Mobilização recupera quase 900 nascentes em AL
Pecuaristas que participam do Programa Mais Pasto aprendem a proteger nascentes. O processo envolve etapas, a exemplo da identificação da nascente até ao reflorestamento do perímetro onde foi encontrado o olho d’água
Por Editoria do Gazeta Rural | Edição do dia 14/11/2020 - Matéria atualizada em 14/11/2020 às 04h00
As nascentes são fontes de vida para o campo e a cidade, cumprem um importante papel ambiental, mas necessitam de cuidados especiais para continuar oferecendo água de qualidade. Em Alagoas, o Mais Pasto, programa de consultoria para pecuaristas promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, em parceria com o Sebrae, contribui significativamente para essa preservação. Hoje, 875 nascentes estão protegidas em propriedades atendidas pelo Senar AL.
“Iniciamos esse trabalho em 2017, quando participamos do Programa Especial Proteção de Nascentes da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Naquele ano, conseguimos proteger 150 nascentes no período do projeto, com os nossos técnicos de campo do Mais Pasto trabalhando na identificação e na orientação das medidas protetivas nas propriedades”, relembra a engenheira agrônoma Luana Torres, coordenadora de Assistência Técnica e Gerencial do Senar Alagoas.
Passos
Pecuaristas que participam do Programa Mais Pasto aprendem a proteger nascentes em apenas um dia de orientações. O processo envolve cinco etapas, que começam com a identificação da nascente. “Para proteger, você precisa conhecê-la, saber se é uma nascente de fundo de vale, de encosta ou de contato, que também nasce do lençol freático”, explica Luana.
O segundo passo é cercar a nascente. “A cerca vai impedir danos que podem ser causados por animais que pisoteiam ao redor, por trabalhadores ou veículos. Depois disso, vem a terceira etapa, que é a limpeza da área para que nada bloqueie o caminho da água e a nascente permaneça saudável. É necessário deixar a nascente livre de folhas, raízes, plantas invasoras ou daninhas e de terra que desliza, para que não acabe provocando lama. Deve ser feito um roçado, desde que não prejudique a fonte de água”, orienta a coordenadora de ATeG do Senar Alagoas.
O quarto passo é controlar a erosão. “É fundamental fazer a conservação do solo para evitar a erosão hídrica, impedir que as enxurradas soterrem a nascente e que esse solo fique compactado, pois isso impossibilita a infiltração de água. Há várias formas de combate à erosão, como melhorar a fertilidade do solo por meio de adubação ou uso do calcário, adotar plantio no contorno e terraceamento, e proteger o solo com a própria vegetação da área”, diz Luana Torres.
A quinta e última etapa para a conservação de nascentes é replantar espécies nativas, preparar o terreno, adubar, fazer as covas onde serão plantadas essas espécies. “Isso garante o sucesso da recuperação da área da nascente. A melhor técnica é imitar a natureza, reproduzir a vegetação original daquele lugar”, observa a engenheira agrônoma.
Entusiasmado com o sucesso do programa, o presidente da Federação da Agricultura de Alagoas, Álvaro Almeida, que na última década já investia na recuperação de nascentes, plantou mais de 16 mil mudas de árvores e recuperou mais de 40 olhos d’água situados em sua propriedade rural.
“Mas só este ano já plantamos mais duas mil mudas de árvores nativas da região. Ao lado de cada nascente, são plantadas 500 mudas. A meta é finalizar o ano com o plantio de 2.500 árvores”, frisou.
De acordo com Almeida, cuja propriedade está localizada no município de Mar Vermelho, na zona da mata alagoana, as nascentes estavam desaparecendo da região. “Em 2012, por exemplo, eu tive falta de água aqui na fazenda. Com as capacitações do programa Mais Pasto conseguimos fazer a recuperação de várias nascentes. O foco é chegar ao reflorestamento de 50 mil árvores que irão proporcionar a recuperação de 50 nascentes. Os resultados que já conquistamos são visíveis, onde não existia mais água, agora temos em abundância. Com ela, podemos fazer tudo, mas sem a água não pode fazer nada”, reforçou.
Segundo ele, outra vantagem com a recuperação de trechos de mata, em uma propriedade destinada a pratica da pecuária, além da recuperação dos olhos d’água, está no sombreamento ofertado aos animais criados a campo. “Com o sol forte, os animais procuram as árvores para se proteger. Além de ajudar na saúde do rebanho, também contribui para auxiliar no ganho de peso de animais criados para corte”, reforçou Almeida, destacando a importância do produtor rural estar sempre se atualizando para produzir mais em menor espaço, visando o lucro.
Resultados
Segundo o trabalhador rural Milton Torres, que faz uso da água proveniente de uma das nascentes recuperadas, anteriormente, a água que minava no solo não era suficiente para atender o consumo dos animais. “Mas, após esse trabalho de recuperação, ela atende o consumo do rebanho, além de ter uma cacimba para o consumo dos moradores da propriedade, chegando também a outras áreas, onde é usada por mais pessoas. Com o reflorestamento, a oferta de águas na nascente chega a quase 80%. Estamos em uma região que tem uma oferta boa de água e em 2012 chegamos a ficar sem ela”, declarou.
De acordo com ele, após todo esse processo de recuperação de nascentes e de mata, houve um aumento da quantidade de animais por área, gerando um ganho maior para a propriedade. “Antes tinham áreas onde era criado o gado que não tinha águas no verão. Hoje, a situação é diferente. A oferta de água se mantem durante todo o ano”, destacou Torres.
Curso
Para ampliar ainda mais essa ação em defesa das nascentes, o Senar Alagoas realizou um curso de Conservação e Recuperação de Nascentes. Voltado para profissionais de extensão rural, estudantes universitários, ambientalistas, veterinários e agrônomos, o curso foi ministrado pelo técnico da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas – Semarh –, Adolfo Barbosa.
O objetivo do curso foi o de capacitar e habilitar os participantes no uso de técnicas conservação e recuperação de nascente, utilizando opções de baixo custo e fácil implantação, bem como difundir boas práticas na produção de água para uma convivência sustentável.
Com carga horária de 16 horas, o curso abordou temas como formação de nascentes quanto a origem e ao regime de fluxo; o que plantar; e como fazer pluviômetro caseiro. Teórico e prático, se dividiu em atividades em sala de aula e um dia de visita técnica a nascentes recuperadas em propriedades rurais do município de Cajueiro.