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Colheita

Preço do arroz cai e prejudica agricultores alagoanos

Produtor amarga perda de 50% no valor do grão em plena safra; desvalorização inviabiliza o custeio da lavoura, especialmente em áreas irrigadas, e acende alerta para risco de abandono da atividade

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Com produtividade média de 8 a 10 toneladas por hectare, Alagoas avança rumo à autossuficiência, apesar de ainda importar cerca de 80% do arroz que consome
Com produtividade média de 8 a 10 toneladas por hectare, Alagoas avança rumo à autossuficiência, apesar de ainda importar cerca de 80% do arroz que consome | Foto: EMBRAPA

A colheita de arroz no Projeto Boacica, localizado em Igreja Nova, teve início no fim de novembro de 2025 com um cenário preocupante: apesar da alta produtividade, resultado de investimentos em novas variedades e manejo, o mercado apresenta forte desestruturação. Cerca de 300 agricultores da região já iniciaram a colheita, que deve se estender até janeiro ou fevereiro de 2026, mas enfrentam dificuldades até mesmo para vender o produto de melhor qualidade.

Em Alagoas, a rizicultura passa por uma fase de expansão técnica. Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, o estado alcançou mais de 20 mil toneladas na última safra, impulsionado pelo programa Alagoas Mais Arroz. A área cultivada no Baixo São Francisco — entre Penedo, Igreja Nova, Porto Real do Colégio e Piaçabuçu — varia entre 2,3 mil e 2,5 mil hectares, conforme o ciclo e os arranjos produtivos dos perímetros irrigados.

Com produtividade média de 8 a 10 toneladas por hectare, Alagoas avança rumo à autossuficiência. No entanto, o estado ainda importa cerca de 80% do arroz consumido.

Apesar dos avanços, a atual safra é marcada por um colapso nos preços. O presidente da Cooperativa dos Beneficiadores de Arroz do Povoado Ipiranga (Coobapi), Betinho Moura, relata que o valor do alqueire — equivalente a 240 quilos de arroz na casca — caiu de cerca de R$ 400 na safra passada para entre R$ 200 e R$ 220 neste ciclo. “Isso dá menos de R$ 1 por quilo na roça, o que é muito pouco”, alerta.

Mesmo com a produtividade mantida em cerca de 10 mil quilos por hectare, a ausência de compradores tornou-se o principal obstáculo. “A situação é grave e precisa da atenção do governo federal e estadual para que os produtores não abandonem suas atividades”, afirma Moura.

A Coobapi e a Cooperativa Pindorama vêm adquirindo parte da produção dos pequenos agricultores, mas encontram dificuldades para escoar o produto. A desvalorização também atinge o mercado em geral: a saca de arroz, que no ano passado era vendida por cerca de R$ 140, hoje não ultrapassa R$ 70. Em algumas regiões do país, chega a ser comercializada por R$ 48.

A redução de mais de 50% no valor inviabiliza o custeio da lavoura, especialmente nos pequenos módulos irrigados, que dependem de uma comercialização rápida para viabilizar a próxima safra.

Klécio José dos Santos, presidente da Cooperativa Pindorama — responsável pelo beneficiamento e apoio técnico aos rizicultores da região — confirma a gravidade do cenário. “Está muito difícil vender arroz. Por isso, temos dificuldades para estocar o que está sendo colhido”, afirma. A cooperativa tenta dar suporte aos produtores, mas reconhece a dimensão da crise.

Para ele, a única solução de curto prazo seria uma intervenção do mercado. “A saída será uma AGF (Aquisição do Governo Federal), que possa amenizar a situação dos agricultores. Estamos em diálogo com a Conab para mostrar o que está acontecendo em Alagoas. O pequeno produtor está sofrendo, os preços estão muito baixos e não cobrem os custos. Precisamos unir forças com o governo para encontrar alternativas”, defende Klécio.

Caso a produção volte a superar as 20 mil toneladas, como na última safra, o prejuízo potencial poderá ser expressivo. A diferença entre os preços da safra passada e os atuais pode representar uma perda superior a R$ 20 milhões em todo o estado. No Projeto Boacica, onde se concentra a maior parte da produção, o impacto afeta diretamente cooperativas, pequenos produtores e toda a cadeia de serviços envolvida.

Com o avanço da colheita, há o temor de que o desânimo leve à redução da área plantada na próxima temporada. A substituição do arroz por cana-de-açúcar em áreas irrigadas já ocorre em ritmo crescente, e lideranças cooperativistas alertam: a continuidade da produção depende de medidas urgentes de sustentação de preços. Sem isso, os avanços técnicos e produtivos dos últimos anos podem ser comprometidos.

Para Klécio Santos, a saída para o problema seria a AGF (Aquisição do Governo Federal), para mitigar a crise vivida pelos pequenos rizicultores
Para Klécio Santos, a saída para o problema seria a AGF (Aquisição do Governo Federal), para mitigar a crise vivida pelos pequenos rizicultores | Foto: Divulgação
Betinho Moura destaca que a produtividade segue elevada, mas a ausência de compradores compromete a comercialização
Betinho Moura destaca que a produtividade segue elevada, mas a ausência de compradores compromete a comercialização | Foto: Divulgação

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