Rural
Produção de coco gera renda para agricultores
Replantio de coqueiral gera renda para agricultores inclusos na política de carbonização. Coopaíba aposta na reestruturação do setor para aumentar os índices de produtividade através da renovação do coqueiral, melhoramento genético e medidas sustentáveis para o produtor e indústria


O cultivo do coco no Brasil vem sendo significativamente modificado nas últimas décadas, saltando do extrativismo para uma produção de destaque na agricultura familiar. Produtos e subprodutos convencionais são explorados no mercado, mas o fruto tem se mostrado versátil, fornecendo também matéria-prima para a geração de biocombustíveis e recursos para a matriz energética do país.
A exploração fora do modelo convencional tem ampliado o horizonte de agricultores familiares e ajudado a gerar mais renda com a cultura de coco. A participação da Cooperativa dos Agricultores Familiares e dos Empreendimentos Solidários (Coopaiba) - com o fornecimento de 64 mil toneladas de óleo de coco bruto para empresas de biodiesel habilitadas no Selo Biocombustível Social - vem inspirando a cadeia produtiva a trilhar novos caminhos.
Após sua inserção no programa, a cooperativa ajudou na recuperação de 400 hectares fragilizados pela seca de 2015. O replantio de 68 mil coqueirais nas regiões de Piaçabuçu, Feliz Deserto e Igreja Nova ajudou a reestrutura a atividade.
A iniciativa, segundo o presidente da Coopaíba, Antonino Cardoso, impactou na geração de renda para 1200 produtores e contribuiu para o aumento da capacidade de produção.
“Desde 2015 estamos no processo de verticalização com foco no replantio e na melhoria na capacidade produtiva desses agricultores, fazendo compreender o nosso papel também na política de sequestro de carbono onde o coqueiro ajuda a natureza. Estamos prontos para conectar a nossa atividade à política de descarbonização que o governo acabou de aprovar por meio do RenovaBio”, explicou o presidente da Cooperativa.
Inclusos produtivamente nas atividades da economia criativa com garantia de retorno, muitos produtores abandonaram o extrativismo e passaram a obter renda a partir da produção de coco com a assistência técnica e investimento em mudas com capacidade de maior produção em até três anos.

“A assistência aplicada foi substancial para trabalharmos com mudas mais precoces, híbridas e de alta genética com espécies que antecipam a possibilidade de ganho financeiro em até três anos, o que antes era em até sete anos”, apontou Antonino.
Na atividade, a Coopaíba passou a brigar por competitividade e incentivos fiscais a atividade. Numa nova dinâmica, o setor passou a contar com a política de crédito presumido após um consórcio com a Prococo. “O produtor alagoano passou a ser mais competitivo frente ao produto internacional. Essa retomada foi possível graças a essa política e a implantação da cultura do replantio”, destacou o presidente da cooperativa.
Na prática, um dos resultados de incentivos concedidos permitiu que o preço médio da tonelada em Alagoas atingisse elevação de R$300 nos últimos cinco anos com um acréscimo de R$ 0,30 a indústria. “Isso refletiu direto no bolso do produtor e agregou sobre o produto R$ 0,30 centavos na unidade”, informou Cardoso.
O mais novo desafio do setor, segundo Antonino, está no problema da oferta. Segundo ele, o setor vive um dilema em equilibrar o contexto da oferta em curto prazo. “A ideia é regularizar. Há uma falsa sensação de sobra de dinheiro por ter muita procura e pouca oferta. A Coopaíba entra para ajudar a aumentar os índices de produtividade e na estruturação total do setor, com medidas sustentáveis para o produtor e para a indústria”, frisou o líder da cooperativa.

Selo Biocombustível Social
O secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, Fernando Schwanke, destaca que a oferta de assistência técnica para os agricultores participantes do Selo é fundamental. “Estudos mostram que, após a assistência técnica, a produção dos agricultores aumenta de três a quatro vezes. E, além de atuar como instrumento de desenvolvimento, a iniciativa promove agregação de valor nas cadeias tradicionais. Exemplo disso, são os arranjos de diversificação que já ocorrem com o coco na Região Nordeste”.
O coordenador-geral de extrativismo da SAF, Marco Aurélio Pavarino, explica que o papel do Mapa é organizar as regras para a operacionalização do Selo a partir da matéria-prima adquirida dos pequenos produtores, enquanto as empresas privadas certificadas promovem a profissionalização da cadeia produtiva, garantindo assistência técnica aos agricultores familiares e asseguram o mercado da produção familiar.
“Entramos com uma regulação, interferindo o mínimo possível nesses arranjos que a iniciativa privada tem com a agricultura familiar, mas ampliando a participação do pequeno produtor nessas cadeias produtivas”, destaca Pavarino.

Sustentabilidade
Além da capacitação, geração de trabalho e renda para o agricultor familiar, a iniciativa contribui para a redução de impactos ambientais provocados pela emissão de gases do efeito estufa, pois a combustão de biodiesel gera menos poluentes do que a queima dos chamados “combustíveis fósseis”, como a gasolina e o diesel convencional.
Marco Aurélio Pavarino ressalta que, em 2019, o Brasil produziu/importou um total de quase 54 bilhões de litros de diesel. Deste volume, seis bilhões de litros foram de biodiesel.
“Portanto tivemos uma capacidade de redução de queimar diesel, vamos dizer assim, nos caminhões, e nos carros, de seis bilhões de litros. Isso significa um impacto ambiental muito positivo. São quase 70% a menos de emissões de gases de efeito estufa que a gente tem no biodiesel em relação ao diesel fóssil”, avalia
O coordenador estima que a produção de biodiesel em 2019, com o apoio da iniciativa do Mapa, evitou a emissão de cerca de 11 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente na atmosfera.
Nas projeções de Pavarino, baseadas em dados da União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), se as 40 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes adotassem 20% de biodiesel na frota de ônibus, em um ano, a redução das emissões de gás carbônico seriam equivalentes ao plantio de 3,5 milhões de árvores.