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Combustível

Preço do etanol cai nas usinas e sobe nos postos

Apesar de o preço do biocombustível ter caído 18% nas usinas do Estado, postos ainda não repassam a diferença para o consumidor

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Sem repasse, o consumidor paga mais, o produtor recebe menos e os revendedores ampliam lucros
Sem repasse, o consumidor paga mais, o produtor recebe menos e os revendedores ampliam lucros | Foto: Divulgação

O novo PMPF (Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final), divulgado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) por meio do Ato Cotepe nº 27/2025, reforça uma contradição histórica no mercado de combustíveis de Alagoas: mesmo sendo um dos maiores produtores de etanol do Nordeste, o estado aparece entre os maiores valores de referência do País.

Com vigência a partir de 1º de dezembro, o PMPF do etanol hidratado em Alagoas foi fixado em R$ 5,2725 — valor sobre o qual a Secretaria da Fazenda calcula o ICMS pago pelo consumidor.

Esse número supera os valores adotados em estados com maiores extensões territoriais, maiores custos logísticos e até mesmo em regiões que não produzem etanol. Apenas dois estados terão valores de referência acima de Alagoas: Amazonas (R$ 5,44) e Amapá (R$ 5,41).

O valor de referência, baseado no que é efetivamente pago pelos consumidores nas bombas, também está acima de estados com forte presença industrial, como Minas Gerais (R$ 4,3190) e Paraná (R$ 4,3006), além de regiões tradicionalmente produtoras ou próximas de polos sucroenergéticos, como Bahia (R$ 4,59) e Pernambuco (R$ 4,92).

Mesmo com a redução de preços para os produtores, o valor pago pelos consumidores em Alagoas continua entre os mais altos do Brasil.

Produzindo mais de 400 milhões de litros de etanol por safra, Alagoas deveria, em tese, ter preços mais competitivos ao consumidor. Contudo, o PMPF elevado revela que os valores nas bombas continuam entre os maiores do País.

Comparativo nacional – PMPF (R$/litro)

» São Paulo – 4,10

» Minas Gerais – 4,3190

» Paraná – 4,3006

» Bahia – 4,5900

» Paraíba – 4,2923

» Sergipe – 4,8350

» Ceará – 5,1091

» Alagoas – 5,2725

» Rio Grande do Norte – 5,2000

» Amapá – 5,4100

» Amazonas – 5,4411

Por que o PMPF é tão alto em Alagoas?

O PMPF não é um valor arbitrário: ele reflete o preço médio real praticado nos postos, coletado semanalmente e informado ao Confaz pelos estados. Assim, o preço de referência sobre o qual incide o ICMS — que em Alagoas é de 19% (17% da alíquota interna e 2% do Fecoep) — está elevado porque os postos praticam preços altos, mesmo com a queda expressiva dos custos de produção.

Enquanto o Cepea/Esalq (USP) mostra que o litro do etanol nas usinas caiu de R$ 3,06 em fevereiro para R$ 2,56 em outubro, a ANP revela que o preço ao consumidor subiu de R$ 4,95 para R$ 5,03 no mesmo período.

A diferença entre o valor de origem e o preço final ampliou-se, indicando margens maiores para distribuidores e revendedores — o principal fator por trás do PMPF elevado.

Mais caro, mesmo com etanol nas usinas

O cenário é similar ao que ocorre com a gasolina: mesmo com combustível entregue no Porto de Maceió e com Alagoas sediando um dos principais polos sucroenergéticos do País, os preços finais e as referências fiscais estão acima dos praticados em estados não produtores — evidenciando margens de lucro acima do razoável no mercado local.

A manutenção de preços altos — apesar da queda nas usinas e da crise do setor — compromete a competitividade do etanol frente à gasolina, reduzindo seu consumo e impactando negativamente a produção e o emprego no setor canavieiro.

Queda nas usinas não chegou ao consumidor

Mesmo com a crise no setor, a redução de mais de 16% no preço do etanol hidratado ao longo de 2025 não foi repassada ao consumidor.

Margens elevadas impactam toda a cadeia

Hoje, o etanol sai das usinas a R$ 2,56. Com tributos, o preço para o distribuidor fica em torno de R$ 3,50 a R$ 3,70. No entanto, o consumidor paga acima de R$ 5,00. A margem entre o preço de origem e o valor final supera 40%, indicando um desequilíbrio na cadeia de comercialização.

Além de penalizar o consumidor, essa margem elevada prejudica o setor produtivo, que já lida com custos crescentes e perda de competitividade. Mesmo sendo um grande produtor, Alagoas cobra mais caro que estados vizinhos que sequer produzem etanol em grande escala.

Preço médio do etanol no Nordeste (outubro/2025 – ANP):

» Paraíba – 4,67

» Pernambuco – 4,74

» Bahia – 4,79

» Sergipe – 4,85

» Alagoas – 5,03

Falta de repasse e ausência de fiscalização

A manutenção artificial de preços altos, mesmo diante de custos mais baixos, compromete a competitividade do etanol — combustível limpo e renovável — frente à gasolina.

Sem repasse, todos perdem: o consumidor paga mais, o produtor recebe menos e os revendedores ampliam seus lucros.

Apesar da discrepância entre os preços na usina e nas bombas, nenhum órgão de fiscalização, como o Procon ou a ANP, anunciou medidas específicas para investigar a ausência de repasse ao consumidor final em Alagoas.

A distorção de preços reforça a percepção de falta de regulação no setor de combustíveis no estado. Enquanto isso, o setor sucroenergético — base da economia de dezenas de municípios alagoanos — sofre os impactos de um mercado desbalanceado.

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