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Nº 5822
Rural

Cultura do algodão retorna ao semiárido alagoano

Meta é ampliar a área cultivada de algodão dos atuais 170 hectares para futuros 50 mil hectares

Por Vinícius Rocha - Especial para o Gazeta Rural | Edição do dia 18/11/2023 - Matéria atualizada em 18/11/2023 às 04h00

Historicamente ligada à região do agreste alagoano, a cultura do algodão promete retornar ao estado por meio de investimentos privados, apoio técnico do governo e o trabalho de agricultores ligados a cooperativas.

Um dos primeiros passos em direção a esse retorno, foi dado em um dia de campo realizado, no município de Craíbas, promovido pela Cooperativa Agro Pecuária e Industrial de Arapiraca, a Capial, em parceria com a Unicafes-AL.

O evento marcou o potencial resgate da cultura do algodão no semiárido alagoano e reuniu agricultores, técnicos, instituições financeiras, representantes das cooperativas e da indústria de tecelagem, que enxergam Alagoas como parceiro para continuar se desenvolvendo. Na ocasião, foram distribuídas pela Capial, duas toneladas de sementes para 180 produtores.

 

Foto: Vinícius Rocha
 

Todos os atores envolvidos encontraram-se na propriedade do agricultor Cláudio Francisco, morador da zona rural de Craíbas há 50 anos. Ele conta que na sua infância e adolescência, costumava-se plantar algodão naquelas terras, mas com o declínio da cultura, somente agora, muitos anos depois, viu brotar na paisagem seca do município agrestino os primeiros ramos do algodoeiro cultivados em um terreno de um hectare. “A proposta veio através da Capial [cooperativa] para nós investirmos no algodão. Já existia quando era mais pequeno, mas foi extinta e a Capial tá trazendo agora essa volta do algodão no município”, relatou.

“Agora, estamos colhendo. Se Deus quiser, vamos ter uma safra muito boa, porque o inverno aqui foi muito bom”, afirmou o agricultor, que acredita que com a assistência promovida pela Capial, consiga colher um produto pesado e com boa qualidade.

As sementes para o primeiro plantio do algodão foram ofertadas pela Capial, em uma parceria com a indústria sergipana de Peixoto Gonçalves.

Presidente da cooperativa e organizador do dia de campo, Chico da Capial vê com entusiasmo o retorno do algodão em solo alagoano. “A Capial incentivou os agricultores para que fosse feito o plantio e, hoje, Alagoas tem 170 hectares de algodão com bom porte. Esperamos uma grande produção nesta primeira safra. É importante que os agricultores do estado de Alagoas tenham conhecimento da revitalização da cultura do algodão com preço garantido”.

O gestor quer que a produção de algodão em Alagoas salte de uma área de cultivo dos atuais 170 hectares para futuros 50 mil hectares. “Contamos com o apoio do Governo do Estado, dos bancos financiarem nosso produtor, de assistência técnica, e para isso, contamos com a Unicafes. Alagoas já foi uma grande produtora de algodão, fabricando ração e caroço e hoje não temos nenhuma, então a expectativa é de trazermos a indústria, fazer um farelo mais barato para criadores, óleo para biodiesel e a pluma do algodão para fabricação têxtil”, destacou.

Presente no dia de campo, diretores da indústria Peixoto Gonçalves, explica que a ampliação do mercado para Alagoas vai permitir que se tenha acesso a matéria-prima de qualidade em um local mais próximo à indústria,o que vai reduzir os custos da produção e, em contrapartida, eles garantem comprar o algodão com preço justo para o agricultor, gerando um ciclo positivo para toda a cadeia.

 

Dia de campo debateu as possibilidades para a ampliação do plantio no estado
Dia de campo debateu as possibilidades para a ampliação do plantio no estado - Foto: Vinícius Rocha
 

“A Peixoto Gonçalves tem uma história antiga em Alagoas, já comprávamos algodão aqui até que houve uma praga de Bicudo e parou e, há um ano, nós voltamos a incentivar junto à cooperativa a produção para os agricultores familiares. Estamos nos primeiros passos, então estamos vendo a primeira colheita de algodão”, resumiu Peixoto.

Lázaro Martins, diretor operacional da empresa, explicou que foram realizados estudos junto à Embrapa para encontrar uma semente que se adequasse ao clima do semiárido alagoano e que agora a expectativa é de que a produção cresça gerando emprego e renda para os produtores.

“Nós pesquisamos por quatro anos qual seria o algodão que seria melhor para nossa região e depois da introdução do produto, nós aguardamos os incentivos dos entes públicos e privados nas questões financeiras, de tecnificação, complementos e insumos, até a parte da colheita e tudo isso será discutido, desenvolvido para termos um algodão de excelência aqui no estado”.

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Algodão, José Renato Cortez, lembrou que o Centro de Pesquisa do Algodão foi criado em 1975 e tem dentro de suas incubências a identificação de materiais genéticos que permitam melhor adaptabilidade ao semiárido, citando como exemplo a situação de inverno encontrada em Alagoas.

O aprimoramento genético das sementes para o manejo da cultura, salienta o pesquisador, é importante para que se tenha uma resposta positiva nos plantios. “Nós trabalhamos com a questão da falta d’água no Nordeste como uma questão habitual, então procuramos práticas que permitam que se tenha uma boa produção e viabilidade do produto”, explicou.

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