudeste onde o mercado está ainda mais aquecido”, reforçou.
Insumos
O presidente da Associação dos Criadores reforçou ainda que o setor leiteiro também teve um aumento significativo de preço dos insumos. “Isso acabou puxando a cadeia produtiva como um todo por questões do aumento do dólar e de importação de insumos principalmente do farelo de soja e de milho. Esse movimento a nível de Brasil e do mundo, elevou o preço da matéria-prima principalmente aqui no Nordeste. Houve um aumento superior a 20% no preço da soja e do milho. Isso também interfere no preço final do produto”, finalizou.