loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
sexta-feira, 21/11/2025 | Ano | Nº 6103
Maceió, AL
24° Tempo
Home > Rural

Mercado

Crise do leite se aprofunda e Alagoas pode perder meio bilhão de reais ao ano

Considerando a evolução recente da bacia leiteira, estima-se que a produção atual supere 2 milhões de litros por dia.

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

O mercado de leite em Alagoas vive um dos momentos mais delicados dos últimos anos. A combinação entre retração dos preços pagos ao produtor, aumento das importações e custos internos ainda elevados pressiona toda a cadeia, do pequeno fornecedor à indústria. Os dados mostram o tamanho da perda: em outubro de 2024, o litro pago ao produtor alagoano estava em R$ 2,77; hoje, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), gira em torno de R$ 2,20.

A queda, superior a 20%, aliada à inflação, corrói margens, reduz faturamento e compromete a atividade em um estado que já ultrapassa a marca de 2 milhões de litros produzidos por dia. A seguir, a comparação dos preços médios pagos em Alagoas:

Preço do leite ao produtor – AL (Conab)

• Outubro/2024: R$ 2,77

• Novembro/2024: R$ 2,85

• Outubro/2025: R$ 2,21

• Valor atual (média): R$ 2,20

Variações:

• Outubro/2024 » Outubro/2025: –20,2%

• Novembro/2024 » Outubro/2025: –22,8%

A queda nominal é expressiva, sobretudo porque ocorre em um momento de aumento das importações, pressionando o mercado interno. Conforme relatado pelo Sindicato das Indústrias de Laticínios de Alagoas (Sileal) e já apresentado pela Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) à Confederação Nacional da Indústria (CNI), os laticínios brasileiros enfrentam concorrência de países vizinhos que exportam com preços artificialmente baixos, reduzindo ainda mais a competitividade nacional.

Nessa conjuntura, o impacto para Alagoas é direto. O Anuário Leite 2025 da Embrapa mostra que o Estado foi, em 2023, o quarto maior produtor do Nordeste e o décimo do Brasil, com 703,4 milhões de litros ao ano — o equivalente a 1,92 milhão de litros por dia. Considerando a evolução recente da bacia leiteira, estima-se que a produção atual supere 2 milhões de litros diários.

Com esse volume, a perda diária causada pela redução no preço pago ao produtor chega a cerca de R$ 1,3 milhão, quase R$ 500 milhões ao ano. A conta pode ser estimada da seguinte forma:

• Produção estimada atual: 2.000.000 litros/dia

• Queda média no preço (nov/24 » out/25): R$ 0,65 por litro

• Perda por dia: R$ 1.300.000

• Perda mensal (30 dias): R$ 39 milhões

• Perda anual: R$ 474,5 milhões

É quase meio bilhão de reais retirados da economia alagoana — e isso apenas no elo primário da cadeia. O efeito se estende à indústria, ao varejo e aos municípios que dependem diretamente da circulação de renda gerada pelo leite.

O cenário explica a mobilização do Sileal por medidas emergenciais, como a suspensão temporária das licenças de importação, apontada como necessária para conter uma crise que atinge tanto os produtores quanto os laticínios locais. Até as cooperativas de pequenos produtores, que normalmente são menos afetadas por oscilações sazonais, passaram a enfrentar dificuldades para manter suas operações.

Representantes da indústria afirmam que, sem intervenção, a tendência é de agravamento da perda de competitividade. Além das pressões externas, a bacia leiteira alagoana enfrenta instabilidades no comércio de leite in natura com Pernambuco, que deve sofrer ajustes tributários e logísticos. Parte importante da produção local segue para o mercado pernambucano, e qualquer dificuldade adicional pode piorar o quadro.

A seguir, uma síntese dos principais fatores que explicam a crise atual:

• Aumento das importações de lácteos, principalmente do Mercosul;

• Produtos importados com preços artificialmente reduzidos;

• Custos domésticos superiores aos de países exportadores;

• Redução das margens das indústrias locais;

• Queda acentuada do preço pago ao produtor em Alagoas;

• Risco de inviabilidade econômica para pequenas e médias propriedades;

• Incertezas tributárias na venda para Pernambuco;

• Pressões sobre emprego e renda em municípios da bacia leiteira.

PRODUÇÃO DE LEITE EM ALAGOAS (EMBRAPA/IBGE – 2023)

• Produção anual: 703,4 milhões de litros

• Média diária: 1,92 milhão de litros

• Estimativa atual (2025): mais de 2 milhões de litros/dia

• Posição regional: 4º maior produtor do Nordeste

• Posição nacional: 10º

A Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE aponta números menores, de 596,9 milhões de litros produzidos em 2024.

PRODUTORES

Segundo o IBGE (Censo Agropecuário 2017), Alagoas tinha 14,2 mil estabelecimentos rurais atuando na produção de leite, com predominância de pequenos produtores (mais de 70%). Esses números dimensionam a relevância do setor para a economia estadual. A queda no preço atinge milhares de famílias, limita investimentos e compromete a sustentabilidade da cadeia produtiva.

A PRODUÇÃO DE LEITE NO ESTADO

O alerta do Sileal reforça que a crise, embora intensificada pelo cenário internacional, já afeta o cotidiano dos produtores, causando, inclusive, fechamento de postos de trabalho.

Diante desse ambiente adverso, a adoção de medidas de defesa comercial é vista por lideranças do setor como questão de sobrevivência. A pauta agora tramita na Confederação Nacional da Indústria, onde será analisada por especialistas do Coagro.

Apesar do cenário desafiador, o potencial produtivo de Alagoas permanece evidente. A cadeia do leite movimenta centenas de milhões de reais, sustenta milhares de empregos e integra municípios inteiros à dinâmica econômica estadual.

O Anuário Leite 2025 da Embrapa mostra que o Estado foi, em 2023, o quarto maior produtor do Nordeste e o décimo do Brasil, com 703,4 milhões de litros ao ano — o equivalente a 1,92 milhão de litros por dia
O Anuário Leite 2025 da Embrapa mostra que o Estado foi, em 2023, o quarto maior produtor do Nordeste e o décimo do Brasil, com 703,4 milhões de litros ao ano — o equivalente a 1,92 milhão de litros por dia | Foto: DIVULGAÇÃO

Relacionadas